Enquanto envolto pela neblina carnal, o espírita transita, no mundo, cambaleante e inseguro.
Quando iluminado interiormente pela fé religiosa, consegue diluir a névoa que lhe tolda o raciocínio e dá-se conta, lúcido, das responsabilidades morais que lhe dizem respeito, resolvendo-se por vencer os impedimentos a superação das paixões perturbadoras com afinco e integração no programa que lhe diz respeito.
Nesse afã, ressumam-lhe do passado os atavismos negativos e as vinculações infelizes que o retêm na retaguarda, desencadeando-lhe conflitos inumeráveis, que devem ser trabalhados com segurança.
Os impulsos e as manifestações primevas agridem-no, levando-o a reações de beligerância e malestar que o esgotam.
As suas disposições para o equilíbrio e as realizações de benemerência sofrem os camartelos dos hábitos ancestrais e, sem resistências morais bem equipadas de amor e de perseverança, recalcitra e tomba nos velhos hábitos que se repetem, ameaçando-lhe a integridade de propósitos.
Ao empreender atividades promissoras, porque nem sempre encontra receptividade para os seus planos e projetos, desarmoniza-se, rebelando-se contra as dificuldades severas que, afinal, fazem parte de qualquer empreendimento.
Sucede que o processo de libertação de condutas doentias incrustadas no âmago do ser exige continuidade de esforços, tentativas novas, incessantes recomeços até que se transformem os recentes comportamentos em automatismos que substituirão aqueles que estão sendo superados.
Renovação significa mudança.
Muitas vezes, será sobre os escombros dos velhos costumes que se erigirão os alicerces das belas edificações.
A natureza propicia exemplos que não podem ser desconsiderados, dentre os quais: A terra calcinada e árida reverdece ante a presença da água generosa que a penetra, libertando do seio a vida adormecida.
A luz atrai a planta que se beneficia com a sua energia em um fototropismo vigoroso.
O vento trabalha a pedra, e com a ajuda do rio cava silenciosamente vales profundos, ao tempo que modela formas variadas.
Isto porque insistem e perseveram sem cessar.
A tua humana trajetória deve conduzir-te para a plenitude espiritual.
Todo o empenho que apliques na conquista dos valores morais compensar-te-á com a consciência em paz.
O que percas no jogo das ilusões, nunca te fará falta, assim como aquilo que fruas em forma de prazer e de sensação, logo passe o momento, não te constituirá razão de alegria nem de preenchimento interior.
A viagem carnal é uma experiência iluminativa com finalidades definidas em benefício do ser real que é o Espírito.
Os engodos da matéria, às vezes, levam a equívocos lamentáveis e a buscas prejudiciais que geram dependência e desespero.
Mesmo quando essa existência se alonga no curso dos anos, os equipamentos orgânicos desgastam-se, as energias deperecem e chega o momento em que se torna inevitável deixar a carcaça exterior.
É indispensável viver cada momento enriquecido pela esperança e pela alegria, a fim de que as horas passem enriquecedoras.
Assim sendo, quando o corpo físico transformar-se em lama e pó, o Espírito deverá encontrar-se liberto das fixações mentais inferiores e dos desejos orgânicos insaciáveis.
Algumas doutrinas religiosas do passado e do presente afirmam que, nesse momento ou mais tarde, virá o julgamento do recém-chegado ao mundo de origem, que é o causal.
Uma severa corte de nobres togados examinará a folha de ações do liberado e estabelecerá o prêmio ou a punição compatíveis com as realizações de cada qual.
Essa colocação não corresponde a realidade.
Tal ocorrência somente tem procedência nas regiões infelizes da Erraticidade inferior, quando os Gênios do Mal, que se atribuem privilégios e poderes por ignorância, antagonizam-se, perseguem-se e transformam-se em julgadores dos desvios de conduta e irregularidades cometidas pelas criaturas terrenas que com eles mantinham intercâmbio psíquico.
O julgamento ocorrerá por meio da consciência que despertará e fará uma oportuna e justa análise das possibilidades, dos investimentos realizados, das ações prejudiciais e úteis que foram vivenciadas.
Todos trazem a Lei de Deus na consciência, e será essa que avaliará o comportamento individual do ser.
Lúcida, sem os envoltórios da mente ardilosa, responsável pelo ego, passará pelo crivo da justiça os pensamentos, as palavras e os atos, sem margem a equívoco, propondo o resultado final.
Todos os indivíduos em mínima condição de normalidade têm consciência dos próprios erros, assim como dos acertos ocorridos durante a caminhada evolutiva na Terra.
Às vezes, a consciência sofre imposições da referida mente arbitrária ou insana, não obstante permaneça em serenidade, dissipando os enganos até impor-se.
Quando envolta pelos neurônios e submetida às reações eletroquímicas das intercomunicações, muitas vezes permanece impossibilitada de expressar-se conforme lhe cabe em torno das ações humanas.
No entanto, logo que se desenovela da pressão e se libera dos miasmas que a impediam de manifestar-se, assume o seu papel importante.
A consciência pode também ser considerada como Deus na criatura humana.
Esse encontro entre a mente e a consciência do dever é inevitável, dando surgimento a realidade sem sombra que todos enfrentam após a morte física.
Juiz, acusador, defensor de cada Espírito, sua consciência age conforme os arquivos com que se estrutura, aprisionando em remorsos lastimáveis ou libertando com alegrias inefáveis cada Espírito...
Cuida-te, interiormente, arquivando o melhor ao teu alcance na consciência.
Da mesma forma como é inevitável a morte biológica, ninguém se exime após o trespasse do despertar da consciência.
Ama-te, respeitando-te, e agindo de maneira que não te envergonhes de ti mesmo quando submetido ao crivo da consciência.
Age, conforme as diretrizes enobrecedoras do Evangelho de Jesus, e estarás cuidando da tua consciência vigilante, que te impulsionará para a felicidade ou te reterá nos grilhões fortes do recomeço pelo sofrimento.
Onofra.