A caridade — alma da vida — é a mais alta conquista que o homem poderá lobrigar. Mais nobre do que a generosidade e a filantropia é o coroamento de ambas, quando o espírito valoroso, em labor incessante, consegue atingi-la.
Tem início em singelos atos de bondade e se desdobra em lances de renúncia que assinalam a magnitude do caráter humano.
Não apenas virtude teologal, é resultado do exercício do amor em jornadas de sublimação pessoal, intransferível.
Antítese do egoísmo — esse câncer responsável pela derrocada da sociedade — é o estímulo vivo da fraternidade, que ligará homens e nações numa só família, qual imenso rebanho sob o comando de um único Pastor.
A caridade dá-se — o egoísmo toma.
A caridade se sacrifica — o egoísmo sacrifica.
A caridade dirige — o egoísmo domina.
A caridade expõe o amor — o egoísmo impõe o jugo.
A caridade é vida — o egoísmo é passo para a morte...
Educado o homem moderno dentro de vigorosos conceitos da filosofia utilitarista, nem sempre tem visão para alcançar o fulgor resplandecente da vera caridade.
Quando afortunado pelas concessões do poder econômico, compraz-se na filantropia e nela se detém, sem o valor de avançar, intimorato, até banhar-se na sua luz, que é claridade luarizante a permear por dentro.
Ante os padrões vigentes que estabelecem metas materialistas para a compulsão orgânica que a sepultura desconsidera, perde-se o homem nos tormentos da posse, quando, impregnado pela excelsa mensageira, poderia fruir a paz que é clímax da felicidade que todos almejamos.
Entre Jesus e Pilatos, muitos homens preferem o beleguim de César ao Enviado de Deus.
André Carnegie, que experimentou uma infância assinalada por pertinaz pobreza, chegou a ser cognominado o "rei do ferro", tornando-se filantropo de nomeada, como benfeitor de diversas ciências, artes e associações de relevantes serviços sociais...
João D. Rockefeller, após triunfar no mundo das altas finanças, denominado o "rei do petróleo", aplicou somas expressivas em fundações que lhe perpetuara a memória, esparzindo esperanças e bênçãos, tendo, inclusive, fundado o Instituto para pesquisas médicas em Nova Iorque, que lhe guarda o nome...
No entanto, Vicente de Paulo, sem posses nem lauréis, deixou-se arrebatar pela Caridade e, seguindo as pegadas de Jesus, demora-se modelar no coração de milhares de criaturas que lhe desenvolvem e mantêm a tarefa santificante, espalhada hoje, por grande parte do mundo.
Não te reserves, pois, a falsa ideia de praticar a caridade somente ao engodo das realizações filantrópicas, quando disponhas de posses.
Inicia o seu exercício hoje, aqui e agora.
Não somente através do que possas oferecer em moedas ou através do que as moedas possam oferecer. Lembra-te da caridade espiritual da compaixão, do silêncio ante a ofensa, da palavra gentil, do gesto de simpatia, do pensamento nobre, da vibração de cordialidade, da desculpa espontânea, do perdão íntimo e incondicional, da luz da oração acesa no recôndito do ser em benefício próprio.
Fixa a mente nos objetivos do ensino evangélico e dá início imediato à renovação espiritual, pacificando-te, e fácil te será vestir os nus, alimentar os esfaimados, medicar os enfermos, dessedentar os aflitos e socorrer os agoniados a que sempre se referiu Jesus, e a Caridade, a virtude dos anjos, refletirá luminescências através de ti e em torno de ti, fazendo-te ditoso, por fim, vencedor das próprias imperfeições, realizado nos objetivos essenciais a que te propões na presente existência.
NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 3a — Cap. XII — Egoísmo.
Leitura complementar: E. — Cap. XV — Necessidade da caridade, segundo São Paulo. — Itens 6/7.