Essa tendência perturbadora para fazer-se o que se não deve em detrimento daquilo que é correto e ideal, remanesce na criatura humana como efeito das experiências primevas do processo da evolução.
As reações intempestivas que irrompem com violência no ser, quando contrariado, gerando desequilíbrio e deixando rastros de desespero, têm origem no instinto de conservação que ainda predomina em a natureza humana.
A propensão para o mal que não se deseja praticar e, muitas vezes, sobrepuja no comportamento, sendo responsável por lamentáveis consequências que poderiam ser evitadas, procede dos impulsos automáticos que permanecem, não sendo racionalizados pelo Espírito.
Essa natureza animal, que prevalece durante o ministério da reencarnação, é característica das necessidades do desenvolvimento das potencialidades espirituais que se experiênciam, ao longo da evolução, trabalhando os mecanismos que as libertam, assim facultando-lhes o desabrochar.
Desse modo, o crescimento moral se realiza mediante etapas sucessivas que proporcionam a superação dos diversos fenômenos existenciais necessários, que se demoram por alguns períodos, logo depois ultrapassados.
As sequelas, deles decorrentes, prosseguem por largo tempo na condição de atavismos que se repetem automaticamente, produzindo mal-estar ou conduzindo a aflições.
Avançando, da inconsciência em que permanece por indeterminado e longo período de tempo, para a consciência que lhe abre as portas da percepção para o divino que nele existe, o Espírito se agrilhoa demoradamente, sendo-lhe necessário investir um grande esforço, a fim de romper as algemas vigorosas.
O embrião vegetal rompe o perisperma que o guarda em germe, vencendo as pesadas camadas do solo em que se encontra sepultada a semente, atraído pelo tropismo da luz.
Ascende no rumo da fonte de energia e engrandece-se, porém necessita do apoio da terra em que se fixa a planta, desenvolvendo todas as potencialidades que lhe permanecem adormecidas.
Não seja de estranhar, que ainda permaneçam no Espírito em crescimento para Deus, as fixações ancestrais decorrentes das experiências por que passou, retendo-o ou dificultando-lhe a ascese.
Mediante esforço bem-direcionado e constante, são vencidos os impedimentos, e os atributos de sublimação rompem o cárcere em que se demoram retidos, facultando o alcance da plenitude.
Em todos aqueles que aspiram a autorrealização, ultrapassando os limites nos quais se aprisionam, a força da retaguarda compete com a atração da Grande Luz.
Por essa razão, afirmava o apóstolo das Gentes, conforme escreveu em Romanos
A origem do mal encontra-se no uso irregular do livre-arbítrio que, nos primórdios da evolução, ainda sem o direcionamento da consciência, elege experiências perturbadoras, aprendendo, desse modo, a selecionar aquelas que proporcionam paz e alegria de viver, em vez daqueloutras que facultam as sensações agradáveis, mas de efeito perturbador.
A medida que o Espírito se liberta dos impulsos iniciais dos instintos e desenvolve a inteligência, consegue entender quais os valores que o enriquecem, selecionando-os e elegendo-os, de forma que o mal nele existente se vai transformando em bem real que o induzirá sempre a maior crescimento no rumo da plenitude a que aspira.
Desse modo, o mal é relativo e faz parte dos mecanismos existenciais, sendo, portanto, uma experiência iluminativa, a princípio grotesca e agressiva, transformando-se em reminiscência que sempre adverte no momento da decisão de qual o caminho a percorrer.
Em razão disso, costuma-se dizer que, muitas vezes, um mal transforma-se em um grande bem, caso o indivíduo possa dele retirar a melhor parte, aquela que lhe proporcione satisfação e sabedoria.
A questão fundamental, na ocorrência do mal, diz respeito a maneira como seja enfrentado, procurando-se evitar-lhe a fixação no comportamento que se transforma em hábito infeliz.
O conceito do bem, por sua vez, deve ser examinado fora do âmbito do egoísmo de cada pessoa, porquanto aquilo que, muitas vezes, é considerado como bom e próprio, porque favorece o interesse pessoal, em realidade decorre do mal que proporciona a outrem, transformando-se, mais cedo ou tarde, em dano, aflição, realmente um grande prejuízo.
Assim, as más inclinações são inerentes aos seres que ainda transitam da animalidade para a sua humanidade, prelúdio da sua ascese a espiritualização que os aguarda.
Na esteira do progresso, a sabedoria induz a transformação das tendências prejudiciais em aquisições benfazejas, em favor das quais devem ser investidos todos os recursos da inteligência e da razão, desde que a ascensão é inevitável, atraente e convidativa, comprazendo e felicitando.
Não lamentes, portanto, a presença das más inclinações, que lentamente te impulsionam no rumo da aquisição dos sentimentos formosos.
Quem pretende o acume da montanha não pode desdenhar as dificuldades da base em que ela repousa.
Quem se compraz na escuridão, somente valoriza a claridade quando por ela beneficiado.
Caminhando em pleno nevoeiro, o Sol prossegue brilhando, embora o viandante, mesmo beneficiado pelos seus raios invisíveis, não o veja.
A medida que a neblina se dissipa, mais favoráveis se apresentam os recursos que o indivíduo alcança, olvidando-se, logo depois, da bruma que o confundia na região ora vencida.
O mesmo fenômeno acontece com as más inclinações.
Não te detenhas, pois, porque ainda lhes assinalas a presença no teu mundo interior e no teu comportamento externo.
Insiste na sua eliminação, ampliando o campo das tuas conquistas.
Cada vitória, por menor que seja, sobre os impulsos primários e prejudiciais, constitui-te conquista valiosa no rumo da Espiritualidade.
Da mesma forma como não te deves afligir por vivenciar esses impulsos ancestrais, não te permitas acomodar ante as suas manifestações.
Medita e considera a excelente oportunidade de que dispões para o crescimento íntimo por meio do bem, laborando afanosamente pela tua transformação moral para melhor, sempre e incessantemente.
A escada ascensional não possui último degrau, sempre havendo patamares mais altos que aguardam pelos argonautas espirituais.
Jesus desceu até o ser humano na pequenez deste, a fim de que a Sua grandeza servisse-lhe de estímulo para crescer até Ele.
Não te detenhas!