O comportamento utilitarista estabeleceu, no gozo, a razão da vida humana.
Fundamentados na paixão narcisista e apoiados pelo egoísmo, os hedonistas de todos os tempos sustentaram a tese do prazer como a única portadora da realização plena da criatura.
Descendentes de Epicuro, promoveram a afirmação dos interesses imediatos, centralizando-os no prazer e na posse, como capazes de propiciar a felicidade, enquanto os dicípulos de Diógenes, apoiados no comportamento cínico, ensinaram a indiferença pelos códigos da ética, das leis, da sociedade, numa alucinada colocação de liberdade, mediante a qual, abusiva, seria possível conseguir-se a felicidade.
Variando de escolas e mudando de roupagens literárias, a filosofia da felicidade tem sido um disparate constante, no báratro das humanas aspirações, graças à óptica infeliz dos que a consideram do ponto de vista meramente material.
Indiferente à posição epicureia quanto à situação sustentada pelo hippieismo, a felicidade dispensa atavios e complexidades elaborados pelos pensadores que não lograram a própria realização.
Estes são detentores de poder e fortuna, não obstante atormentados e insatisfeitos.
Esses nada possuem e deambulam nas estradas ínvias do mundo, sem liberdade íntima nem paz, embora com movimentos e ações descomprometidos.
Aqueles cobiçam e lutam, triunfam, mas permanecem irritadiços e violentos.
A felicidade independe de posturas e situações, sendo um estado interior, resultante de largo trabalho de renovação moral e ação enobrecedora que se apoiam numa fé raciocinada, qual luz na sombra densa, apontando o rumo com segurança.
Examinada, apenas, do ponto de vista terreno, a felicidade, pelo breve trâmite carnal, não tem qualquer significado, permanecendo como capricho dos sentidos...
Somente quando o homem projeta o pensamento para a vida espiritual é que a felicidade adquire significado real e se corporifica. Aprende a renunciar e a servir, substituindo os velhos padrões comportamentais e os clichês mentais cristalizados, por novos conceitos e atitudes, nos quais estrutura as aspirações e se emula à luta vitoriosa.
Ante a dor não se rebela; sob ofensas não se entibia; diante de incompreensões e necessidades, não desanima; nas circunstâncias desagradáveis e nas carências, não se revolta, superando os fatores negativos permanecendo na paz da consciência reta e do coração tranquilo.
— "O meu reino não é deste mundo" — afirmou o Mestre, deixando entendido que, no mundo, o homem somente tem aflições, por ser a Terra uma Escola de renovação, disciplina e progresso paulatino, portanto, onde não se pode, por enquanto, encontrar a felicidade, estabelecendo-se, porém, aí, as bases para conquistá-la logo depois, além dos limites materiais.
Abre-te ao amor, à ação do bem, e a luz da felicidade clarear-te-á por dentro, propiciando-te realização plena.