No Limiar do Infinito

CAPÍTULO 15

SOBREVIVÊNCIA E INTERCÂMBIO



Comunicações espirituais A importante questão da imortalidade da alma encontra na comunicabilidade do Espírito o seu corolário, a sua confirmação indiscutível. Sem uma não se pode asseverar como legítima a realidade da outra. Termos da equação fundamental da vida se completa, a primeira no desdobramento da seguinte.

Constituída a vida humana pelo elemento essencial que é o Espírito, os sucessos que se denominam como nascimento e morte significam etapas de aprendizagem que se abrem e se encerram no currículo de cada existência física, com finalidades definidas a benefício da criatura.

Conduzindo em si mesmo uma anterioridade que se perde nos primevos dos tempos, o princípio espiritual arrola aquisições que o desenvolvem, favorecendo-o na infinita conquista do porvir.

Dormindo no reino mineral, transita para o vegetal onde sonha e transmigra para o animal, no qual sente evolutindo para o hominal em que pensa e ama, a caminho da angelitude em cuja posição frui a felicidade.

Todo esse encadeamento evolutivo, automático, na individualidade humana, defronta com o esforço próprio, a expressar-se dentro das soberanas leis do determinismo que se conforma em linhas decorrentes do livre arbítrio, que estabelece as opções de conquista ou prejuízo até o momento em que as diretrizes de crescimento se imponham pelas determinações sagradas do progresso, que ninguém consegue obstaculizar.

Diminuta na eternidade do tempo e do espaço a injunção de uma existência carnal única, ínfimo diante da grandeza da Criação e da sublime destinação de todos os seres existentes no Universo, esse interregno de uma como de outra vida carnal.


Tal afirmação, porém, a dos renascimentos incessantes, se apresenta à luz dos séculos, a princípio em decorrência da indestrutibilidade do Espírito que não se consome na sepultura, quando se transformam os implementos físicos que lhe serviam

de instrumento para as manifestações exteriores. E esse testemunho imortalista tem sido haurido pela Humanidade no intercâmbio existente entre os homens e os imortais.

Desde períodos imemoriais que a intuição pura e simples do homem primitivo, o concitou ao despertamento em torno da sobrevivência, e, consequentemente, das comunicações do Espírito perenemente vivo.

Adorando os fenômenos da Natureza que o apavoravam, lentamente passou a cultuar a pedra — litolatria —; as plantas — fitolatria —; os animas e objetos — idolatria —; os seres soberanos da criação engendrados pela fantasia — mitologia —; e variedade de seres criadores, pela imaginação — politeísmo — até que lucilasse nas paisagens interiores a presença soberana e única do Pai Excelso — monoteísmo.

Em todo o curso da sua evolução antropológica e religiosa jamais esteve solitário, sem a assistência carinhosa de Numes Tutelares que o inspirassem e de anjos guardiães que o socorressem. Nunca deixou de receber o concurso dos antepassados que retomavam a participar das glórias transitórias da dominação guerreira, dando-lhe sinais e advertências, estabelecendo com o suceder dos tempos às regras próprias para as evocações e os rituais, mediante os quais podia afastar os perniciosos e perturbadores que teimavam por dar prosseguimento aos anseios humanos de que se não haviam libertado...

Aprendeu-se mediante a observação e constatou-se, através da experiência, que a ponte para o intercâmbio entre os dois mundos — o dos encarnados e o dos desencarnados —, se encontra no homem mesmo, a princípio, considerada como dom ou concessão especial até que se constatou ser uma faculdade paranormal, existente em todas as criaturas não obstante a variedade de graus em que se manifesta.

Comprovou-se que a concentração constitui meio eficaz para se abrirem as portas que facultam o trânsito dos desencarnados, no incessante intercâmbio que documenta a sobrevivência e expressa a validade das aquisições morais intransferíveis.

Mediante esse concurso, o dos chamados mortos, fixaram-se as convicções de que os atos moldam os dias futuros, sendo a vida física um período breve, no qual os valores morais estabelecem as diretrizes de gozo e desgraça que surpreenderão os liberados das roupagens carnais.

Sem qualquer dúvida não cessa a vida ante a morte, e aqueles que se amam ou se odeiam, quando se rompem os laços físicos, não se anulam os vínculos profundos que assinalam os sentimentos e ardem no cérebro.

Graças a essa força vibrante que une os seres, aqueles que desencarnam não se olvidam dos que se demoram na retaguarda humana.

Os Espíritos que se aformosearam na faina dos deveres morais, exercitando-se nas disciplinas austeras da honra e do equilíbrio, desfrutam das alegrias que os coroam após as ásperas batalhas do empreendimento fisiológico... Da mesma forma recebem os frutos amargos de uma existência malfazeja, aqueles que defraudaram as concessões da vida, dilapidando os tesouros que se devem para multiplicar, em prazeres infelizes, nos jogos das paixões subalternas a que se entregaram, inermes...

O intercâmbio espiritual entre os homens e os Espíritos é das mais pródigas concessões de Deus, a benefício dos primeiros, vez que, mediante essa comunicação, se haurem forças e coragem para o prosseguimento da vilegiatura com os olhos postos no futuro que a todos nos aguarda.

Anjos, querubins, deuses, todos eles seres espirituais abençoados, se encontram presentes nas páginas gloriosas da História, interferindo na vida e guiando os passos dos homens.

Consultados na condição de condutores dos povos, no silêncio dos santuários do passado, exerceram inegável destaque, graças à sabedoria e probidade de que sempre deram mostras.

