O trabalho, porém, é lei da Natureza mediante a qual o homem forja o próprio progresso desenvolvendo as possibilidades do meio ambiente em que se situa, ampliando os recursos de preservação da vida, por meio das suas necessidades imediatas na comunidade social onde vive. Desde as imperiosas necessidades de comer e beber, defender-se dos excessos climatéricos até os processos de garantia e preservação da espécie, pela reprodução, o homem vê-se coagido à obediência à lei do trabalho.
O trabalho, no entanto, não se restringe apenas ao esforço de ordem material, física, mas, também, intelectual pelo labor desenvolvido, objetivando as manifestações da Cultura, do Conhecimento, da Arte, da Ciência.
Muito diferente da força aplicada pelo animal, o trabalho no homem objetiva a transformação para melhor das condições e do meio onde se encontra situado, desdobrando a capacidade criativa, de modo a atingir as altas expressões da beleza e da imortalidade, libertando-se, paulatinamente, das formas grosseiras e primárias em que transita para atingir a plenitude da perfeição.
O movimento e o esforço a que são conduzidos os animais e que por generalização passam a ser denominados trabalho, constituem atividade de repetição motivada pelo instinto de "conservação da vida", sem as resultantes realizações criadoras, que facultam o aprimoramento, o progresso, a beleza inerentes ao ser humano.
Enquanto os animais agem para prover a subsistência imediata o homem labora criando, desenvolvendo as funções da inteligência que o agigantam, conseguindo meios e recursos novos para aplicação na faina de fazê-lo progredir.
do abate animal, deixando de ser precárias as condições, assaz primitivas, em que vivia.
Com a utilização dos instrumentos mais aprimorados para a caça, a pesca, a agricultura, a criação de rebanhos, as atividades tornaram-se rendosas, facultando a troca de mercadorias como primeiro passo para o comércio e posteriormente para a indústria, de modo a fomentar recursos sempre novos e cada vez mais complexos, pelos quais libertava-se paulatinamente das dificuldades iniciais para levantar a base do equilíbrio social, pela previsão e recursos de previdência segura, ante os períodos cíclicos de calamidades que sofria com frequência: secas, guerras, enfermidades.
No passado, porém, o trabalho se apresentava para as classes nobres como uma desonra, sendo reservado apenas aos "braços escravos", que se encarregavam de todas as tarefas, de modo a que os dominadores se permitissem a ociosidade brilhante, podendo-se valorizar os recursos dos homens pelo número de escravos e servos de que podiam dispor. Mesmo a cultura da inteligência era transmitida, não raro, por homens ferreteados pela escravidão, e o desenvolvimento das artes, das atividades domésticas encontrava-se em posição subalterna de servilismo desprezado, conquanto indispensável.
O trabalho, porém, apresenta-se ao homem como meio de elevação e como expiação de que tem necessidade para resgatar o abuso das forças, quando entregues à ociosidade ou ao crime, na sucessão das existências pelas quais evolute. Não fora o trabalho e o homem permaneceria na infância primitiva, sendo por Deus muitas vezes facultado ao fraco de forças físicas os inapreciáveis recursos da inteligência, mediante a qual granjeia progresso e respeito, adquirindo independência económica, valor social e consideração, contribuindo poderosamente para o progresso de todos.
Com o irrompimento da técnica, que multiplicou os meios para a atividade do homem, na sociedade, veio inevitavelmente a divisão social do próprio trabalho, criando as classes, hoje, como ontem, empenhadas em lutas terrificantes e crescentes.
benefícios do trabalho de outrem sem a justa retribuição e toda exploração imposta pelo usuário representa cárcere e algema para si mesmo, na sucessão das existências inevitáveis a que se encontra impelido a utilizar.
Do trabalho mecânico, rotineiro, primitivo, puro e simples, à automação, houve um progresso gigante que ora permite ao homem o abandono das tarefas rudimentares, entregues a máquinas e instrumentos que ele mesmo aperfeiçoou, concedendo-lhe tempo para a genialidade criativa e a multiplicação de atividades em níveis cada vez mais elevados.
Sendo o trabalho uma lei natural, o repouso é a consequente conquista a que o homem faz jus para refazer as forças e continuar em ritmo de produtividade.
O repouso se lhe impõe como prémio ao esforço despendido, sendo-lhe facultado o indispensável sustento nos dias da velhice, quando diminuem o poder criativo, as forças e a agilidade na execução das tarefas ligadas à subsistência.
