Punge a alma vê-los no trânsito das aflições superlativas, que carregam como cangas pesadas que os esmagam lentamente.
Dilacera os sentimentos ouvi-los na plangência das agonias, que explodem em violenta erupção de desesperos incontroláveis.
São eles, os irmãos limitados, os atormentados pelas enfermidades orgânicas e mentais que os estiolam, irreversivelmente. Padecem as injunções dos descontroles da emoção e da fragilidade orgânica, jazendo atados a paralisias e demências entre esgares de dor e rudes pavores nos quais se debatem.
Expondo à visão alheia as doenças que os maceram, estertoram e se comovem, condoendo aqueles que os socorrem e os acompanham nas santas redenções a que se atam...
Todavia, há outros que passam despercebidos, mutilados nos recessos íntimos e se rebolcam em duras refregas que os espezinham numa continuada injunção de amargura.
Poucos lhes conhecem as sombrias paisagens interiores, nas quais se movimentam carregados de frustrações e ansiedades que os comburem. Vezes outras, incapazes de sopitar o exacerbar das paixões que os fulminam, ardem em alucinações que disfarçam a esforço insuportável.
Além deles, os irmãos fundamente golpeados em si mesmos, convocam a atenção os vilipendiados pelas dificuldades financeiras e sociais em lares onde a miséria de largo porte fez morada, quando não se apresentam ferreteados pelo ódio e pela impiedade dos que os recebem nos braços da paternidade revoltada ou da maternidade ultrajada...
sentimento e nas aspirações.
Incontáveis iniciam a jornada nas amarras patológicas, carregando as pungentes chagas congênitas, com que se despedaçam em demorado curso, sem esperança, nem conforto. Portadores de psicoses transtornantes, de alienações que os asselvajam, crivam-se de opróbrios, enquanto agridem e ferem, longe de qualquer condição de recuperarem a normalidade...
Outros, aleijados e retorcidos, experimentam crescente soma de dores que não cessam.
Um número expressivo dá acolhida aos pensamentos subalternos, vitalizando desforços injustificáveis e espalhando miasmas das mazelas que a cada um sobrecarrega de azedume e acidez...
Em contrapartida, desfilam os estetas, quais argonautas deslumbrantes, campeões da beleza e da inteligência, da saúde e da fortuna, desperdiçando forças na inutilidade ou nas batalhas da insensatez, engendrando, alguns, planos inditosos em que se comprazem, fomentando os jogos da usura e os recreios que transformam em algemas de escravidão demorada, colocadas nos próprios pulsos... Outros passam, de vitória em vitória, cavalgando o poder ou esgrimindo os instrumentos que os glorificam: soldados, artistas, literatos que se destacam e enriquecem as galerias de glórias dos povos e das nações.
Milhões que renteiam com a ignorância e que experimentam as tarefas rudes, imediatas, nos campos e cidades, em misteres fortes e exaustivos, enquanto outros tantos se exaurem na ociosidade das praias e balneários refertos, entre inúteis e lúbricos, num festival hediondo de sexo, de tóxicos, de desgastes do corpo e da alma...
Uns nascidos nas imensas megalópoles e outros em furnas primitivas de sombra e barbárie.
Para bilhões, os casebres insalubres das favelas e das palafitas, e para alguns os berços dourados e as rendas de fina tecelagem sob o amparo de criadagem especial...
Centenas de milhões que iniciam a caminhada nos báratros da ignorância e do analfabetismo e reduzido número que frui os benefícios da cultura, das ciências e das artes...
Incontáveis que anelam possuir ou lograr o mínimo do máximo que tantos outros não valorizam, amolentados pelos excessos que os vítimam desde as primeiras experiências na abastança...
Como compreender tão extravagantes quadros que ferem a alma com invisíveis punhais ou que erguem o ser em júbilos nas asas das emoções complexas?
Por que o excesso num grupo de homens e a absoluta falta noutro clã?
Estes possuem haveres e não dispõem de paz, enquanto aqueles gozam de saúde e lhes faltam os bens materiais?
Será crível compreender-se que o Supremo Pai nos haja a todos criado no momento da elaboração do corpo para uma única vida humana, sendo tão variadas as circunstâncias e as contingências?
Criação em grupos separados? Alguns para as expressivas venturas na Terra e as excelsas glórias nos Céus, em detrimento de outros que suportam superlativas misérias que os desconsertam no corpo e na mente, projetando-os para as regiões de supremas desditas espirituais depois?
Homens que se exercitam nas primeiras experiências da razão, em regiões inóspitas, transitando da selvageria para a civilização e cidadãos que desfrutam do conúbio da beleza, da inteligência e do saber, criados no mesmo instante? Que se pode esperar dos primeiros, faltos de tudo, desarmados para as conquistas do espírito?
Constituem uns raças e povos privilegiados desde o começo em detrimento de outros que, milenarmente, são porta de acesso aos primeiros lampejos da cultura da mente e dos sentimentos?
Por que tão aquinhoada uma parte da Humanidade, em esquecimento de relevante número de criaturas primitivas?
Predestinação para a felicidade como para a desgraça?
Não, de forma nenhuma.
A vida do homem não é uma estreita e breve experiência entre o berço e o túmulo. Antes, as duas demarcações, entrada e saída do corpo, representam pórticos de trânsito pela infinita estrada da perfeição que a todos aguarda.
A vida é única no seu caráter de que criado uma vez, o ser espiritual jamais perece.
Os corpos de que se utiliza são indumentárias que lhe facultam a aquisição de labores evolutivos, nos quais adiciona conquistas, retifica erros, sobrepõe-se aos limites das paixões, destrói impedimentos, anula dívidas.
Toda expressão que se reveste de alegria ou de pena se fixa nas raízes que precedem à organização somática.
Toda concessão de felicidade ou desdita se vincula à anterioridade do corpo, facultando ao espírito crescimento e madurez.
Autor do destino, o ser espiritual insculpe, mediante os pensamentos, as palavras e os atos, o que lhe apraz para as conjunturas futuras. Sua meta, através do determinismo das divinas leis, é a perfeição. A dor e a desventura são-lhe o resultado das opções feitas, conseguidas a penates da própria vontade.
A ideia da vida única, de uma existência, apenas, ultraja a suprema magnanimidade do Pai Criador.
Enquanto que a reencarnação desvela Seu amor, Sua justiça, Sua misericórdia de acréscimo...
Fadado à imarcessível luz, sai o espírito das sombras de si mesmo, de reencarnação em reencarnação, para as sublimes claridades. "Nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá", afirmou impertérrito, Jesus.
Pastor abnegado, Ele prossegue chamando e amparando quantos lhe buscam o redil.
Nenhuma preferência por este ou aquele, exceção alguma por quem quer que seja.
Amor até a autodoação por todos.
A sua vida imolada no madeiro da humilhação, que Ele exaltou por todas as vidas, é dádiva para todos aqueles que lhe queiram receber o ensino sublime.
A reencarnação é, pois, necessária para o crescimento do espírito, "criado simples e ignorante", conforme ensinaram os nobres Instrutores da Humanidade a Allan Kardec, neles refletindo-se o amor de Deus em regime de igualdade para com todos os filhos, na irretorquível demonstração de que somos todos irmãos em diferentes estágios de evolução, avançando no grande rumo...
A reencarnação é, portanto, dádiva do amor divino para a felicidade de todos os Espíritos na fatalidade de atingir a glória estelar que nos aguarda.