Hercúleo desafio é aquele que induz o ser humano a conquista da paz.
Esse empenho e futuro logro resultam de uma decisão consciente estruturada nos interesses superiores do Espírito, que busca a integração com a Consciência Cósmica, no afã de se aurossuperar.
Defluente da vitória sobre as más inclinações, que são substituídas pelos valores ético-morais, esse trabalho de renovação da conduta exige dedicação incessante, de modo que uma nova natureza se lhe aposse, modelando-lhe as aspirações e o comportamento.
A realização da paz íntima dá-se mediante o exercício de ações dinâmicas e lúcidas que trabalham as tendências violentas, transformando-as na sua constituição e operando novos condicionamentos, que o induzem a incessante labor de renovação para melhor, sem cansaço nem desesperação.
A pessoa que se esforça para se tornar pacífica tem pela frente muitas lutas e refregas, considerando-se o atual estágio que a Humanidade atravessa, caracterizado pela violência, pela agressividade e pelas paixões dissolventes que ganham campo no comportamento geral aceito sem muita discussão.
Em todo lugar apresentam-se os atentados a paz, a ordem, ao dever, gerando conturbação e desequilíbrio, de tal forma que o volume das aberrações e monstruosidades transforma-se em um peso emocional muito grande na conduta coletiva, estressando e deprimindo os temperamentos mais vulneráveis, enquanto outros se atiram no sorvedouro do desespero.
A violência se arma de ódio e incendeia guerras de destruição, enquanto a paz desarma o indivíduo, fortalecendo-o para não temer com situação alguma e confiar sempre no triunfo que conseguirá mediante a incessante busca do bem.
Nessa disposição, não se submete a imposições perversas, e embora a sua seja uma atitude de resignação, não cede, abandonando o ideal abraçado, mesmo quando sob ameaças e dores excruciantes.
A coragem da fé concede-lhe resistência para não recuar nem aceitar as exigências descabidas da arbitrariedade.
Somente os caracteres bem forjados conseguem erguer barreiras impeditivas ao crime, ao desamor e a loucura do ódio de maneira pacífica, não entrando nos mesmos combates, mas preservando os seus valores éticos responsáveis pela manifestação da paz no coração.
Supunha-se por muito tempo, que a não resistência ao mal seria anuência a sua mórbida presença.
Nada obstante, não resistir ao mal significa, neste caso, não usar dos mesmos métodos nem de iguais instrumentos com os quais a perversidade e a ignorância investem contra todos e tudo.
Torna-se indispensável uma alta carga de emoção e de compaixão direcionada ao malfeitor, a fim de vê-lo como um infeliz que é, em vez de identificá-lo na condição de perseguidor que se compraz na morbidez a que se entrega.
Essa aparente alegria que o toma, expressa o desconforto que o invade e alucina, demonstrando-lhe a insanidade.
Havendo perdido a direção de si mesmo e desnaturado pela alucinação que o perverte, é mais digno de misericórdia do que de revide, inspirando compreensão, embora os prejuízos que promove, no final de tudo, contra ele mesmo.
O pacifismo é um movimento que se origina no imo do ser humano e se exterioriza em forma de justiça social, harmonia espiritual, equilíbrio moral.
Conquista valiosa do homem e da mulher de bem, a sua bandeira se levanta para indicar rumos de felicidade para o organismo social.
Harmonizando indivíduos que vibram na mesma faixa de ideal, jamais se utiliza de recursos ignóbeis para alcançar o seu objetivo, perseverando na paciência e no amor, cujo calor dissolve as mais grosseiras cadeias do ódio e dissipa as mais densas nuvens do ressentimento.
O pacifista sabe que o seu apostolado é de longo curso, e por isso não investe com pressa, gerando perturbação e impondo-se, porque trabalha nas heranças do primarismo humano de forma que os instintos agressivos sejam transformados em emoções de solidariedade que geram a lídima fraternidade entre todos.
Não se envolve nas lutas corporais, tampouco inspira conflitos para estabelecer-se por decretos ou por meio de outros mecanismos violentos, promovendo, a pouco e pouco, a nova ordem de valores que devem viger na sociedade.
Sofre, às vezes, as consequências da sua opção, jamais revidando conforme agredido, o que não implica aceitar ou submeter-se às perversas proposições que se originam na força e se ampliam mediante a prepotência.
A sua resistência pacífica é silenciosa e resoluta, facultando o estabelecimento da operosa força do poder do amor que aquece as vidas, dá-lhes sentido e apresenta-lhes rumo feliz que deve ser percorrido.
A pessoa de paz não é tímida, embora comedida, porque sempre se encontra onde sua presença se faz necessária, emulando a perseverança no empreendimento libertador.
O pacifismo, portanto, não pode ser confundido com a pasmaceira a que se entregam algumas criaturas receosas e inconscientes de que a luta não pode ser encarada somente sob o ponto de vista da destruição, mas sim pelo empenho persistente para a transformação da sociedade por meio do indivíduo que a constitui.
A paz, portanto, deve e tem de ser conquistada, passo a passo, até se transformar em razão de ser da vida, de forma a ganhar as ruas do mundo, agrupando outros lidadores cujas existências expressem tudo quanto creem, por sua vez, sendo justos, nobres e pacíficos em si mesmos e junto àqueles que ao seu lado convivem.
O ideal da paz é inerente a todos seres humanos, que o devem ampliar por meio da oração de recolhimento, interior da meditação que renova e revitaliza as energias, de rígido jejum a violência, essa cruel opositora do bem.
Viver em paz de espírito, não obstante a agitação, os enfrentamentos, a diversidade dos acontecimentos agressivos, é a mera.
Não permitir que os transtornos de fora perturbem o equilíbrio interno.
A semelhança de uma lâmpada acesa na escuridão, que atrai os viandantes perdidos e os orienta, a pessoa de paz é referência para aqueles que estão aturdidos e se lhe acercam, banhando-se com as suas energias enriquecedoras.
O pacifismo vem de Deus e lentamente dominará toda a Terra, se os pacíficos prosseguirem intimoratos, (ou seja, destemidos), e confiantes até o fim.
Disse Jesus: Deixo-vos a minha paz, a minha paz vos dou, não como o mundo a dá...
Conforme anotou o evangelista João, no capítulo 14, versículo 27.