Afirma-se, com certo pessimismo, que o ser humano é o único animal que não aprendeu a viver.
A generalidade do conceito peca por exagero, considerando-se as admiráveis exceções a essa regra.
Sucede que o ser humano é, por sua vez, o único animal que pensa, e nem sempre reflexiona antes de agir corretamente, vitimado pelos atavismos defluentes das atitudes enfermiças que procedem das multifárias reencarnações, especialmente quando no trânsito das experiências primárias.
Profundamente marcado por hábitos, insalubres uns, perturbadores outros, todos eles são manifestação dos instintos em predomínio nas fases primevas, os seus reflexos condicionados automaticamente ainda se expressam em prejuízo da razão, que se insinua suavemente no processo evolutivo.
A medida, porém, que se lhe desenvolvem a capacidade do raciocínio, o hábito de pensar com equilíbrio, apresentam-se-lhe novos horizontes propiciadores de ações dignificantes.
Ao mesmo tempo, a contribuição do sofrimento, que lhe trabalha o Espírito, propõe diferentes costumes, que se fixarão como futuros condicionamentos libertadores das paixões grosseiras a que se encontra habituado, ensejando-lhe as alegrias do bem-estar consciente.
Os hábitos constituem fenômenos psicológicos e sociológicos que a boa educação canaliza em favor da saúde integral e do progresso moral do indivíduo.
Em face do estágio em que se encontra, é compreensível que se manifestem com maior frequência os costumes inferiores pertencentes à sua natureza animal, em detrimento da espiritual.
O estudo sério e o interesse pela transformação moral e pela aquisição da harmonia encarregam-se de produzir a mudança do comportamento, fenômeno que ocorre com segurança e relativa lentidão.
Não são poucos os distúrbios de conduta que resultam dos hábitos agressivos, desconfiados, temerários... Em sequência, agridem o organismo físico e perturbam-lhe a estrutura, mediante somatização inevitável, que se transforma em tormento na área da saúde. Assim, o sistema imunológico é vitimado pelas descargas mentais mórbidas, que lhe alteram as resistências, tornando-o vulnerável à agressão de bactérias, vírus e outros agentes de destruição... Instalam-se, em consequência, algumas doenças que poderiam ser evitadas, caso fosse mantida a conduta saudável.
A mudança dos hábitos mórbidos e da acomodação emocional contribui para a renovação e a alegria de viver, proporcionando satisfações indescritíveis que fazem parte do processo existencial.
Enquanto o indivíduo não desperte para a sua realidade de ser integral que é — Espírito, perispírito e matéria — responsabilizando-se pelas mudanças que devem operar em seu mundo íntimo, a fim de modificar o comportamento, ninguém poderá auxiliá-lo no mister, que é exclusivamente seu. Desse modo, a renovação moral é pessoal e intransferível.
A estatística das reações humanas agressivas e perniciosas nos relacionamentos expressa a ideia do estágio evolutivo que predomina entre os indivíduos terrestres.
Conversações obscenas e eróticas, vulgaridades e pessimismo, censuras contumazes e reclamações, observações injustas e perversas, comentários deprimentes e venenosos são os mais comuns, com lamentável exaltação do chulo e do extravagante, nivelando-se as pessoas pelos valores depreciativos e infelizes do primarismo.
O ser humano está fadado à plenitude, e o seu processo de iluminação é inevitável, cabendo-lhe o dever de estruturar-se nos princípios éticos e morais que proporcionam harmonia interior e bem-estar emocional, de forma a sentir-se estimulado pela necessidade do desenvolvimento das faculdades superiores que o caracterizam como herança do amor sublime de Deus.
Esse esforço é impostergável, impondo-se como necessidade para que ocorra a mudança de comportamento, para melhor.
Certamente não será por efeito miraculoso, nem por golpe de sorte ou de ocasião, mas através do esforço combinado entre a vontade e a razão, que oferecem os benefícios de grande importância para a saúde pessoal e a felicidade de viver.
Tendo-se em vista os desafios para a marcha ascensional, o Senhor da Vida oferece a bênção das sucessivas reencarnações, mediante as quais, em cada etapa, o Espírito desenvolve uma faculdade e uma aptidão, ou diversas simultaneamente, a depender dos seus esforços pessoais, superando aquelas negativas e vivenciando aqueloutras saudáveis e libertadoras.
O erro, a ilusão do prazer, os comprometimentos são quase sempre inevitáveis, fazem parte do próprio processo; no entanto, ao percebê-los, devem ser superados e logrados outros patamares, de modo que não interfiram nas ações novas que se devem tornar hábitos edificantes e enriquecedores.
As atitudes renovadas abrem espaço para novas aspirações e futuras conquistas, que aguardam o indivíduo que aspira à paz e ao encontro com a perfeita identificação com os objetivos gloriosos que a vida lhe propõe.
Pensando nessa problemática afligente que transtorna os indivíduos e as multidões desvairadas, elaboramos trinta temas de atualidade, que se referem aos conflitos humanos, às ocorrências sociais, políticas, comportamentais e religiosas, enfocando a necessidade de ser operada a modificação dos hábitos doentios que devem ser substituídos pelos saudáveis.
Analisamos esses fenômenos humanos sob a visão espírita e oferecemos os recursos próprios para a sua identificação e superação do seu jugo mórbido, ampliando a área de conduta daqueles que já compreendem a imperiosa necessidade de transformação moral e de conquistas internas.
Não se trata de contribuições fantasiosas ou utópicas, mas de colaboração racional e significativa, fruto da larga experiência vivencial no trânsito pelas existências pretéritas, de que nos fomos libertando sob as bênçãos de Jesus e dos esforços empregados.
Algumas dessas páginas foram publicadas oportunamente por alguns órgãos da imprensa espírita e profana.
Reaparecem aqui enfeixadas no presente livro, com algumas breves considerações, a fim de manterem a harmonia do conjunto e do tema a que nos propusemos.
Esperamos que possam contribuir em favor da aquisição da harmonia, produzindo hábitos novos, alterados para melhor.
Não se trata de um vade-mécum salvacionista e milagroso, com regras de boa conduta, mas de modesta cooperação de nossa parte, resultado de demoradas reflexões em torno do Evangelho de Jesus à luz da Doutrina Espírita, no seu mais belo e profundo significado.
Salvador, 06 de julho de 2009 Joanna de Angelis