Jesus e Vida

CAPÍTULO 8

Armadilhas



Quando alguém empreende uma realização nobililante, vinculado a um compromisso superior com a vida, não lhe faltam desafios e aflições, que são heranças de comportamentos infelizes do passado e obstáculos naturais que devem ser superados.

Vivendo em uma sociedade egóica e imediatista, experimenta desconfiança e agressões de todo porte, como se uma conspiração houvesse a fim de impedirlhe o desenvolvimento do ideal que acalenta e pelo qual moureja.

Em face dos fatores de perturbação ainda vigentes no grupo social, suspeita-se-lhe da honestidade de propósitos, acreditando-se que se trata de um indivíduo es- I afador ou astuto procurando projeção no cenário em que se encontra, ou mesmo de algum aventureiro que espera lucros rendosos sem grandes investimentos pessoais...

Infelizmente, ainda não há lugar, na atual sociedade, para pessoas sérias portadoras de projetos de enobrecimento para a Humanidade.

É inegável que existem incontáveis exemplos contrários a essa conduta, no entanto, a mais comum é a atitude de suspeição e de arrogância em relação ao inovador, em razão dos conflitos pessoais que dominam a grande mole humana, ainda não liberta das paixões inferiores em que se compraz.

Quando esse labor diz respeito aos valores espirituais dignificantes, a luta se lhe torna mais áspera, porque a maioria prefere a distração e a vulgaridade, mesmo que sob os disfarces de objetivos elevados.

O desrespeito ético em aumento crescente, avassalando setores onde devem prevalecer os sentimentos de ordem e de edificação, testemunha a falsa necessidade dominante pela busca do promíscuo e superficial, nos quais se destacam personalidades enfermas e astros frustrados que se impõem em lideranças doentias...

É compreensível que assim ocorra esse fenômeno de desconsideração pelo bom e pelo belo, substituído pela balbúrdia e zombaria das questões santas, porque se pretende viver o momento do prazer e do desfrutar, em novos comportamentos que disfarçam os terríveis conflitos em que a grande maioria de pessoas se estorcega.

É muito difícil ser coerente entre o que se crê e como se deve agir, buscando-se, por falta de resistências morais, sucedâneos para a conduta leviana sob justificações lamentáveis, mas que agradam aos desavisados.

O Espiritismo é doutrina séria de caráter imortalista, que se destina àqueles que tenham sede de justiça, fome de paz e ânsia de felicidade, cansados das ilusões vivenciadas e dominadas por dores excruciantes de que necessitam libertar-se.

Todos quantos lhe abraçam os postulados são convidados à transformação moral para melhor, tornandose, cada dia, mais saudáveis do que anteriormente, e trabalhando as imperfeições morais, a fim de que possam vivenciar a harmonia e a iluminação de que são objetos os postulados espíritas. No entanto, há uma grande delasagem entre o que se divulga e o que se experiência.

Não são poucos os indivíduos que, no exercício dos ideais libertadores, projetam-se mais através deles, do que lhes fazem a divulgação apagando-se, conforme afirmava João, o batista, em referência a Jesus: É necessário que Ele cresça e que eu diminua. (João 3:30).

Há uma incontida ânsia pela projeção social e humana, em competição doentia, perturbadora, bem con- I rária a essa proposta do Precursor...

É inevitável essa ocorrência, porque os indivíduos consideram os demais através da óptica intelecto-moral de que são portadores.


* * *

Além desses naturais adversários terrestres do ideal ismo libertador, outros existem, que ainda apegados as paixões humanas, embora desencarnados, conspiram incessantemente contra aqueles que são fiéis aos objetivos que abraçam, gerando situações calamitosas, urdindo armadilhas perversas, a fim de colhê-los, asam impedindo-lhes o avanço.

Km um momento, induzem pessoas emocionalmente perturbadas a aproximar-se dos lidadores do hem, inspirando-lhes paixões servis, e quando rechaçadas transformam-se em perseguidoras inclementes.

