Constelação Familiar

CAPÍTULO 26

DESENCARNAÇÃO NA FAMÍLIA



A fatalidade biológica nascer, viver e morrer, é impositivo inevitável na existência humana, que não pode ser desconsiderada.

Constituída a organização física, por moléculas que se aglutinam para revestir o espírito no seu processo de crescimento e de iluminação interior, momento chega em que se desarticulam esses complexos, dando lugar ao fenômeno da desencarnação.

Repentinamente, ou de maneira suave, através de ocorrência infausta, ou de processo degenerativo, graças a fatores de desarticulação orgânica, ou envelhecimento com o seu correspondente desgaste, a desencarnação faz parte da vida física.

De maneira caprichosa, arrebata o jovem, deixando o ancião, conduz o saudável em benefício do enfermo, surpreende a todos na eleição daquele que deve transferir para a dimensão espiritual, dando prosseguimento ao seu ministério, nem sempre compreendido.

Produzindo dores acerbas, conflitos de conduta, sofrimentos rápidos ou de demorado porte, ela transita por toda parte, convocando as mentes e os sentimentos a acuradas reflexões.

Quando se adentra em um lar, sempre deixa rastros de angústias ou de alívio, sinais de desencanto ou de perturbação, que se podem converter em alucinações e desaires.

A morte ou desencarnação faz parte do esquema da vida física.

Indispensável que, na programação educacional da família, seja estudada com a mesma consideração com que se examinam as demais questões tidas como de fundamental importância.

O medo da morte, que resulta de um atavismo ancestral em favor da preservação da vida orgânica, merece tratamento natural que elucide a questão dentro dos parâmetros do comportamento saudável.

Participando das conversações domésticas desde os primeiros dias da infância, o educando passa a considerá-la na sua devida função, como um fenômeno de interrupção fisiológica, mas não de consumpção real.

Pelo contrário, muitos pais preferem, no entanto, jamais abordar essa realidade com os filhos, como se com essa atitude estivessem impedindo a sua presença no momento oportuno.

A cada momento ocorrem no corpo físico alterações profundas e manifestações pertinentes ao fenômeno final, quando esse venha a acontecer.

Desse modo, fazendo parte do plano de considerações naturais, a desencarnação deixa de ser um fantasma trágico, sempre à espreita para destruir a felicidade do grupo familiar, para tornar-se um instrumento de transitória separação, em função de uma união perene, quando todos voltarem a encontrarse além das vibrações materiais.

A consciência da imortalidade deve estar presente nas conversações, nos comportamentos domésticos, nos encontros sociais como parte vital dos relacionamentos humanos, demitizando-a, dessa maneira, das tradições da ignorância e da superstição.

o mundo de origem do ser é o espiritual, para onde se retoma após o compromisso na esfera física, que lhe constitui oportunidade para desenvolver os inimagináveis recursos que lhe dormem em latência.

Escoimar das fantasias lúgubres, dos fetiches mirabolantes e dos rituais sem qualquer significado o fenômeno da morte, é tarefa de essencial importância no programa educacional na família e na escola.

Adquirida a certeza da continuação da vida após o túmulo, a morte perde a sua força destrutiva, para assumir uma postura saudável na constelação familiar.

Ao desencarnar alguém no lar, o respeito que envolve o ato das despedidas, a ternura pelo viajor que retorna à Vida Maior, a gratidão pelos momentos felizes experimentados ao seu lado, tomam corpo natural em formosos exemplos de afeto que perdurarão para sempre.

Nem as interrogações tormentosas a respeito da ocorrência, tampouco os brados de revolta e desespero, como se a ocorrência fosse uma exceção no conjunto geral, atingindo apenas alguns em detrimento de outros, antes a compreensão de que a interrupção temporária faz parte do programa de evolução, com o qual todos se encontram comprometidos.

Esse comportamento evitará, sem dúvida, a instalação de diversos conflitos no sistema emocional do educando, preparando-o também para o seu momento, que ocorrerá quando as Soberanas Leis estabeleçam a conclusão da sua vilegiatura corporal.

Fobias e angústias, inseguranças e mágoas que sempre acompanham a morte de um ser querido, em face da compreensão do seu significado, não se instalarão nas delicadas tecelagens da estrutura psicológica do ser em formação, mantendo excelente padrão de saúde emocional.

Herdeiro de arquétipos mitológicos que lhe remanescem no inconsciente profundo, o infante desinformado sobre a desencarnação, quando a defronta libera imagens perturbadoras e fantasmagóricas dos contos de fadas e de deuses, bons e maus, que passam a interagir na conduta, gerando distúrbios depressivos, de ansiedade, ou empurrando para situações penosas mediante as fugas espetaculares da realidade.

O conhecimento da sobrevivência espiritual é de alta importância para a estruturação familiar, por demonstrar que os vínculos biológicos que unem os membros do clã, podem ser, no momento, uma experiência inicial em favor da afetividade, porquanto os espíritos procedem de outros grupos, num círculo de aprendizagens necessárias para a construção da harmonia geral.

Com essa lucidez, os pais e educadores envolverão os educandos em programas bem elaborados, que não se restringem exclusivamente aos interesses imediatos da vida física, tendo extensão mediata em relação à Espiritualidade, de onde se procede e para onde se retoma.

Nesses colóquios que devem constituir parte da convivência doméstica, os valores ético-morais devem ser trazidos à baila, porquanto são fundamentais para a continuação da experiência evolutiva além do corpo.

Assim comportando-se, educadores e educandos, dialogando com naturalidade sobre as finalidades existenciais, os dissabores, as lutas, os testemunhos que a todos alcançam, compreendem o seu significado e nunca se permitem o abatimento ou o desânimo ante as injunções mais afligentes.

Sempre haverá uma expectativa de melhores dias, quando as tempestades desabarem sobre a família, em razão dos compromissos espirituais que a todos vincula, ensejando a participação nas lutas, assim como nas bênçãos quando se apresentarem.

Desmascarar a ilusão da perenidade do corpo, demonstrar a maravilha que é despojar-se dele, quando já não possa contribuir em favor de uma existência enriquecedora, superar o medo do desconhecido país da imortalidade, aprendendo a comunicar-se com aqueles que hajam precedido no grande retorno, são formosos compromissos que devem ser mantidos no ninho doméstico.

A vida é inextinguível, embora desenvolvendo-se por etapas no corpo e fora dele, é sempre real e vitoriosa à morte ou a outro qualquer fenômeno.