"Bem-aventurados os que choram" —, disse Jesus. Nem todos, porém.
A ira indômita, quando não logra atingir o alvo contra o qual investe, explode em choro convulsivo.
A inveja inditosa, irradiando a vibração deletérica, não se detém, e irrompe em lágrimas abundantes.
O ciúme irrefreado, açoitando o coração invigilante, derrama lágrimas ardentes.
O ódio, que se volta virulento contra os que lhe tombam nas ciladas, ferve em lágrimas comburentes.
As paixões inferiores, preferindo as situações perniciosas, extrapolam os estados íntimos, exteriorizando-se em choro de revolta e azedume com que diminuem a insânia das causas donde se originam...
Há lágrimas que não traduzem humildade nem esperança.
Choros que fomentam vinganças ultrizes e engendram males de largo curso.
Jesus reportou-se, sem dúvida, àqueles que choram sob o açodar das injustiças humanas, sem qualquer rebeldia;
àqueles que sofrem as contingências afligentes, sem acalentar os sentimentos de vingança; aos que expungem os débitos pretéritos, sem desespero ;v aos que sentem a alma pungida, e no entanto, transformam a agonia lacrimejante em esperanças estelares; aos que, padecendo, não infligem aflições a ninguém;
àqueles que, perseguidos, jamais se deixam consumir pelo desejo do desforço; aos que, esfaimados e sedentos de amor e paz, laboram pela felicidade do próximo...
... Estes serão consolados.
O choro é reação do sentimento, da emoção, nem sempre credor de respeito e solidariedade.
Por isso, bem-aventurados todos os que choram, tocados pelo espírito do bem e da misericórdia, sofrendo para não fazer sofrer, burilando-se sem macerar ninguém, porquanto, assim, serão realmente consolados.