Quando tropeçaste, supuseste que te faltaram socorros espirituais.
Quando caíste, acreditaste que a bondade celeste se esquecera de ti.
Quando sofreste, pensaste que carregavas imerecido fado.
Quando perseguido, creste que pagavas um tributo injusto.
Quando fruías júbilos, porém, considerava-los como re-sultado do esforço próprio.
Quando desfrutavas saúde, acalentavas pensamentos frívolos que te punham em condição de privilégio.
Quando sorriam venturas e juventude, concordavas com a sabedoria divina.
Quando facilidades tropeçavam nos teus pés, nem sequer te lembraste da transitoriedade daquilo que se detém.
Agora, quando choras, precipitado, impões auxílio, clamas por atenuantes, exiges lenitivos... falas sobre a bondade dos Espíritos Puros que, nessa hora, parecem distantes...
No entanto, não examinaste antes de sofrer os que tropeçara, caíram, sofreram e foram perseguidos, clamando por socorro, esperando também por ti...
Sim, eles sofrem contigo e gostariam de ajudar, porém te distanciaste dos abençoados Numes Tutelares, quando a eles infligiste a dura prova das tuas deserções.
O teu primeiro tropeço não poderiam eles evitar-te.
Levantaram barreiras, estabelecendo muralhas vibratórias, reiteradas vezes, em teu favor. Arrebentaste-as todas a golpes de rebeldia e imprevidência.
A tua queda, adiaram-na eles, ajudando-te, infatigáveis, continuadamente.
Dificultaste-lhes a permanência a teu lado, azorragando-lhes a presença com a desordem e a falta de decoro na conduta.
As dores, as lágrimas, os débitos ajudaram-te eles quanto puderam, a fim de que fossem diminuídos todos...
Nos dias do teu contentamento, às horas da saúde e da juventude, nos momentos da facilidade, atiraste a oportunidade fora e espontaneamente te afastaste deles para a breve viagem de longa volta.
Insistiram contigo, através de mil lições que aproximaram do teu raciocínio Falaram-te pela intuição, em linguagem muda e poderosa.
Volutearam em torno de ti, buscando meios de ajudar-te.
Mantiveram entrevistas, além do corpo denso, nos momentos de parcial desprendimento pelo sono.
Oraram. Sofreram. Choraram.
Não os quiseste ouvir.
Trocaste-os pelo império agradável da volúpia.
Foste viajar para longe do convívio deles.
Sim, os Espíritos Bons não te esqueceram. Tu os esqueceste.
Embora vibratoriamente ainda te encontres longe deles, estão eles perto de ti, aguardando...
Aguça a alma e rala as tuas imperfeições — ouvi-los-ás.
Contam as anotações evangélicas, com riqueza de linguagem, que, instado pelo próprio filho a receber seus pertences e ir para longe gozar, um pai, lacrimoso, compreendendo-lhe o anseio, deixou-o partir. Este distanciou-se da casa do genitor e gozou... até sofrer o convívio de animais em imunda pocilga. Experimentando acerbas dores morais, lembrou-se do pai amigo e, depois de recapitular mentalmente a loucura, juntou os trapos ao corpo trôpego e, ele que saíra sorrindo, ansioso, retornava lacrimoso, sem outro haver senão o tesouro da experiência, ao lar paterno que, embora fosse relegado à distância, sempre o aguardara.
Volta, também, após recapitulares as experiências, ao lar da bênção — onde o dever tem primazia ao prazer — e deixa-te, humilde, banhar de paz, a paz que eles, os teus abnegados Amigos Espirituais, te podem doar.