Atitudes Renovadas

CAPÍTULO 24

A SOMBRA FACE DO ÓDIO



O ódio, esse famigerado adversário do ser humano, é o perverso genitor da vingança que tantos males proporciona à sociedade.

Iniciando-se na raiva, condensa-se em emoções perturbadoras que se convertem em tormentos destruidores de que as criaturas terrestres ainda não se resolveram por banir em definitivo do seu comportamento.

Herança hedionda do primarismo por onde o Espírito transitou em experiências passadas, responde por terríveis males que assolam a Terra.

Guerras e terrorismo, perseguições cruéis e estúpidas, preconceitos e crimes inomináveis são frutos espúrios das suas articulações nefastas.

Nutrindo-se do cultivo dos pensamentos doentios, trabalha os tormentos defluentes da inferioridade moral do indivíduo, convertendo-se em enfermidade grave a devorar igualmente aquele que o cultiva.

O ódio é vírus moral que infecta as pessoas inadvertidas e as domina, tornando-as fatores de destruição onde se encontram.

O seu antídoto é o amor feito de compaixão e de amizade, que constitui recurso terapêutico legítimo para restituir o equilíbrio, a saúde moral.

Quando o ódio se instala nos sentimentos, de imediato se apresenta o desejo de vingança que, de forma alguma, proporciona a reparação do mal que lhe deu origem. No desvario que encoraja, fixa-se o anseio pelo desforço, por ver sofrer aquele que produziu dano ou aflição.

O outro, aquele que é tido por adversário, passa a ser uma figura detestada, sendo vigiada e mentalmente perseguida, sem nenhuma chance de reparação do equívoco, porque o ódio não permite ao infeliz a sua recuperação. Compraz-se em vê-lo sofrer até a exaustão, numa terrível conjuntura de poder desalmado que, nada obstante, torna mais desventurado aquele que pensa estar desforçando-se, porque a sua sede de vindita é insaciável e nada consegue diminuir-lhe de intensidade.

Normalmente, esse atormentado vingador anela pelo desencadear de múltiplas dores e angústias ou de tormentosas mortes que pareceriam aliviar as suas agruras sofridas, infligindoas ao agente do seu padecimento.

Quando se promove a vingança que o ódio engendra, aquele que lhe padece a injunção deseja a destruição do outro matando-se também, o que é profundamente desolador e irracional.

Toda onda de inimizade que se direciona contra outrem responde pelos transtornos que lhe dão origem.

O ser humano encontra-se programado para o amor e para a plenitude.

As dificuldades enfrentadas devem constituir-lhe estímulo para o avanço, com a natural administração das ocorrências infelizes que se lhe elevem transformar em experiências de sabedoria.

A destruição do inimigo a quem se odeia não traz de volta a paz que ele roubou, quando investiu contra o seu irmão.

Constituem exemplos de dignidade e de elevação espiritual as vítimas que não se alegram com as desgraças dos seus algozes, ou que, contribuindo com a justiça, não têm como meta torná-los infelizes, objetivando somente recuperá-los sob as determinações e impositivos das leis que regem a sociedade.


* * *

Quando algum mal te aconteça, pensa de maneira lúcida e tenta descobrir o benefício que podes auferir com a sua superação.

Evita permanecer ruminando o ato inglório, a fim de que se não te fixe, mantendo-te livre da sua mórbida contaminação.

Aquele que, de alguma forma, te gerou embaraço e aflição, é um infeliz, embora no momento não se dê conta, permanecendo na situação de réprobo perturbador.

Ninguém se evade da própria consciência, que aguarda ocasião especial para manifestar-se com a severidade que lhe é peculiar, porque nela se encontra ínsita a lei de Deus que a tudo comanda.

O cão raivoso, por exemplo, que desejas matar, quando ameaçador, passados os anos, debilitado pelas doenças e pela idade, é inofensivo, inspirando compaixão e não mais temor.

De igual maneira, são as criaturas humanas. Esse arrivista perverso e agressivo, soberbo e prepotente, também envelhece e decompõe-se. O tempo toma-lhe a vitalidade da valentia, deixando-o inerme e dependente.

Considera a debilidade dos idosos, suas necessidades inumeráveis e transtornos afligentes, e recorda-te de que, possívelmente, alguns deles foram violentos, perversos, alegrandose com o mal que faziam aos demais.

Odiar esse infeliz de hoje é investir na própria degradação.

A vida é severa para com todos os indivíduos, especialmente para com os seus dilapidadores.

Assim, procura eliminar todos os lances e ocorrências infelizes que te envenenaram o ser e se te impõem como espículos cravados nas carnes da alma.

Tudo quanto ocorre tem uma razão de ser, e somente acontece contigo aquilo que se encontra no desenho reencarnacionista da tua evolução.

Isso não significa que o mal se manifeste e domine nos arraiais dos relacionamentos humanos. Tratando-se, porém, de enfermidade moral de longo curso, o tempo e a luz do divino amor se encarregam de curá-la.

Evita, portanto, cultivar o ódio ou qualquer um dos disfarces com que se apresente, tais como: animosidade, preconceito, repulsa, raiva, prevenção, ira...

Aprende a exercitar a compreensão em torno do estágio inferior no qual o teu agressor se encontra e supera a situação perigosa.

De maneira alguma sintonizes na mesma onda de malquerença com aquele que te prejudica, mantendo-te em atitude equilibrada, porque o mal que te façam, realmente não te fará mal, se não permitires que te afete. Poderão, talvez, criar-te embaraços, dificultando a tua existência, gerando incompreensões em torno da tua conduta, produzindo complexas situações de dor e de angústia, tudo, porém, dentro do esquema do teu processo evolutivo.

Nenhum mal consegue infelicitar aquele que se entrega a Deus e confia na sua justiça, especialmente o que se deriva do ódio, filho também da inveja e do despeito.

Vive-se, na Terra, um momento muito especial de conquistas e de misérias defluentes do seu estágio de transição.

Embora as ciências e a tecnologia hajam proporcionado benefícios incontáveis, o amor ainda não se pôde instalar nas paisagens humanas, o que é lamentável, mas que acontecerá oportunamente.

O ser humano será resgatado pelo amor. Em face disso, o ódio cederá lugar ao perdão e à compaixão, ampliando os horizontes da fraternidade entre todos os seres.


* * *

Após a libertação do campo de concentração e extermínio em Auschwitz, um ex-prisioneiro foi interrogado a respeito do ódio que deveria votar aos nazistas.

Para a surpresa do questionador, ele explicou o sofrimento sentido ao ver serem assassinados sua mulher e filhos, milhares de pessoas inofensivas com perversidade selvagem e invulgar indiferença pela vida, descobrindo que possuía duas alternativas: odiar e morrer fulminado pelo veneno letal ou perdoar para sobreviver e ser útil à humanidade, a fim de que aquele holocausto jamais voltasse a acontecer, como a sua maneira de homenagear as suas vítimas.

Outro que sofrerá humilhações contínuas e punições sádicas, sendo mutilado com crueldade, asseverou que se manteve em paz, para não permitir que a hediondez dos algozes o tornasse igual a eles...

A morte de um inimigo a quem se odeia não eliminará a possibilidade do surgimento de outros...

Somente o amor que proporciona paz interior pode diluir a face hedionda do ódio e apresentar o ser infeliz nela oculto, dando origem à sua felicidade.