Atitudes Renovadas

CAPÍTULO 8

COMPLEXOS E PROJEÇÕES



Procedentes dos comportamentos ancestrais e dos conflitos que se insculpem no Espírito, quando a conduta se fez caracterizar pelos desastres morais, eis que ressumam dos arquivos do inconsciente pessoal as marcas danosas em forma de complexos e projeções da imagem.

E comum, nos portadores dessas debilidades, examinar o próximo como se ele fosse um espelho no qual a imagem própria apresenta-se inversa, refletindo as suas lamentáveis feridas espirituais. Por consequência, as observações sempre representam aquele que se dedica a fazê-lo, ao ver-se em forma oposta ao que pensa de si mesmo.

Assinalado pela culpa ínsita na consciência, é normal que a todos considere como se a ele próprio fora.

Em razão de ser-lhe conhecidas as aflições e distonias, as imperfeições e defeitos, com muita facilidade projeta-os no seu próximo como se lhe pertencessem. Como lhe escasseiam as virtudes, os valores éticos raramente o identificam no espelho em que se mira.

Quando se trata de um ser mesquinho ou atormentado, projeta o seu complexo, inconsciente ou não, de inferioridade, retratando o outro de maneira infeliz, conforme se sente, e não de acordo com a realidade da observação. 46 Quando é pulcro e organizado, admirador da ordem e do belo, vivenciando os valores edificantes, com facilidade projeta-se e identifica noutrem esses conteúdos, embora possa também assinalar algumas das deficiências que ele possui.

Os primeiros sempre assumem a postura de vítimas ou de mártires, quando não aceitos, fugindo para a astúcia com que buscam mascarar os conflitos, tornando-se hábeis na censura e nos comentários maliciosos.

Facilmente comportam-se de maneira contrária à realidade interior, comprazendo-se em exibir as ulcerações íntimas dos outros, o que lhes parece minimizar o autodesamor, os conceitos depreciativos que formulam de si mesmos.

Os segundos, em face de viverem desarmados e afetuosos, não se fixam nas deficiências daqueles com os quais convivem e, quando as detectam, comprazem-se em exaltar-lhes as conquistas logradas, estimulando-os ao prosseguimento dos tentames em busca das vitórias sobre as dificuldades.

Os complexos no comportamento sempre refletem a sombra dominante no ser, que tenta ignorá-la, impedindo-lhe o enfrentamento com o si-mesmo, o que a diluiria facilmente, por incorporá-la à sua realidade. Enquanto assim procede, age como alguém que não considera a necessidade do autoconhecimento para a descoberta dos recursos que facultam o bem proceder, o ser feliz.

Ignorar a sombra, ao invés de evitar-lhe a interferência, mais lhe facilita a influência, a dominação na personalidade.

Em outras circunstâncias, luta-se contra a sua ação vigorosa, como se lhe constituísse adversário que deva ser combatido. A atitude indevida propicia o desperdício de energias, que poderiam ser canalizadas de maneira proveitosa em favor da autoiluminação.

Aquele que assim procede é semelhante a alguém que empurra um objeto que se encontra sustentado por um mecanismo elástico e resistente, que reage a qualquer impulso na razão direta da força que lhe é direcionada.

O êxito seria fácil, bastando que se lhe desmontasse a mola do artefato no lado oposto.

Enfrentar cordialmente a sombra, considerando-a parte integrante da conduta, constitui recurso psicoterapêutico eficaz para diluí-la mediante a integração eixo ego/si-mesmo.

Os complexos, desse modo, revelam-se problemas que se agravam nos caracteres presunçosos, tiranos de si mesmos, disfarçados de honoráveis e retos.

Aqueles que assim procedem constituem elementos perniciosos no grupo social em que se encontram.

São fiscais impiedosos dos outros, censores rigorosos das falhas alheias, que lhes são normais e as arremessam nos demais por se julgarem merecedores da consideração que se atribuem sem qualquer crédito para tanto.


* * *

Sê o companheiro autenticamente gentil com todos aqueles com os quais convives. Não te preocupes com as suas imperfeições e defeitos morais, porque a tua não é a tarefa da fiscalização, mas a contribuição da amizade.

Para tanto, mantém-te sereno, superando os desafios existenciais, particularmente aqueles que fazem parte da tua agenda moral de natureza interior.

O que ora sofres tem raízes no passado. Resolve-te pelo enfrentamento natural, trabalhando a dificuldade e transformando-a em conquista.

Por outro lado, não estimes as pessoas generosas pelo que te podem oferecer, tendo o cuidado de ser aquele que tem o interesse em ofertar.

Evita, porém, quando assim procederes, a postura de benfeitor ou de anjo socorrista, conduzindo-te com a naturalidade que gostarias te fosse oferecida, caso a situação se apresentasse diferente.

Quando te sintas tentado à censura, à crítica mordaz, à reclamação ou à queixa, recorda que o problema não é do outro, mas se constitui uma projeção da tua imagem, manifestação do teu complexo conflitivo que se exterioriza.

Educa a observação para registrar o lado edificante e bom de cada criatura, porque o êxito dos relacionamentos estrutura-se na amizade sincera e desinteressada.

Não te faças a pessoa desagradável que todos suportam, mas não simpatizam, aceitam no seu círculo, mas não estimam, e vão descartando-a delicadamente.

O gesto deles não é perverso nem injusto, mas cauteloso e resultado do cansaço da presença perturbadora.

Todos amam a jovialidade natural e digna sem a bajulação verbal nem as atitudes fingidas que são facilmente percebidas.

Preserva-te como és, esforçando-te para seres melhor.

Evita o elogio inoportuno e insensato.

Cada pessoa digna sabe e conhece o próprio valor, sem que estejas a exaltá-lo a cada momento. E certo que algumas gostam desse comportamento insano, detestando, porém, esse doente que reconhece como hipócrita.

Quando quiseres referir-te aos valores de alguém, não lhe firas a modéstia com exageros de linguagem. Há muitas maneiras de demonstrar-se apreço e respeito por outrem.

Insiste em conhecer esses adversários soezes do teu bem-estar, reflexionando em torno dos teus complexos e projeções.


* * *

Jesus, sempre modelar, utilizou-se das coisas simples para exaltar a Vida e tecer considerações sublimes em torno do reino de Deus.

Nunca se deteve a apontar os erros humanos e, quando usava a linguagem com que analisava os desaires das criaturas, fazia-o genericamente, estimulando aqueles que estavam com eles comprometidos. Tampouco exaltou as qualidades reais ou aparentes de quem quer que fosse.

A todos chamou para o seu rebanho, sem complexo ou transferência de sombra, porque se constituía de luz.

Faze o mesmo, e integrarás a tua sombra no Espírito que és, da Divina Luz gerado.