Inobstante as inabordáveis conquistas da atualidade, sob todos os aspectos considerados, o sofrimento campeia dominador, vencendo as criaturas humanas, que se lhe entregam em esgares de agonia ou se rebelam em estertores de revolta.
Dê um lado, os divertimentos e desportos convidando ao sorriso e à saúde, competindo com as necessidades urgentes da aquisição do teto, do pão, da harmonia da família, do equilíbrio emocional.
Há um abismo estarrecedor entre os que desfrutam os favores da fortuna e da comodidade e os demais, que padecem carências múltiplas, ameaçando-os continuamente.
Assim mesmo, os sofrimentos apresentam-se nos lares abastados com a mesma espontaneidade com que se adentram nos tugúrios onde se refugia a miséria.
Expande-se da intimidade doméstica para as largas avenidas do mundo, abraçando os excluídos, que se rebolcam em alucinações devastadoras.
Muitos rostos sorridentes estão apenas disfarçados com máscaras de alegria, que não conseguem ocultar os sentimentos íntimos perturbadores.
As labaredas das fogueiras das vaidades não consomem as inquietações que se encontram nos corações dos campeões da ilusão.
Que está acontecendo com a cultura e a civilização?
Sucede que os notáveis investimentos na conquista do exterior, não lograram propiciar harmonia interna, no ser humano, resultando em grande choque entre as coisas agradáveis que proporcionam prazer e a realidade íntima de cada um, com as aspirações insopitáveis da paz que parece distante.
As conquistas exteriores produzem sensações e emoções transitórias que, normalmente, deixam um grande vazio existencial, por não atenderem às ansiedades do sentimento profundo.
Em razão disso, a cultura hodierna preconiza o armazenamento de objetos e valores amoedados como se eles pudessem atender a todas necessidades, solucionando as dificuldades íntimas daqueles que os possuem.
Certamente, os recursos monetários auxiliam na recuperação da saúde, nos relacionamentos sociais, nas movimentações financeiras e viagens de espairecimento, facultando conforto. No entanto, não conseguem alterar as paisagens do pensamento atormentado, nem os conflitos que remanescem dos dias passados, quando foi gerada a culpa, levando a transtornos e a aflições.
Sem dúvida, os sofrimentos fazem parte da equação da vida, no binômio saúde e doença. Todavia, em razão das aquisições do conhecimento, enquanto muitos fenômenos orgânicos podem ser atenuados e até mesmo vencidos, através das valiosas terapias e tratamentos cirúrgicos, precauções bem delineadas e cuidados especiais, o ser interior, o Espírito, em si mesmo, sofre, porque somente ele pode estabelecer os parâmetros para a felicidade, as diretrizes para a harmonia.
O ser interior é muito diferente daquele que se faz visível e torna-se conhecido.
Em razão da afanosa busca para solucionar as necessidades, há sempre um distanciamento do silêncio interno, que se torna necessário para o atendimento das Ânsias do coração e das aspirações espirituais, assim evitando sofrimentos que se instalam com facilidade.
Todo e qualquer tipo de sofrimento sempre constitui informação da vida a respeito de algo, no indivíduo, que está necessitando de revisão, de análise, de correção.
Por isso que, no processo de aquisição da consciência, ser humano aprofunda a autoidentificação, mediante o mergulho nos refolhos do ser, utilizando-se dos recursos da meditação, do estudo, da ação edificante, sem os quais sofrimento se lhe instala com a função de despertá-lo para a realidade de si mesmo.
Vige, no Universo, a ordem, que se deriva de Deus, toda vez que há uma agressão ao seu equilíbrio, aquele que a desencadeia sofrelhe o inevitável efeito, que impõe reparação.
O sofrimento é, portanto, o mecanismo precioso de que a existência se utiliza para a corrigenda dos equívocos e dos distúrbios que a insensatez e a imaturidade provocam na harmonia cósmica.
Como consequência, a carga de aflições é sempre resultante da gravidade ou não do desconserto gerado anteriormente, por isso que, menor em uns e mais pesada em outros, considerando-se a diferença de conduta existente entre as diversas criaturas, o nível de responsabilidade e de conhecimento.
Não foi por outra razão, que o Messias nazareno obtemperou: Mais se pedirá àquele que mais recebeu, demonstrando que a responsabilidade de quem conhece as estruturas da vida é sempre maior do que a daquele que as ignora.
O conhecimento, portanto, que liberta, pode tornar-se algema, quando não levado em conta nas ações que se praticam.
A existência terrestre, desse modo, é assinalada por fenômenos biológicos, tais como: nascer ou renascer, viver, morrer... e permanecer imortal.
Cumpre a cada um o dever de evitar-se o sofrimento mediante uma conduta exemplar, que não o impede de ser vítima de outrem, o que, no entanto, não merece maior consideração, desde que se encontre em paz de consciência, disso não se derivando qualquer forma de aflição corretiva.
Indispensável, igualmente, que haja uma preparação psicológica para as ocorrências orgânicas e emocionais, considerando o desgaste da máquina, sem que isso afete a estrutura dos sentimentos, cultivando a alegria de viver em qualquer estágio sob as condições que lhe são inerentes.
À infância, sucede a juventude; a esta, a maturidade, a velhice e a morte, quando essa última não ocorre antes, Cada uma fase possui o seu encantamento, os seus valores e contributos, que são básicos para a construção existência feliz.
Tentar viver uma experiência noutra fase que não a correspondente, constitui desequilíbrio e irresponsabilidade, que responde por desajuste e decepção.
Rápida é sempre a transitoriedade orgânica, por a razão, devendo ser bastante aproveitada sob o ponto vista espiritual.
Vencida uma etapa, ei-la transformada em base para que a outra se estabeleça, e, concluída a reencarnatória, logo advém a correspondente libertação sem saudades do passado nem ansiedades relacionadas ao futuro.
Muitos sofrimentos que existem na Terra podem ser modificados desde o momento em que o ser humano altere a conduta emocional, dispondo-se à renovação e A coragem para os enfrentamentos inevitáveis.
O não sofrer seria uma aspiração utópica, impossível de acontecer na escola terrena, em face do seu ágio de evolução.
Aos transeuntes das experiências que ela propicia cabe a responsabilidade para tornar a existência mais feliz ou menos tormentosa, através da aceitação dos códigos de ética e dos princípios morais que vigem invioláveis e a todos são impostos com o mesmo rigor.
A complexidade dos sofrimentos resulta, desse modo, das intrincadas realizações perversas que os indivíduos se permitem, atirando para o futuro o seu danoso resultado.
Ser feliz, é bênção possível em qualquer conjuntura, mesmo quando se está sofrendo, pelo conhecimento de que se está libertando.
Felicidade, portanto, não é ausência de dor, mas a perfeita compreensão da sua finalidade.