Multimilenária questão perturbadora, ela permanece na ceifa dos corpos, espalhando angústias, mutilando aspirações, levando ao desvario.
Muitas vezes, paradoxal, adentra-se no lar e rouba o ser saudável, deixando o enfermo; recolhe o jovem, olvidando o ancião, sem qualquer respeito pelas afeições e anelos humanos.
Sorrateira, decepa alegrias, ou violenta, interrompe os planos de vida, assinalando sua passagem com o luto e a dor.
Para entendê-la, surgiram correntes filosóficas que se multiplicaram, debatendo sua realidade, sem conclusão definitiva.
A morte continua, apesar das admiráveis conquistas do pensamento e da inteligência, ameaçando os seres e assinalandoos com os ferretes da frustração, quando se acerca e toma nas mãos alguém que aspirava a continuar na vida física.
Em mecanismos escapistas, a sociedade vestiu-a de aparatos e adornou-a de rituais, em vãs tentativas de modificar-lhe o impacto ou diminuir-lhe o choque.
Solenidades e cerimoniais, longos quão inúteis, são apresentados para anular-lhe o efeito, ou servirem de recurso consolador em memória daqueles que foram arrebatados.
A morte, no entanto, dispensa todas as conceituações pessimistas dos que a consideram como o fim da vida, bem assim as roupagens com que procuram disfarçá-la, brindando com regalias os que seguem na sua barca.
Morrer é somente interromper o ciclo biológico, permanecendo na vida.
O Espírito, que vitaliza a matéria, preexiste e sobrevive a ela, sendo-lhe a causa, a força que a aciona e lhe dá espontaneidade.
A sobrevivência do ser à disjunção molecular pela morte é incontestável.
Em toda parte, e em tudo, ocorrem transformações sem aniquilamento. Da mesma forma, o ser humano, enquanto sua indumentária carnal se modifica sob a ação da adaga da morte, prossegue no rumo do Grande Lar de onde veio.
Pensa com frequência no fenômeno da morte, a fim de te habituares com a ideia e não seres surpreendido, quando a depares em alguém amado ou a enfrentes.
Fatalidade biológica, ela virá, hoje ou mais tarde, e terás que te submeteres ao seu imperativo.
Vive de tal forma, que a qualquer momento te encontres em condições de aceitar-lhe a presença.
A morte liberta aquele que está encarcerado no corpo, cuja existência digna credencia-o à felicidade.
Da mesma forma, conserva aprisionado quem se deixou intoxicar pelos vapores da delinquência, derrapando no crime e na insensatez.
Cada qual sobrevive ao corpo conforme nele se conduziu.
Desse modo, a plenitude futura deve ser exercitada desde a viagem carnal, mediante a conduta mental, moral e vivencial a que se entrega o indivíduo.
Não temas a morte, nem lamentes os que partiram.
Evita a rebeldia e a mágoa diante dela, considerando que somente há vida, embora em níveis vibratórios diferentes e faixas diferenciadas de evolução.
Recorda que o momento culminante da vida de Jesus Cristo foi o da Sua ressurreição, somente possível porque, antes, houve a morte.
Assim, vive, cada instante, libertando-te das paixões primitivas, até ocorrer a tua morte, certo, porém, de que sobreviverás.