Tendo em vista os avanços da ciência e da tecnologia, ao lado das contínuas revoluções sociopsicológicas, a família hodierna está buscando parâmetros de equilíbrio para sobreviver aos fenômenos do caos de natureza moral que se alastra por toda parte, em tentativas infrutíferas de extinguila.
Confundindo libertinagem com liberdade e agressão com renovação, muitos indivíduos vêm-se tornando ícones da infância e da juventude, que desconsideram, em referência à formação moral, propondo todo tipo de concessão, sem levar em conta os fatores psicológicos de entendimento e de responsabilidade que nelas vigem, em torno dos comportamentos e realizações.
Dominados pela euforia do prazer, tornam-se anarquistas, pugnando pelas atitudes desrespeitosas, por considerarem as linhas de equilíbrio como heranças do passado castrador, manutenção do caráter perverso dos educadores, pais e mestres, dos dias idos, dando lugar a uma sistemática rebeldia dos educandos, toda vez que são convidados ao dever e à ordem.
Transformando os pais em meros mantenedores econômicos da família, tiram-lhes a autoridade moral, gerando o falso conceito de liberdade plena e autossatisfação contínua, assim desenvolvendo o conceito doentio de direitos sem correspondentes deveres.
Por sua vez, muitos pais, desejosos de fugir às responsabilidades que os filhos impõem naturalmente, adotam o mesmo estilo de conduta, deixando de educá-los, sob a alegação da necessidade de não os oprimir, porque não sabem colocar limites entre o que é possível ceder e deve ser concedido, em relação ao que devem, mas não podem ou podem, mas não devem oferecer...
Esse mecanismo faculta-lhes a permissividade que o educando não tem condições de absorver, naufragando, desde cedo, nos abusos de toda ordem, com prejuízo da futura realização moral, social, profissional e doméstica, ao se tornar genitor...
Graças à fácil comunicação virtual, libertam-se das preocupações educativas, dos diálogos saudáveis e dignificadores, da convivência pessoal, oferecendo aos filhos os computadores, para que logo se preparem para a complexa ciência e arte correspondente, sem os orientar a respeito dos graves perigos da pedofilia, dos vícios em geral, dos comportamentos esdrúxulos e doentios, da convivência com personalidades psicopatas que lhes influenciam o comportamento, atirando-os na voragem da insensatez.
Simultaneamente, os diversos jogos a que os jovens se entregam, sem discernimento moral, os contatos prolongados com outros aficionados, perturbam-lhes o equilíbrio emocional e retiram-nos da convivência pessoal, humana, para poderem dar largas aos sentimentos mórbidos, que não exteriorizariam em outra circunstância.
Grassam, então, o desrespeito total, a falta de responsabilidade perante a vida, que se lhes apresenta conforme os programas que consultam e de que se tornam membros nas salas de convivência, deturpando, por completo, os conceitos em torno da existência, da sua finalidade, das imposições que lhes dizem respeito.
É claro que, nesse processo sociológico da evolução, a família vem-se modificando, buscando estruturar-se em processos de nobreza moral, de respeito dos pais pelos filhos e reciprocamente, assim como de maior intimidade entre todos, no que resultam valores de afetividade mais profunda, sem necessidade de qualquer recurso punitivo, quando se erra, ou compensatório, quando se acerta.
A visão moderna da família é de uma constelação cintilante, em que o amor é a fonte geradora da energia que sustenta todos os membros em torno do núcleo, que são os pais, responsáveis pela sua manutenção, condução, desenvolvimento e equilíbrio saudável.
Sem o protecionismo ou excesso de cuidados e preocupações, mas também sem a indiferença pelo destino da prole, entregue a si mesma ou a funcionários remunerados, a família vive momento muito grave, em face das alterações conceituais dos valores ético-morais, especialmente no que diz respeito ao comportamento sexual, aos divertimentos e gozos, aos estudos e programas educacionais.
A organização da família perde-se nos recuados dias do período pré-agrário, quando o grupo se reunia buscando proteção contra os adversários naturais: as feras, outros indivíduos, as intempéries, os fenômenos sísmicos... Logo depois, surgiu a finalidade, na Grécia antiga, de reunir-se o grupo em torno do fogo sagrado, a fim de perpetuar-se a memória dos antepassados, iniciando-se o culto religioso, em que o homem exercia papel primordial.
A mulher, considerada de valor secundário, era reservada a preservação do fogo, os cuidados com a prole, com os deveres domésticos.
Naquele início, a família não eram somente os portadores da mesma consanguinidade, mas o grupo social que se unia por impositivo das necessidades de todos os membros. Naturalmente, com o surgimento da prole e o despertar para os deveres naturais, a família passou a ser aquela que descendia do tronco central, preservando as heranças ancestrais e trabalhando os recursos da sobrevivência. Isso gerou um certo egoísmo em torno do clã em detrimento da sociedade como um todo, que ainda remanesce de alguma forma.
Com a inevitável evolução cultural e moral, foram-se modificando as estruturas da família, experimentando, no período medieval, imposições religiosas doentias que muito a prejudicaram no que diz respeito à sua constituição espiritual. É certo, como afirma O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, que há uma parentela corporal e outra espiritual, ambas exigindo respeito, união e solidariedade...
Hodiernamente, em face dos referidos fenômenos sociológicos que sacodem a organização grupal, a família tem sido a sua grande vítima, necessitando, portanto, de uma nova constituição, que não pode prescindir dos inamovíveis pilares do amor, do respeito, dos deveres entre todos os membros, assim como em relação à sociedade.
Jamais a família desaparecerá, porque a criança dependente nos braços adultos, inspira ternura e devotamento, trabalhando as emoções para o entendimento e a comunhão dos genitores em sua volta, dando surgimento ao grupo consanguíneo e à afetividade mais pessoal.
As mudanças continuarão ocorrendo, conforme as conquistas de cada época, sem que a família perca os seus alicerces de segurança, quais sejam: a fidelidade ao grupo, o amparo recíproco, a proteção, como decorrência do sentimento de amor, preparando para a união com as demais associações, na identificação universal.
Os modismos inevitáveis, que caracterizam os períodos de mudança, chegando aos abusos que se generalizam, serão ultrapassados, logo depois, por causarem danos íntimos às criaturas que têm sede de entendimento e de afetividade, de equilíbrio e de moralização, ânsias de paz e de alegria real de viver.
Os atuais formadores e multiplicadores de opinião, que ridicularizam a família, banalizando os compromissos do ninho doméstico, são vítimas dos lares desajustados que os geraram, confirmando o absurdo de tal conduta, em relação a outros cidadãos ordeiros, fomentadores do progresso e construtores da ordem e do bem-estar em toda parte.
Reflexionando neste novo programa de construção da família moderna e saudável, o Espiritismo, com os seus nobres conceitos de ética-moral, fundamentados na crença em Deus, na imortalidade, na comunicabilidade dos espíritos, na reencarnação, oferece os pilotis vigorosos para que se torne realidade o clã de paz e de amor que todos anelam.