No Limiar do Infinito

CAPÍTULO 3

O ESPÍRITO



Nada que justifique na atualidade, as conceituações já ultrapassadas em torno dos Espíritos.

De um lado permanecem, teimosamente, as aferradas negações que decorrem do materialismo, reduzindo o ser, a inteligência, ao absurdo capricho do acaso, e, por consequência, sem caráter de sobrevivência, após o desgaste do turbilhão celular.

No passado, quando os estudiosos da problemática da alma humana lutavam contra o totalitarismo religioso e a ignorância científica, compreendia-se a fixação na ideia negativista em tomo da sobrevivência espiritual à morte do corpo somático, por faltarem às provas que alargassem o tirocínio mental além dos estreitos limites aceitos pela fé ancestral...

Desde, porém, que tiveram início às pesquisas psíquicas, na segunda metade do século passado, mediante a utilização de todo um farto material de laboratório, as hipóteses se sucederam, complexas, sempre, porém, desbaratadas pelos fatos repetitivos que impunham constante e exaustivamente a legitimidade da opinião imortalista.

No momento, graças ao abundante controle de fatos necessariamente catalogados, comparados, estatistificados, passados pelos mais diferentes crivos de eminentes parapsicólogos, sobrepõe-se a hipótese espírita às demais, no báratro em que se confundem as correntes de opinião e de interesses subalternos, que insistem tudo reduzir a ondas vibratórias em paulatino caminho da extinção, ou, quando nada, a transformações energéticas incessantes...

Falando-se em campos de energia pura de difícil catalogação, não obstante, pensase negar o Espírito, na sua condição energética quando livre dos implementos orgânicos.


Além dessa desconcertante posição opinativa, permanece a decadente teoria sobre

o Espírito mediante a qual lhe atribuem faculdades divinatórias, fantásticas, sobrenaturais...

Por mais se expliquem àqueles que preferem o conceito fantasioso, quanto à realidade do ser espiritual, de tal forma se encontram suas mentes aferradas às ideias inexatas, que se bloqueiam a razão, não aceitando a claridade da lógica nem do equilíbrio.

Aplicam-se a transferir aos Espíritos poderes e sucessos, responsabilidades e consequências nos acontecimentos da vida, transitando, ainda, pelas faixas da Mitologia, em que se comprazem distantes de uma reflexão libertadora, de uma opção lúcida.

Agradam-se com o "culto externo" e estão sempre aptos a enxertos cômodos nos postulados relevantes, que lhes exigem mudança de atitude mental. Negam-se ao esforço e elaboram conceituações acomodatícias a que se submetem com tranquilidade.

Outros mais, por atavismo incompreensível, em considerando o tecnicismo e utilitarismo da época, detêm-se na informação de que não se devem envolver com "almas do outro mundo", de cujo cometimento sempre se colhem frutos de decepção, quando não de desequilíbrio que domina como loucura irreversivel. São remanescentes das ideologias do fanatismo religioso que se negam atualização da cultura espiritual.

Alguns, ingênuos, permanecem na problemática em termos de que são os Espíritos seres tão imateriais, que, inconcebíveis, catalogam como fantasmas, correspondendo tal atitude aos anseios íntimos. Temem-nos, insistem por ignorá-los e, mesmo instados ao exame da sua estrutura real, supõem-nos coisas, fumaças que ideavam os contos infantis do passado.

A vida, porém, tem no mundo espiritual as suas matrizes. O mundo corporal é materialização pura e simples das construções transcendentes das esferas do Espírito.

A roupagem orgânica é elaborada pelas fixações mentais e ambições morais de cada um, na imensa romagem evolutiva.

À semelhança do corpo, ou melhor, semelhante ao espírito é a fisiologia orgânica, porque este, o ser, possui organização fisiológica obviamente mais complexa do que aquela que constitui a maquinaria física.


Individualidade eterna e personalidade que resulta de cada experiência reencarnacionista por processo automático de ideoplastia inconsciente, fixam-se nas telas da mente espiritual as lembranças, aptidões e ocorrências máximas que

personalizam a entidade, mantendo-a nos padrões em que melhor fixou as finalidades da aprendizagem educativa...

Transfere-se de uma para outra existência a soma das aquisições que elaboram necessidades e promovem conquistas sem privilégios, nem punições.

Quando o homem abandona os despojos carnais pelo fenômeno da morte, transmuda-se de posição vibratória, continuando, porém, integralmente, com o que armazenou e conseguiu, não obstante a ausência das expressões materiais, no sentido de organização somática.

Nem deus, nem demônio.

Nem capacidade mirabolante, sobrenatural de tudo poder, nem tampouco a imprudente tônica demoníaca de a tudo e todos atenazar ou destruir.

Nenhum outro culto, senão o da amizade e da gratidão em orações e pensamentos salutares, também receio de natureza alguma.

São os Espíritos nossos irmãos na marcha da evolução, semelhantes a nós todos, melhores uns a esforço próprio, menos bons outros, atormentados outros mais, desencarnados ou encarnados, sob a guarda e inspiração da divina misericórdia de Nosso Pai.


* * *

És um espírito em labor aquisitivo em prol da própria felicidade.

Tua vida são tuas bênçãos, teus sofrimentos.

Tem em mente que procedes da Esfera Espiritual — a verdadeira — e que a ela retornarás.

Faze desse modo, o melhor que possas no ensejo que desfrutas para promover a ascensão que persegues, deixando na Terra plantadas as sementes de amor e luz, porquanto, graças às necessidades da evolução, a ela retomarás em futuros renascimentos, defrontando amanhã o que hajas ensementado desde agora.

Não te descures, porque ignorar um fato de maneira nenhuma altera a sua legitimidade, qual ocorre em tomo da indestrutibilidade do Espírito, que é imortal.


Dádiva de Deus