Emaranhado nos cordéis das próprias limitações, o candidato à Boa Nova gravita em volta de interesses subalternos, mesmo depois de notificado sobre as legítimas aspirações que devem animar o espírito encarnado. E perde ocasiões de serviço precioso, em que poderá agir com segurança, construindo a alavanca que o impulsionaria a alturas morais expressivas.
A linguagem do Cristo, no entanto, não enseja qualquer equívoco. "Buscai primeiro o Reino de Deus e sua justiça — falou, incisivo, o Mestre, — e tudo mais vos será acrescentado’’.
A busca, todavia, entre os homens por enquanto, com raras exceções, resume-se invariavelmente, na perseguição à mordomia dos bens transitórios. "Devo acautelar-me e preparar o amanhã" — afirmam, previdentes, muitas vozes. "Creio e necessito de Jesus, mas a família me impõe deveres de preservar algo para o futuro" — esclarecem, seguros, diversos aprendizes. "Buscar primeiro o Reino dos Céus... mas não esquecer que se vive na Terra" informam, sardônicos, os mais acomodados.
Passa o tempo e as oportunidades de realização íntimas, se transferem sem que se reatem com a segurança que seria de desejar, para uma ação elevada e libertadora.
Animados ao velho desculpismo, no qual ocultam a indulgencia e a própria aceitação da inércia, preocupam-se com o futuro que não passa de um hoje um pouco mais elástico.
Busca-se amontoar dinheiro sem que, no entanto, com ele consiga paz.
Busca-se alimentar vaidades de variada catalogação, e o tempo se encarrega de despojar dos cendais(14) da ilusão.
Busca-se poder, e nele empedernece-se o sentimento.
Busca-se autoridade, falindo, desastradamente, nas diretrizes de aplicação.
Busca-se prestígio social e político, para despertar-se com o caráter envilecido.
Busca-se admiração, fugindo-se a si mesmo.
As buscas não vão além dos vagos e atormentados limites do imediato.
Todos os bens, em primeira plana, pertencem a Nosso Pai, Ele sabe o que mais nos é necessário para o lídimo progresso.
O homem inteligente não se afadiga pelos tesouros que sobrecarregam de preocupações inúteis e não podem ser transportados.
Os valores evangélicos são-lhe meta, as realizações da Terra constituem meios de uso que se consomem, e se empenha na conquista do continente a desbravar do próprio espírito.
Nessa busca — o Reino de Deus dentro de nós — tudo encontra por misericórdia acrescentado.
Quando Teresa d’Ávila, a abnegada mística espanhola, deu início à campanha para angariação de meios, a fim de erguer um mosteiro para ensinar austeridade moral e dignificação cristã às jovens noviças, saiu como esmoleira.
Visitando garboso nobre a quem solicitou auxílio, deste não recebeu a mínima consideração.
‘‘Do que valem Teresa e três coroas? " —, teria inquirido, sarcástico, considerando os parcos bens de que dispunha a lutadora cristã.
Inspirada, no entanto, respondeu a monja: "De nada valem e nada podem fazer Teresa e três coroas, mas Deus, Teresa e três coroas tudo podem" e, buscando o Reino de Deus, seguiu o rumo das suas nobres tarefas, tendo-lhe sido "tudo mais acrescentado".
para o rosto ou para todo o corpo.