Fitando o anjo corporificado nas carnes do filhinho que dorme, deténs-te junto ao berço de alegrias e exultas, dominado por compreensível júbilo, meditando quanto ao futuro risonho e abençoado que almejas para ele.
Não te ocorre a ideia de que o "rebento" das tuas células é também filho de Deus em vilegiatura evolutiva, seguindo hoje ao teu lado, sob a direção da tua experiência.
Naquele corpo que o tempo desdobrará e na fragilidade dos músculos que se enrijecerão dia a dia, momentaneamente repousa um espírito que se prepara para as ingentes e santificantes tarefas do porvir.
Possivelmente não pensarás que essa concessão divina poderá um dia armar-se de revolta e agredir-te a velhice cansada, investindo, ao impacto de inomináveis ingratidões e rebeldias, contra as tuas fracas forças de então. Parece-te impossível, pois que ele é tão pequenino, formoso e meigo!
Os amigos afirmam que o teu filhinho se parece contigo, tendo a meiguice da mamãe e o nobre caráter do papai, apesar de tão diminuto. E têm razão, por enquanto.
Dás-lhe o legado do corpo, emprestas-lhe alguns sinais fisionômicos e poderás plasmar nele alguns dos teus caracteres morais. Ele, porém, te solicita, desde já, mais do que deslumbramento e carinho. Necessita de ti, muito mais do que pensas.
Os pais não são os construtores da vida, porém, os médiuns dela, plasmando-a, sob a divina diretriz do Senhor. Tornam-se instrumentos da oportunidade para os que sucumbiram nas lutas ou se perderam nos tentames da evolução, algumas vezes se transformando em veículos para os embaixadores da verdade descerem ao mundo em agonia demorada.
Pensa, portanto, e cogita com maturidade, educando o filho que Deus te concede por algum tempo, nas diretrizes enobrecedoras da fé cristã, ministrando-lhe as lições vivas do exemplo dignificante.
Talvez a educação não consiga fazer tudo por ele, caso seja alguém assinalado por graves problemas que o acompanhem de outras existências... Prepara-lo-ás, no entanto, para melhor experiência e maior aprendizagem.
Não descures de iluminá-lo com as claridades do amor à verdade, ao bem e à justiça, em nome do Supremo Amor.
A carne gera a carne, mas o espírito não produz o espírito.
O filhinho que te chega é compromisso para a tua existência.
Não o temas, nunca.
Não o ofendas com a falsa valorização dele, em demasia.
Recorda-lhe a humildade, considerando a procedência de todos nós e o lugar comum do barro orgânico...
... E orienta-o dignamente, sem cessar.
Aquele olhar esgazeado, acompanhado por lábios em rictos de loucura, punhos cerrados, não pode ser do filhinho que acalentaste e mantiveste no calor do afeto, noites-e-dias-a-fio! — meditas.
Como pôde transfigurar-se em sicário cruel, em infortunado algoz? — interrogas, contemplando-o, com a alma estrangulada e muda.
Que foi feito do bebê querido que te osculava as mãos e a face, cantarolando melodias que ainda musicam os teus ouvidos?
Todo ele parece revel. Porque? — perguntas.
Somos todos viandantes de inumeráveis excursões pela carne.
Erramos e solicitamos oportunidade para a reparação; acumpliciamo-nos com a criminalidade e rogamos libertação; nascemos e renascemos, começando ou recomeçando em longa experiência.
Verdugos e amigos que nos cercam, que chegam através de nós próprios, são dadivosas concessões de que necessitamos. Ajamos junto a eles com ponderação, valorizando o empréstimo da Lei.
Não te enganes, portanto.
Se arde no imo do teu espírito a flama do ideal espírita, prepara a tua família para a fé consoladora e ilumina-a. Esparze as lições reencarnacionistas com lucidez e bondade. Utiliza a terapêutica do passe, da água magnetizada, e faze luzir a palavra de Jesus no reduto doméstico.
Se os teus filhos, depois, empanzinados pela falsa cultura ou fascinados pelos ouropéis te rechaçarem as lições, esbordoando, ingratos, a tua face, terás cumprido com o teu dever e, em silêncio, deixa-os seguir: possívelmente eles serão pais também hoje, ou mais tarde...
Os filhos são bênçãos que te chegam — alguns, gemas brutas para lapidação —; faze tua parte e prossegue tranquilo na direção do futuro e de Deus, o Excelso Pai de todos nós.
NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 2a — Cap. IV — Parecenças físicas e morais.
Leitura complementar: E. — Cap. IX — A cólera. — Itens 9/10.