TESOUROS LIBERTADORES

CAPÍTULO 4

A BÊNÇÃO DA ESPERANÇA



Nietzsche, o amargurado filósofo alemão, ateu e pessimista, assinalou que o perdão egrégio é fraqueza moral, portanto, falta de caráter.

Generalizado o conceito sob expressões diferentes, o mesmo representa a mesquinhez dos sentimentos que aguardam vingança, que trabalham pela devolução do mal que, por acaso, lhe haja sucedido.

Esse comportamento, o do desforço, é muito mais um ato infeliz e vergonhoso, enquanto que o perdão expressa a coragem e a grandeza espiritual de todo aquele que o oferta.

Assevera-se, em concordância com a tese, que a justiça não pode ser desprezada e que, mediante o perdão, permanece o crime. Quando, porém, o perdão é verdadeiro, não há qualquer impedimento para que a justiça prossiga no seu rumo. O que ocorre é o ato de não ser feita pela vítima, armada de ira e de agitação, com sede de vingança.

Desde quando os latinos criaram a palavra Justitia, apresentaramna como uma dama que carrega uma balança e uma espada, respectivamente em cada mão, tendo os olhos vendados, significando a sua imparcialidade.

Na visão cristã, a simbologia da espada cede lugar à presença da misericórdia da educação do réu, do ensejo que lhe deve ser oferecido para a reabilitação.

A ninguém cabe tomá-la pelas mãos num esforço vingativo pelo sofrimento que lhe foi imposto, deixando às Leis Soberanas, às vezes representadas pelas humanas, o mister de realizarem os procedimentos compatíveis com o nível de elevação moral e intelectual da sociedade.

No Saltério [2] inserto no Velho Testamento, encontramos os denominados salmos imprecatórios [3] , em que os profetas clamavam por vingança, praguejavam e ameaçavam, dirigindo-se ao Deus dos exércitos.

Jesus, porém, veio substituir esse Vingador, pelo Deus Todo Amor, rico de compaixão e de ternura, que deseja o desaparecimento do crime sem a extinção daquele que se lhe fez instrumento.

É nesse capítulo que se inserem o perdão e a esperança de felicidade.

A todos está destinada a plenitude, por mais danos as criaturas se façam a si mesmas durante a trajetória carnal; elas sempre encontrarão à frente a oportunidade reparadora de renovação íntima e de crescimento espiritual.

Quando ocorre o perdão, não sucede a reconciliação, que independe daquele que se oferece para não devolver o mal de que foi vítima.

A reconciliação será resultado do tempo, da anuência do outro, o verdugo que está acostumado à retaliação.


A esperança de que a vida sempre se encarrega de regularizar todos os incidentes e desares, deve constituir motivo de

encorajamento para prosseguir-se na ação do bem.


* * *

Não te produzam receio as nuvens carregadas de tempestades que danificam, mas passam.

Tens compromisso com o amor.

Desarma-te dos melindres doentios e egoicos que sempre te colocam em posição de vítima, supondo que tudo negativo é dirigido a ti.

Rompe essa fragilidade moral em que te apoias e que utilizas para fugir na direção da tristeza, sempre que te suponhas não atendido, numa atitude psicológica infantil.

O teu próximo não te pode estimar, cuidar dos teus conflitos, que tens o dever de superar porque te pertencem.

O outro, aquele a quem exiges consideração e cuidados para contigo, também tem problemas e dificuldades que não te narra.

Fita o mar proceloso da existência, e quando te sentires fragilizado, robustece-te na oração ancorado na confiança da vitória.

A desconfiança é nuvem que oculta a face da vitória.

Renasceste para o triunfo sobre ti mesmo e este é um trabalho que somente poderá ser realizado por ti.

Não transfiras para os outros os teus demônios psicológicos, à espera sempre de mimos e aparências.

Cristão sem testemunhos é linda planta trabalhada em substância plástica, bela, mas sem vida.

A esperança é bênção do Céu para toda a existência.

Quando tudo esteja escasso e experimentes aparente infortúnio, a esperança é o anjo vigoroso e companheiro vigilante que estará ao teu lado, emulando-te ao prosseguimento.


Mesmo que advenham situações penosas e muito aflitivas, considera que a vida física não é uma viagem idílica ao país do

prazer, mas se trata de uma experiência iluminativa, que trabalha pela libertação do ser.

Quando luz no seu íntimo a bênção da esperança, a vida exulta em plenitude.

Educando os instintos agressivos, desenvolve as emoções dignificadoras, de forma que sobreponhas sempre o sentimento de amor.

Em qualquer circunstância, especialmente naquelas que te parecem infelicitadoras, interroga-te como gostarias de ser tratado ou reconhecido pelo teu próximo e faze conforme concluas.

A justiça não dilui a esperança, dá-lhe vigor, assim como o perdão também o faz.

O teu destino é construído pelo teu pensamento.

Abandona o vício mental negativo, sórdido, vulgar, e enriquecete de beleza e de esperança.


* * *

Jesus, no último instante na Cruz, quando nada mais podia ser feito, suplicou:

—Pai, em Tuas mãos entrego o meu Espírito!

A sublime esperança das bênçãos transcendentais a que Ele fazia jus ficou na condição de última mensagem.

Entrega-te a Deus, Ele fará o que não esteja ao teu alcance, e mantém sempre a esperança como a segura companheira da tua existência.