A fim de serem aplicados no quotidiano existencial, alguns conceitos enunciados e vividos pelo Mestre Nazareno impõem compreensão de sentido e atualidade de significado, em face da sua magnitude sob todos os aspectos considerados.
No Estatuto desenhado e por Ele exposto com incomum beleza no Sermão da montanha, existem graves propostas que constituem verdadeiro desafio para serem vivenciadas em toda a sua pujança, especialmente aquelas que se referem a Lei Antiga, em torno dos inimigos, dos maus e dos antagonistas, examinada sob a óptica dos novos compromissos para com a vida.
Verdadeira revolução, esses conceitos renovadores a priori infundem receio ante a aparente impossibilidade de serem atendidos, de forma que se transformem em base de segurança para os avanços que se pretende conseguir no processo de crescimento moral.
Diante das dificuldades geradas pelos maus e seus aguerridos aficionados, como não resistir-lhes, se eles insuflam o ódio, fomentam a revolta, e a sua agressividade fere os sentimentos mais profundos do ser humano?
Como não resistir aos homens maus que se multiplicam, dominando a Terra?
É certo que a Carta Magna estabelece a normativa do perdão, mas não propõe a vítima a perda da dignidade, antes a enriquece, a covardia moral, ao inverso, propugna pela coragem da fé, a vilania, pelo contrário, induz ao estoicismo...
A não resistência ao mal, de forma nenhuma significa a sua aceitação tácita, como estímulo ao seu prosseguimento e predominância.
Trata-se de uma conduta trabalhada na decisão moral de compreender a ocorrência ou o indivíduo, sem enfrentamentos lamentáveis, de modo que não se derrape no mesmo equívoco daquele que se asfixia nos seus vapores pestíferos.
Para manter-se uma conduta compatível com a mensagem de paz, são necessárias a coragem da fé e a certeza da vitória do bem, na incessante batalha do processo iluminativo.
Quando se é dúbio de conduta e frágil de caráter, facilmente se resiste ao mal e ao homem mau, enfrentando-os com os mesmos equipamentos de violência, tornando-se-lhes semelhante ou mesmo pior do que eles.
Trata-se de um erro lamentável, essa conduta, porquanto a luta, às vezes desigual, em face do estágio de evolução de cada um dos litigantes, somente gera desastres e vitalização da desordem, do crime, da perversidade.
Somente o amor é possuidor da força que transforma o desatino em equilíbrio, reorganizando os mecanismos do sentimento humano atribulado.
Qualquer tentativa para competir em brutalidade redunda em desastre mais calamitoso.
Dessa forma, para que sejam implantados o bem-estar, a harmonia, o dever e a lídima fraternidade entre as criaturas humanas, os enfrentamentos tornam-se naturais e mesmo necessários, em razão dos fatores degenerativos que nelas predominam temporariamente.
A atitude daquele que os arrosta, (ou seja, olhar-se de frente sem medo), é que deve ser de compreensão e de paz.
Toda e qualquer mudança de comportamento exige denodo, (ou seja, bravura diante do perigo), esforço e continuidade de ação.
Alterar as paisagens morais do planeta, modificando-lhe a psicosfera ora vigente, é o programa que deve ser executado, mediante o investimento de sacrifícios contínuos.
Isto porque, o inimigo nem sempre é o outro, aquele que pode ser apontado como responsável pelo fracasso de quem luta.
Considerando-se que ele é as imperfeições internas, altera-se o conceito, e o esforço torna-se mais ingente.
Não resistais ao homem mau, propôs Jesus com misericórdia, conforme as anotações de Mateus, no capítulo 5, versículo 39, do seu Evangelho.
Essa diretriz não induz a uma atitude servil ou covarde ante o antagonista, aquele que se compraz em gerar dificuldades, afligindo os demais.
Pelo contrário, constitui-se uma significativa decisão para não malbaratar os valores morais em lutas perniciosas, fratricidas, cruéis.
Resistir seria enfrentar o mau, aceitando-lhe a ofensa, a agressividade, descendo-lhe ao nível de perturbação.
Sempre que alguém resiste, arma-se, revida, gerando uma situação mais penosa, da qual resultam maiores danos.
Na lição do Mestre, surge a mensagem da não violência por primeira vez, como solução eficaz, não se revidando mal por mal.
O homem mau é infeliz, é alguém que perdeu o autodirecionamento e não sabe para onde seguir, atirando-se ao abismo da loucura.
Resistir-lhe com os mesmos instrumentos será piorar-lhe o desatino, empurrando-o na direção de sucessivas desditas.
Havendo perdido a batalha da paz interna, ele já não possui critério de julgamento, objetivo de honradez, motivos para manter-se.
Não lhe resistir a agressão, representa permanecer acima dela, distanciado da sua peçonha, fora da sua onda mefítica.
O silêncio, a compreensão e a compaixão tornam-se recursos poderosos para anular a violência, sem extinguir o violento, para diluir o mal, sem aniquilar o homem mau.
Certamente, é mais fácil revidar, demonstrando força bruta, que não passa de intemperança e agressividade, que é somente irreflexão, aumentando o volume da onda tempestuosa dos crimes que é sempre crescente.
Resistir a tentação e a fraqueza de reagir da mesma forma, de conflitar e de disputar a primazia da violência, é poder não lhe responder a provocação com os mesmos nefastos recursos.
A violência é enfermidade virulenta que se expande com facilidade, em razão da fácil assimilação dos seus fluidos deletérios por parte das vítimas potenciais, que se encontram com disposição para o contágio.
A não violência é o medicamento eficaz, sutil e poderoso que a anula, diluindo-lhe os efeitos perversos.
Em razão disso, aqueles que conseguem não resistir ao homem mau, tornam-se bem-aventurados.
Jesus não resistiu a traição de um discípulo, a negação de outro companheiro, a deserção dos amigos, a prisão infamante, ao julgamento arbitrário, ao flagício impiedoso e covarde, a cruz e a morte...
Porque assim agiu, não resistindo aos homens maus, conforme eles gostariam, ressuscitou do túmulo de sombras em triunfo incomparável, permanecendo o maior exemplo de coragem e de amor da Humanidade em todos os tempos.