Dimensões da Verdade

CAPÍTULO 58

INTELIGÊNCIA E AMOR



Instrumentos de incrível precisão singram os espaços infinitos...

Técnicas avançadas são postas a serviço da inteligência para atenderem aos voos da imaginação exaltada...

Cálculos incomparáveis ampliam os horizontes da Matemática a fim de atenderem às exigências da indagação hodierna.

E o homem, ávido de novos rumos, avança para fora da órbita do domicílio em que se encontra engastado, na Terra, procurando soluções que, no entanto, se encontram nele mesmo, se se dispuser a mergulhar nos labirintos da alma para decifrar os enigmas que o afligem.

Todavia, a inteligência, aplicada na elucidação dos inquietantes quesitos da vida, tem-se divorciado do sentimento para prejuízo do homem mesmo, que se atormenta, cada dia e a toda hora, vítima da própria irresponsabilidade.

É que a chama do intelecto não prescinde do óleo do coração, para arder com a potência necessária à produção de luz e calor, suficientes para manterem o lume da felicidade.

E quando aquele se desenvolve sem o combustível deste, incêndio voraz irrompe na máquina da ordem tudo devorando, tudo destruindo, ou, por falta dos elementos combustíveis, a paralisia tudo condena ao aniquilamento.

Por isso, se a Astronáutica intenta colocar o homem no satélite da Terra ou nos planetas vizinhos, projéteis balísticos são testados, diariamente, em franca ameaça à civilização que os fabrica.

Enquanto belonaves aéreas cruzam os espaços, encurtando as distâncias em nome do conforto e da pressa, radares ultrassensíveis comandam teleguiados que podem destruí-los quando utilizados com outras finalidades.

Cidades flutuantes que competem em conforto e luxo com as grandes Metrópoles de terra, edificadas para o ócio e o gozo, cruzam os mares acondicionando prazer e fortuna; no entanto, sonares ativos favorecem torpedos que as desmoronam, tudo transformando em ferro retorcido e ruína que as águas sepultam...

... E a carreira armamentista se processa em termos indescritíveis...


* * *

Quando o coração se converte ao bem, a inteligência se desdobra em serviço nobre e renovador.

Há dois mil anos já, as mãos de Jesus, atendendo ao impositivo da sua mente excelsa, semeou as estrelas da caridade — filhas do amor — nos céus escuros das consciências, como um sol gentil a adornar de luz o firmamento...

É imperativo consorciar mente e sentimento nas esferas do trabalho, para que a vida se converta, no Orbe, em estância de harmonia e paz.

Para tanto faz-se imprescindível que cada cristão atenda ao programa que lhe compete.

A sociedade tem início na família, e esta começa no indivíduo.

Se o cristão em atividade não dispõe de bastante serenidade para atender às questiúnculas que o surpreendem, com o tirocínio que dele se espera, não está preparado para participar da família ampliada...

Se ingere altas doses de cólera e verte volumosa quantidade de desacato, não pode contribuir para um mundo melhor, uma sociedade mais feliz.

Se reage ao invés de agir, é peça desajustada na máquina do progresso.

A mensagem cristã atualizada pelo Espiritismo é roteiro pacificador, diretriz equilibrante, via de segurança...

Imperiosa ordem, disciplina, obediência às instruções da Boa Nova para resultados salutares, eficientes.

Quem não se domina, é incapaz de dirigir...

Quem não sabe obedecer, não dispõe de valor para orientar...

Por essa razão é necessário harmonizar lucidez da mente com emoção sentimental, para o real equilíbrio.

A paz do mundo é serva da paz do lar, e esta é escrava da paz do homem...

A grande máquina depende de humildes parafusos ou pequeninos minérios que as ajustam.


* * *

Jesus, falando às multidões, utilizou-se das imagens humildes e conhecidas do povaréu; nas sinagogas selecionou expressões compatíveis com o conhecimento dos interlocutores que o inquiriam; diante, no entanto, da empáfia e parvolice, elegeu o silêncio e o trabalho como respostas serenas, inconfundíveis, amando, porém, indistintamente.

E o Espiritismo, que nos traz de volta na atualidade, se fala a elevada linguagem da Filosofia e da Ciência, atendendo às imperiosas questões do momento, também repete a singela linguagem que é roteiro para todas as épocas: "Fazei a outrem o que desejardes que outrem vos faça", exaltando o amor ao lado das conquistas valiosas da inteligência.