Generaliza-se o hábito de adiar realizações, sob justificativas sem cabimento, ocultando-se mecanismos neuróticos da personalidade em processo de destruição do homem.
Neste sentido, as pessoas parecem detestar o tempo e procuram anulá-lo, utilizando-se de fórmulas escapistas, mediante as quais tudo transferem para depois, em um amanhã de difícil logro.
Subitamente, porém, dão-se conta do acúmulo de compromissos a atender, afligindo-se, e, precipitadamente, intentam dar cumprimento ao que já deveria estar realizado há muito tempo.
O velho brocardo que afirma, "o tempo passa", encontra-se decadente, já que, eterno, é sempre o mesmo, sendo as pessoas que o atravessam, qual ocorre com os acontecimentos que nele se manifestam.
Tentar tornar-se insensível ao tempo é fórmula neurotizante, em busca ingênua de ignorar uma realidade iniludível.
Esse mecanismo se manifesta através das fugas psicológicas expressas nos axiomas "passar o tempo", "matar o tempo", qual se este fosse algo indesejável, mortificante, devastador.
Há uma preocupação muito grande em gastar-se ou não o tempo, tornando-o uma coisa de fácil consumpção. Noutras vezes, diz-se "encher as horas", para delas ver-se livre. E são tomadas providências para tal: bebidas alcoólicas, drogas alucinógenas, tabagismo, sexo, desportos variados, jogos, divertimentos...
Antecipando-se, porém, a todas essas escapadas emocionais, o tempo se apresenta imutável, aguardando...
Com isto, não há, conforme pretendem os ociosos e neuróticos, como adiar os mecanismos de ação da vida ou ignorá-los.
Há quem planeje anular os tempos maus através de esperanças que, talvez, não se concretizem, afirmando: mais tarde este panorama se modificará, ou quando eu conseguir um trabalho, ou assim que eu recuperar a saúde...
Não te facultes as transferências de tempo através de fórmulas anestesiantes em relação à atualidade, omitindo-se quanto aos deveres que te cabe assumir neste momento.
O tempo é a tua oportunidade de realização, que deves aproveitar com empenho.
Períodos haverá mais difíceis, nos quais viverás desafios mais severos.
Quem busca viver bem no futuro, desperdiçando o presente, não alcançará esse porvir ambicionado.
Da mesma forma, viver parado nas evocações do pretérito, é maneira inditosa de perder a ocasião e produzir felicidade.
Certamente, o tempo te proporciona variações emocionais curiosas: na dor, uma hora se estende indefinidamente, enquanto na alegria ela tem a celeridade de um relâmpago.
Viver intensamente é a melhor maneira de o enfrentar, quando ele passará a brindar-te uma dimensão agradável, rápida e feliz.
Cria os teus momentos fecundos, vivendo a realidade conforme se expresse.
O presente é a única dimensão que tens ao alcance.
O que sucedeu existe apenas durante o período que o recordes.
O que virá é incerto.
Jesus ensinou-nos esta conduta fazendo tudo quanto pretendia, e emulando-nos a valorizar o hoje em face da sua grandiosa significação.