O sono fisiológico, muito propriamente denominado como um estado de morte, por propiciar o torpor das faculdades pensantes e fazer desaparecer a aparente realidade do mundo objetivo, faculta ao Espírito um parcial desdobramento, no qual se movimenta além dos limites corporais.
Conforme as suas inclinações, desejos e hábitos, tão logo sente afrouxarem-se os liames perispirituais, o Espírito desloca-se para os lugares onde encontra respostas para as necessidades cultivadas.
Mediante automatismos de sintonia da faixa vibratória na qual se localiza durante o estado de lucidez física, transfere-se sem qualquer esforço para outra equivalente, graças ao clima psíquico no qual se compraz.
Normalmente, nesse estado, encontra-se com Entidades que fazem parte do seu conúbio habitual, com elas se comprazendo, ou temendo-as, de acordo com o estado evolutivo que lhes seja peculiar.
Da mesma forma, vai conduzido por esses comensais da sua simpatia às regiões nas quais se homiziam com outros semelhantes, ou agem no bem, afeiçoados ao programa da solidariedade e do progresso da Humanidade, conforme a evolução dos mesmos.
Ao retornar ao corpo, nos neurônios cerebrais, na área da memória, são impressas as cenas vividas ou vistas, decorrentes dos pesadelos, sonhos e fenômenos mediúnicos transcendentes, podendo ou não recordar34 se, de acordo com o estado de desprendimento em que vive.
Sem qualquer dúvida, durante o sono fisiológico, natural ou provocado, especialmente na ocorrência do primeiro, o ser espiritual participa da vida estuante e causal, de onde todos procedemos e para a qual todos retornamos.
A vivência diária, geradora da psicosfera própria a cada um, faculta a sintonia equivalente, graças à qual o desprendimento ocorre com naturalidade, submisso ao mecanismo das ocorrências afins.
O apóstolo Paulo, em decorrência dos seus extraordinários sacrifícios pela causa do Cristo, não poucas vezes foi arrebatado ao terceiro céu, região superior de onde hauria a inspiração e as forças para o ministério e apostolado.
Maomé, em parcial desprendimento, foi conduzido a uma Esfera Superior, a fim de confirmar a imortalidade da alma, de onde retornou, transformado.
Afonso de Liguori, enquanto dormia, em Arienzo, deslocou-se em Espírito até Roma, assistindo à desencarnação do Papa Clemente XIV.
Dante Alighieri conheceu as regiões inferiores conduzido por Virgílio e vislumbrou as paisagens celestes sob o amparo de Beatriz.
Voltaire, em momento de lúcido desdobramento pelo sono fisiológico, compôs todo um canto de sua obra Henriade.
Tartini, igualmente em desdobramento parcial do corpo, escreveu a emocionante Sinfonia do diabo.
Eurípedes Barsanulfo, o apóstolo sacramentano, deslocando-se com facilidade enquanto o organismo repousava, socorria doentes, gestantes e necessitados...
É expressivo o número de médiuns que, em desdobramento espiritual, atuam conscientemente, participando de experiências extracorpóreas, ou cooperando com os mentores em tarefas socorristas, ou aprendendo comportamento, ou iluminando-se pelo conhecimento, de cujas experiências volvem com plena lucidez.
Não é indispensável que a consciência do fenômeno permaneça como condição essencial para a ocorrência.
O conhecimento dos mecanismos da vida espiritual, o exercício de desapego às paixões mais grosseiras, a preparação mental antes do repouso através da oração, a irrestrita confiança no amor de Deus e a entrega tranquila aos próprios Guias Espirituais, permitem que as horas do sono se transformem em realizações edificantes para si mesmo e para o seu próximo.
Cultivada, mediante os recursos da moral salutar, da dedicação ao bem, essa faculdade psíquica enseja abençoado intercâmbio mediúnico, graças ao qual se ampliam os horizontes da vida, embora a permanência na roupagem carnal.