Posteriormente se apresentaram a verdadeiras multidões, esforçando-se por despertar e sensibilizar os homens, semiadormecidos ao império do mergulho nas densas vibrações da matéria.

Inutilmente, religiosos imediatistas e inescrupulosos, esquecidos dos seus deveres de conselheiros benignos e condutores do pensamento nos rumos da vida espiritual, tentaram silenciar, através de decretos ardilosos e hábeis documentos, as vozes dos Espíritos vitoriosos sobre as conjunturas da morte.

Fazendo que ardessem em piras vivas, pensaram que, destruindo os médiuns apavorariam os sobreviventes ao túmulo, não conseguindo, senão, dominar alguns homens pelo medo, sem lograrem descoroçoar os imortais.

Arma inditosa de que se utilizam os homens inquietos, a da perseguição, em forma de calúnia ou cárcere, infâmia ou homicídio que buscam legalizar, no pressuposto de que silenciando o homem poderiam destruir as causas matrizes que os acionam e comandam.


Embora todas as armadilhas e artimanhas de que se aproveitaram os maus

seguidores do Evangelho, no passado, jamais predominou o silêncio em tomo da tumba, graças ao acendrado interesse dos Espíritos em esclarecer os homens quanto ao futuro que preparam para si mesmos através do seu comportamento terreno.

São as mães e os pais carinhosos que retornam da sepultura de cinza e pó, a acalentarem e inspirarem os filhinhos débeis, colhidos pelas redes da orfandade; são os esposos saudosos e dedicados que volvem ansiosos, utilizando o correio da mediunidade a fim de noticiarem os acontecimentos novos, sustentando os que ficaram em soledade; são os filhos ternos e afeiçoados que buscam os amores dos familiares; objetivando alegrá-los com as notícias jubilosas da fase nova; são os irmãos dedicados que trazem forças e coragem com que pretendem reanimar os companheiros entibiados e desfalecidos ante o insucesso da morte sempre imprevisto e não desejado... Amigos e conhecidos, mentores e guias abnegados insistem no retorno, conjugando esforços superlativos em benefício dos seus discípulos e companheiros empenhados nas lutas de ascensão espiritual ainda na retaguarda terrena...

Simultaneamente, são os seres sedentos de vingança injustificada entre tormentosas reminiscências e infelizes; aqueles que invejam e não se liberaram da amarga presença da maldade, procurando prejudicar os incautos da Terra; são os inimigos do pretérito e de hoje, que vencidos pelas urdiduras da pusilanimidade procuram desforço, e, utilizando-se da sua situação de invisíveis à maioria dos homens, dão vasa às suas ojerizas e idiossincrasias em longos processos de obsessões lamentáveis com que afligem e se desnaturam...

O amor, porém, é a força que predomina em todos os intercâmbios espirituais.

Mesmo quando a dor galvaniza os corações pelo processo das vampirizações e perturbações obsessivas, perniciosas, luze a prova inequívoca da vida em triunfo, a lição do bem fulgura em tomo, ensinando que cada um são os seus atos, conquistando, a esforço pessoal, felicidade ou desdita, em processo de imantação mental que decorre da afinidade de gostos e interesses vigentes entre uns e outros...

Conforme a sintonia em que cada mente situa as aspirações, vincula-se a outras mentes, consciente ou inconscientemente, dando início ao processo de sustentação ou subjugamento em que se alongam nos intercâmbios de largo porte.

Todo o Evangelho de Jesus se encontra referto do testemunho da vida espiritual em perene triunfo.


Anjos anunciam a Era Nova em que o Senhor vem preparar o "reino dos céus" nos corações dos povos; antepassados ilustres da raça de Israel rompem o silêncio da

sepultura e volvem no momento da Transfiguração do Mestre; Espíritos enfermos e perturbados atendem-Lhe a voz enérgica e Ele mesmo retorna reiteradas vezes a amparar e sustentar os companheiros receosos, que ficaram atônitos após as horas da crucificação e da morte.

Um anjo libera Pedro e deixa-o em condições de dirigir os passos em relação ao futuro.

Quantos outros que vêm vitalizar e auxiliar os cristãos novos nos dias apostólicos, em nome do Senhor?!

Benfeitores Espirituais, vigilantes, advogando as atividades dos pupilos, mantêm a comunhão com os beneficiários do seu afeto em todos os tempos.

Ninguém que se encontre em marcha solitária pelo mundo, esquecido de Deus.

A morte não faz parar a dinâmica da vida.

A disjunção das células, ao impacto da manifestação cadavérica, liberta a essência mantenedora do corpo que é o Espírito, responsável pela estrutura orgânica.

Há intercâmbio de ondas mentais, permuta de experiências entre os libertos do corpo e as criaturas terrenas, num eloquente testemunho de que a alma é imortal e a comunicabilidade dos Espíritos, sua consequência natural do postulado imortalista.

Interessam-se os Espíritos, sim, pelo destino dos homens, dando curso às leis de amor, de justiça e de caridade.

Quando as sombras da morte se abatem sobre um ser querido, coruscam além da treva na escumilha da noite as estrelas prenunciadoras da eterna madrugada, donde voltam os triunfadores do túmulo para cantar as belezas da imortalidade, em convites formosos para a felicidade e a paz que aguardam os que cultuam a verdade e vivem a segura pauta do Evangelho.

Como primavera de bênçãos após o outono da saudade, volvem os imortais ao intercâmbio com os amores que ficaram...


Justiça e misericórdia