Conquanto estejas informado a respeito da ação do passado sobre o presente, deixas-te dominar quase sempre por dúvidas atrozes que espezinham tuas convicções, fazendo-te sofrer.
Conjecturas quanto ao esquecimento que acompanha o espírito na reencarnação, e supões que esse olvido, de certo modo se faz obstáculo ao discernimento entre amigos e adversários da tua felicidade.
Seria mais justo que, assim pensas, em momentos de rudes provanças, os centros da memória anterior fossem libertados e a censura que frena as recordações deixasse fluir os rios do conhecimento de modo a agires com acerto.
Confessas intimamente o tormento que te consome por caminhares sem o conhecimento do destino, tendo em vista a ignorância do pretérito, assinalando desolação e dor.
E concluis, apressado, que a reencarnação, em tais bases, não expressa condignamente o amor de Nosso Pai, afirmando que, em ti mesmo não encontras, na memória, os fundamentos que favoreçam a segurança que gostarias de possuir para levares de vencida a experiência evolutiva.
Pensas, e, no entanto, desconheces a mecânica do raciocínio a nascer nos centros cerebrais.
Ages sob impulses desconhecidos, e ignoras a razão deles.
Vives governado por automatismos fisiológicos que te mantés a harmonia orgânica sem lhes conheceres a procedência...
... Vês, ouves, sentes, falas, distingues gostos, no que se refere aos débeis órgãos dos sentidos físicos sem indagações, sem exigências e, todavia, deixas-te conduzir tranquilamente.
Observa a dificuldade que experimenta uma criatura excepcional aprendendo a falar, comer, controlar os movimentos...
Entenderás, então, que se não te é lícito recordar o passado, a outros espíritos mais esclarecidos e fortes que o teu é permitido navegar no oceano das recordações com alguma segurança e naturalidade...
Ao invés de castigo, o esquecimento das vidas passadas é dádiva celeste.
Desejarias identificar os sicários da tua paz e os cooperadores da tua alegria. Examina, no entanto, as afinidades, considera as emoções junto aos que te cercam, medita e conclui com o auxílio do tempo.
Abre, todavia, os braços, a quantos se acercam de ti, procurando envolvê-los nas vibrações do entendimento e da cordialidade, para fruíres afeição e simpatia.
Encontras obstáculos afetivos no lar entre os membros da família e experimentas, não raro, asco senão revolta por aqueles a quem deverias amar nas amarras do sangue.
Reações indomáveis, a se manifestarem como animosidade, alquebram o teu ânimo em casa, levando-te a desesperos e a atritos lamentáveis.
Acalentas, ou és vítima de idiossincrasias(6), senão aversões, por filhos ou irmãos, lutando tenazmente por vencer a força negativa que te assoma na presença deles, sem resultados positivos.
A estada na intimidade doméstica se constitui penoso período, encontrando, todavia, motivos de júbilos sob tetos alheios...
... E desejarias recordar o ontem! ...
Se em ignorância quanto mal que te hajam feito eles os teus familiares, te sentes incapaz de fitá-los, entendê-los, ajudá-los e amá-los, oferecendo-lhes compreensão e simpatia, como te portarias se, na filha revel identificasses antiga companheira que o adultério arrastou, no irmão consanguíneo o destruidor do antigo ninho de venturas que o tempo não consumiu, no pai ou mãe, no filho ou noutro parente o arquiteto da tua ruína ou a vítima da sua sandice?
Esquecer o mal para agir com acerto é luz de amor na lâmpada da oportunidade.
Ignorar os maus para ajudá-los significa ensejar-lhes, com igualdade de condições, ocasião de repararem os males que tenham praticado.
Lutar contra a antipatia, procurando ignorar as causas da aversão representa valioso esforço de libertação íntima.
Considerando a pequenez e a inferioridade moral de quantos se encontram na Terra, o abençoado Hospital-Escola para os recalcitrantes, os Excelsos Promotores dos renascimentos fazem que a mente espiritual mergulhe no olvido, a fim de que as lembranças dos atos infelizes não os enlouqueçam e as evocações abençoadas não os paralisem em recordação insensata ou improfícua.
Jesus, o Egrégio Coordenador da Vida no Orbe, lecionando sobre a necessidade do bem atuante, não poucas vezes exortou ao amor puro e simples com o esquecimento do mal, para que este não se corporificasse em sombra tenebrosa acompanhando nossa consciência. E desejando imprimir com sulcos profundos o ensino sublime, conclamou os que O seguissem a duplicar a bondade em relação aos que nos peçam algo, mandando oferecer a outra face ao agressor para que não fôssemos os promotores do mal ou vitalizadores da impiedade.
E assim o fez por conhecer o abismo que a ignorância da verdade representa e a baliza de luz que significa o amor no caminho da evolução, amor que nos faz esquecer o mal para somente nos lembrarmos do bem...