Vezes outras, tentam seduzi-los com publicidade e fama, arrastando-os para os descaminhos do compromisso, sob aplausos ruidosos em festas de insensatez e de turbação mental.

Habitualmente acercam-se, esses infelizes inimigos de si mesmos, desencarnados em desesperação, gerando, à volta dos trabalhadores, uma psicosfera morbífica, que lhes produz amolentamento e cansaço com prejuízo das realizações que lhes cumpre executar.


Em diversas ocasiões, aproveitadores inescrupulosos cercam-nos, sobrecarregando-os de atividades que não desejam desempenhar, de forma a exauri-los no cumprimento dos deveres

abraçados. Fiscais impiedosos da sua conduta, estão sempre dispostos a apontar-lhes deslizes e erros, sem que façam algo de positivo e útil, considerando-se responsáveis pela vigilância que se impõem. Logo, quando não alcançam as suas metas, abandonam o campo e saem alardeando difamação afrontosa, atirando calúnias sórdidas que encontram guarida na irresponsabilidade de outros tantos que lhes são semelhantes.

A competição pessoal é atiçada por esses adversários do Bem, gerando divisões lamentáveis no grupo em que se encontram, criando dificuldades de todo tipo com fins ignóbeis, no íntimo, em razão da inveja e da magoa por não estarem naquele lugar, sendo os combatentes que não têm coragem de tornar-se.

As armadilhas do mal são contínuas e apresentamse em variadas formas, pois que o seu objetivo é a desistência dos lidadores da verdade, do amor, da divulgação da Luz, da vivência da fraternidade...

Nada obstante, quando os idealistas são sinceros, eles sabem revestir-se de paciência, de coragem e de resignação, confiando mais nos objetivos que devem alcançar, do que nos impedimentos que lhes surgem pela frente.


/<". MS e Vida 61

Entregando-se Àquele que lhes serve de guia e modelo, não se permitem abater pela perseguição insensata, nem rebelar-se contra o aguilhão, porque têm consciência da sua pequenez diante da grandeza da vida, estimulando-se ao avanço, quanto mais obstáculos defrontam.

Reconhecem que não é fácil a empresa a que se en- I regam e que a realizam pelo prazer pessoal de fazê-la crescer no íntimo, por saberem que o Reino de Deus não vem com aparências exteriores, mas é construído no imo do ser, sem que ninguém o veja, nem lhe tome conhecimento.

Assim, nunca te intimidem as calúnias dos companheiros de lutas, nem temas as armadilhas colocadas pelo espírito do mal, tentando colher-te quando desprevenido.

Cuida de entregar-te a Quem serves, e amando, segue adiante, cantando o hino da alegria de servir.


* * *

Mesmo Jesus, que é o Sol de Primeira Grandeza do planeta terrestre, não realizou o Seu ministério, sem a presença constante de inimigos, de adversários soezes e de manipuladores de armadilhas perversas.

... Mandaram então seus discípulos, em companhia dos herodianos, dizer-lhe: Mestre, sabemos que és veraz e que ensinas o caminho de Deus pela verdade, sem levares em conta a quem quer que seja, porque, nos homens, não consideras as pessoas. - Dize-nos, pois, qual a tua opinião sobre isto: É-nos permitido pagar ou deixar de pagar a César o tributo?

Jesus, porém, que lhes conhecia a malícia, respondeu: Hipócritas, por que me tentais?

Apresentai-me uma das moedas que se dão em pagamento ao tributo. E tendo-Lhe eles apresentado um denário, perguntou Jesus: De quem são esta imagem e esta inscrição? - De César, responderam eles. Então, observou-lhes Jesus: Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (Mateus 22:15-22) As armadilhas humanas colhem somente aqueles que se encontram no mesmo nível dos seus opositores.

Ta, porém, segue adiante, fiel ao dever abraçado.