TEORIAS ECONÓMICAS DO TRABALHO E JUSTIÇA SOCIAL - Duas são as teorias económicas do trabalho na estrutura da sociedade: o trabalho-valor que se consubstancia nas teorias de Adam Smith, Jean-Baptiste Say e David Ricardo, que pugnavam pela assertiva de que "o trabalho cria o valor económico" e a outra, a do trabalho-produção, expressa através dos expoentes da denominada Escola Marginalista, que consideram o trabalho como um dos "fatores da produção, cujo valor é medido pelo valor do produto que cria", considerando-se primacialmente a sua utilidade aplicada ao mercado de consumo.
Com a Revolução Industrial e o advento da máquina que modificaram toda a estrutura do trabalho realizado pelo homem, a tese do trabalho-valor sobrepôs-se e foi adotada por Karl Marx, objetivando o trabalhador, nas suas necessidades de reposição do desgaste físico (ou mental), consequência direta e imediata da atividade exercida, sendo, assim, o trabalho, inexaurível fonte de todo o progresso humano.
Com o desenvolvimento das Ciências Sociais e o advento das Entidades Previdenciárias e Assistenciais, o homem passou a beneficiar-se de uma regulamentação legal sobre o tempo de trabalho, horário, remuneração extraordinária e a indispensável aposentadoria, observados os requisitos essenciais, assistência médico-odontológica, pensão para a família, quando ocorre o óbito, invalidez remunerada em estrutura de justiça.
As lutas entre patrão e empregado começaram a ser examinadas com maior equidade, resolvendo-se em Casas de Justiça os graves problemas a que se viam constrangidos os menos afortunados pelos valores aquisitivos, que, em face da permanente conjuntura económica a que se vêem a braços os diversos países, eis que com a moeda ganha sempre se adquire menos utilidades, comprimindo-os até o desespero, fomentando a anarquia e o desajustamento comunitário.
Dividido o tempo entre trabalho e lazer, ação e espairecimento, ampliam-se as possibilidades da existência do homem que, então, frui a decorrência do progresso na saúde, nas manifestações artísticas, na cultura, no prazer, dispondo de tempo para as atividades espirituais, igualmente valiosas, senão indispensáveis para a sua paz interior.
Mediante o trábalho-remunerado o homem modifica o meio, transforma o habitat, cria condições de conforto.
Através do trabalho-ábnegação, do qual não decorre troca nem permuta de remuneração, ele se modifica a si mesmo, crescendo no sentido moral e espiritual.
Por um processo ele se desenvolve na horizontal e se melhora exteriormente; pelo outro, ascende no sentido vertical da vida e se transforma de dentro para fora.
Utilizando-se do primeiro recurso conquista simpatia e respeito, gratidão e amizade. Através da autodoação consegue superar-se, revelando-se instrumento da Misericórdia Divina na construção da felicidade de todos.
TRABALHO E JESUS - Fazendo-se carpinteiro e dedicando-se à profissão na elevada companhia de José, o Mestre laborava ativamente, ensinando com o exemplo o respeito ao trabalho, como dever primeiro para a manutenção e preservação da vida, mediante a atividade honrada. Em todo o seu ministério de amor a abnegação tem relevante papel, verdadeiro trabalho de autodoação até o sacrifício da própria vida, sem paralelo em toda a História. Seus discípulos, a posteriori, fizeram do trabalho expressão de dignificação, tornando-se "escravos do Senhor" e servos de todos, oferecendo o labor das próprias mãos para a subsistência orgânica, enquanto se "afadigavam" na sementeira da luz.
Seu exemplo e Suas lições erguem os escravos que jazem no potro da miséria e dá-lhes suprema coragem no exercício do próprio trabalho através do qual encontram energias para superar as fracas forças, tornando-se fortes e inatingíveis.
Infundem coragem, estimulando o trabalho-serviço fraternal, de modo a manter a comunidade unida em todos os transes.
Ensinam esperança, utilizando o trabalho-redenção, por cujo meio o espírito libra acima das próprias limitações e se liberta das malhas da ociosidade e do mal.
Agora, quando as luzes do Consolador se acendem na Terra da atualidade, encontrando o homem em pleno labor regulamentado por leis de justiça e previdência, eis que soam no seu espírito as clarinadas do trabalho mantenedor do progresso geral de todos, utilizando-se dos valores da fé para a construção do Mundo Melhor em que o amor dirima as dúvidas, em torno da vida imortal, e a caridade substitua em toda a plenitude a filantropia, à semelhança do que ocorre nos Mundos Felizes onde o trabalho, em vez de ser impositivo, é conquista do homem livre que sabe agir no bem infatigável, servindo sempre e sem cessar.
"Com efeito, o homem tem por missão trabalhar pela melhoria material do planeta.