Anotas, angustiado, as ocorrências afligentes da existência e não podes sopitar as exclamações de pessimismo, considerando-te desditoso.
Referes-te a enfermidades dilaceradoras que te alcançaram durante a existência física e arrolas os sofrimentos morais que te surpreenderam, inúmeras vezes, aturdindo-te e desencorajando-te.
Registras soledade nos momentos ásperos, como se a tua vida não tivesse qualquer significado para aqueles que te cercam no grupo familial ou social no qual te demoras.
Consideras as ingratidões que te feriram a alma, reiteradas vezes, partidas de pessoas às quais brindaste afeto, enriquecendolhes as horas de devotamento, de bondade e de alegria.
Muitas vezes, foste surpreendido pela calúnia infeliz que te azucrinou as horas, recebendo a bofetada do descrédito que te não poupou os valores morais íntimos.
Em outras ocasiões, foste surpreendido pela ironia de pessoas simpáticas em quem confiavas, relatando-lhes os limites e problemas, de que então se utilizaram para levar-te à praça da zombaria.
Sentes cansaço; agora acalentas o tédio, a desconfiança, entregando-te à decepção.
Reage e reflexiona com isenção de ânimo.
Esta é a tua cruz de provações.
Todas as criaturas transitam no mundo sob madeiros pesados, que lhes arrebentam as resistências, afligindo-as, amedrontandoas. Todavia, não é esta a finalidade deles, alguns invisíveis, portanto, mais dilaceradores.
Ignoras as dores ocultas do teu próximo, que se encontra atirado sobre catres misérrimos ou imobilizado por paralisias insidiosas, irrecuperáveis.
Não sabes das decepções que asfixiam os portadores do mal de Hansen, da Aids, da decomposição orgânica em vida, nem das macerações da alma, que empurraram para os pelagos da loucura verdadeiras multidões...
A dor, na Terra, ainda é processo expurgador de mil delitos que não foram justiçados e de vícios hediondos que permaneceram ocultos.
A Misericórdia de Deus faculta ao espírito calceta recuperar-se pelo sofrimento, depurar-se mediante a cruz das provações, em cujas traves reconsidera atitudes, programa atividades dignificantes, alça-se ao bem.
Assim mesmo, não são poucos aqueles que, ao invés de retemperarem o ânimo na forja da agonia, deixam-se consumir pelas chamas da revolta, que somente piora a própria situação.
Aberto à Vida está o amor. Todavia, ei-lo vilipendiado no chão da mesquinhez e na promiscuidade do primitivismo.
Possuidor dos recursos de edificação, é posto nos desvãos da delinquência, permanecendo nos porões do vício...
O amor, no entanto, é o hífen de ligação do homem com o seu irmão e com Deus, quando logra permear de vida aquele que se lhe permite penetrar.
Deste modo, se te sentes atado à cruz das provações dolorosas, adorna-a com as flores do amor fraterno, transformando as tuas dores em fontes de esperança em relação ao futuro.
Com resignação dinâmica, supera os momentos mais graves e alegra-te, tendo em mente que dos braços dessa cruz te alçarás mais rapidamente às elevadas esferas da libertação.