A fé religiosa não se pode apoiar nas respostas da comodidade existencial, permanecendo irretocável enquanto tudo segue o curso das alegrias sem interrupção.
À semelhança de um adorno, permanece rutilante, produzindo alegria e bem-estar, em formosas composições de intercâmbio fraternal e social, desde que as questões graves da jornada se encontrem sob o amparo da segurança econômica e dos relacionamentos de destaque.
Exuberante nas horas de júbilo, também deve encontrar-se fortalecida nos momentos de desafios e de dificuldades. Afinal, a reencarnação tem significados psicológicos e evolutivos muito graves e não somente enseja a conquista das despreocupações e dos problemas que sejam facilmente solucionados.
A verdadeira fé, como asseverou Allan Kardec, é "aquela que enfrenta a razão face a face em todas as épocas da humanidade".
Mas não somente do ponto de vista filosófico, racional, intelectivo, mas sobretudo moral, quando ocorrem as insatisfações e as dificuldades ameaçam o elenco de satisfações do indivíduo.
Mede-se, portanto, a capacidade da fé religiosa pela maneira como são enfrentadas as vicissitudes e recebidas as provações por aquele que a possui.
Ninguém se encontra no mundo físico sem a experiência dos processos iluminativos que são propiciados tanto pelo sofrimento quanto pelas realizações enobrecedoras.
Acreditar em Deus, na imortalidade do Espírito, na excelência dos postulados da reencarnação e permitir-se abater quando convidado à demonstração da capacidade de resistência, é lamentável queda na leviandade ou clara demonstração de que a fé não é real...
Certamente, nos momentos difíceis, os céus apresentam-se plúmbeos, os caminhos ficam mais difíceis de conquistados, o humor se modifica, porém, a irrestrita confiança em Deus permanece como um refrigério interior, uma chama acesa apontando rumo, uma diretriz de segurança para o avanço.
Permitir-se depressão porque aconteceram fenômenos desagradáveis e até mesmo desestruturadores do comportamento significa não somente debilidade emocional que apenas tem fortaleza quando não há luta, mas também total falta de confiança em Deus.
Quando a fé é raciocinada, estribada nas reflexões profundas em torno dos significados existenciais, tem capacidade para enfrentar os problemas e solucioná-los sem amargura nem conflito, para atender as situações penosas com tranquilidade, porque identifica em todas essas situações as oportunidades de crescimento interior para o encontro com a Verdade.
O número, portanto, daqueles que esmorecem ante os acontecimentos desagradáveis e imprevistos - quando sempre deveriam estar na mente esperando-lhes o surgimento! - é sempre muito grande e decepcionante, porque constituído de membros da crença acomodada e gratificadora, sem qualquer responsabilidade em relação aos valores profundos do ser.
Ninguém se reencarna apenas para desfrutar. Quando se acerca da fé, logo percebe que essa luz interior deve ser dirigida para a noite, quando essa acontecer. Utilizar-se, portanto, do recurso renovador e poderoso de que se constitui é o dever de todos quantos ingressam em qualquer escola religiosa, especialmente na abençoada e lúcida academia do Espiritismo.
A fé é tesouro que se cultiva, sustentada pela oração, que se lhe torna a seiva mantenedora, ensejando-lhe o brilho continuamente.
Não coloques a tua confiança nos valores terrenos, nas pessoas, nas conjunturas sociais e econômicas, como se fossem as únicas portadoras de segurança para o teu futuro.
Ele será conforme o vens trabalhando ao largo do tempo e cujo patrimônio se te apresenta, na atualidade, de acordo com as tuas necessidades de evolução, e não como se encontra nas demais pessoas.
Não a utilizes como instrumento de mensuração ao que sucede contigo em relação aos outros, porque cada qual é portador de uma história pessoal única, que lhe assinala a existência com tudo quanto necessita e não de referência ao merecimento.
O mesmo, desse modo, sucede contigo, não servindo de parâmetro para outros que te observam, estimam ou acompanham.
Se a tua é a verdadeira fé, aquela que remove obstáculos, as ocorrências desagradáveis não são perniciosas, mas servem para fazer-te crescer, para que conquistes mais espaço espiritual e enriquecimento interior.
As tuas aquisições atuais, os teus resgates morais servem de base para futuros empreendimentos evolutivos, cabendo-te a santa alegria do ressarcimento dos erros através das silenciosas conquistas da coragem e do valor, avançando no rumo da libertação plena.
Todo aquele que põe a sua confiança e tranquilidade nos valores terrenos, sofre incertezas, inquietações, os efeitos das mudanças inevitáveis na economia, nos relacionamentos sociais, nas amizades, quase sempre de curta duração...
Quando se põe a confiança no Senhor da Vida, a Ele entregandose em regime de totalidade, sem qualquer dúvida, jamais faltam os recursos indispensáveis à felicidade, ao prosseguimento da jornada, à continuidade das aspirações.
Vigia, pois, as nascentes do coração, quando te ocorram surpresas dolorosas, incertezas não pensadas, prosseguindo com alegria no irrestrito culto dos deveres, porque estás sob o comando de Jesus que nunca nos abandona.
Sai, portanto, da janela da tristeza, deixa de ficar contemplando as paisagens da depressão e abre espaço interior para a entrada do sol da alegria, a fim de que sejas aquecido e iluminado, não mais titubeando ou sofrendo desnecessárias aflições.
O conhecimento do Espiritismo liberta a consciência da culpa, o indivíduo de qualquer temor, facultando-lhe uma existência risonha com esperança e realizações edificantes pelos atos. Não apenas enseja as perspectivas ditosas do porvir, mas sobretudo ajuda a trabalhar o momento que se vive, preparando aquele que virá.
É compreensível que diante das preocupações que assaltam a existência humana, coloque-se o indivíduo em uma atitude de reserva, mesmo de tristeza passageira, enquanto resolve o impasse, recuperando logo que se lhe faça possível a alegria de viver e de liberar-se na contabilidade espiritual.
Deixar-se, porém, abater, fazendo um quadro de desconsolo e prolongado sofrimento, constitui demonstração clara e objetiva da sua falta de fé.
A fé, por isso mesmo, deve ser trabalhada, testada, reflexionada, de modo a robustecer-se cada vez mais, não permanecendo estagnada num conjunto de crenças que não resistem ao fogo do testemunho. Dinâmica, é atuante, conseguindo superar as circunstâncias que tem o dever de enfrentar corajosamente.
A fé espírita, desse modo, fortalece-se quando posta à prova, ensejando àquele que a possui satisfações inigualáveis, porque centrada na coragem e no bem fazer.
Jesus deu-nos a demonstração dessa fé que remove montanhas, enfrentando as situações mais graves de que se tem notícia, mantendo-se sempre irretocável, por cujo exemplo demonstrou a sua procedência.
Costuma-se dizer que Ele é o exemplo máximo e que, por isso mesmo, nele são naturais as reservas de coragem e de harmonia em todas as situações.
Sem dúvida, assim é, no entanto, todos podemos fazer o que Ele fez, se tivermos fé, se nos empenharmos em sintonizar com Ele e o Pai, a fim de seguirmos fiéis até a conclusão da jornada.