Lampadário Espírita

CAPÍTULO 60

Doação no serviço



Diante dos mutilados deste ou daquele teor, que te buscam o concurso no campo fraternal onde laboras, examinas as próprias dificuldades que te impedem o voo às regiões mais altas da vida, e sentes o verbo silenciar nos lábios, como se estes, calcinados pela aflição silenciosa, se negassem a desbordar as palavras de carinho e calor que enflorescem a vida.

Vencido por cansaço incoercível, tu te deténs ouvindo os de esperança violada e caídos no desassossego, acorrentado às íntimas dores que escaldam a mente, como se a tua agonia, e somente ela, merecesse o superior lenitivo.

As tuas horas transcorrem entre problemas do lar e da oficina de trabalho e, ao defrontares a ânsia dos que esperam solução repentina para as inquietações que os dominam, deixas-te arrastar por dominadora rebelião interior.

Os teus olhos acostumados agora às paisagens reais das lutas de sublimação — lutas que são a forja e a bigorna para todos nós — perderam a beleza, embora a claridade do sol continue desdobrando panoramas de excelsa pintura em todos os lados.

Paulatinamente te enclausuras na lamentação sem palavras, no pessimismo impenitente, na rebeldia silenciosa.

Inquietam-te tantas dores somadas às tuas dores, azorragam-te os ouvidos tantos choros convulsivos musicando a patética dos teus soluços!...

Retempera, porém, o ânimo.


* * *

Se estiveres disposto a mudar os clichês mentais, verificarás que te deixas vencer por sofrimentos de pequena monta, a que ofereces muita consideração, esquecendo que a melodia do auxílio que canta em toda a parte está esperando por braços dinâmicos e corações resolutos.

Descerra os lábios e consola. O canto amistoso da tua voz, socorrendo, musicará a pauta da tua tristeza reunindo notas para o festival da alegria, no recinto do teu espírito.

Distende as mãos na direção do socorro fraternal, e a alavanca de serviço, em que os teus braços se transformarão, impulsionar-te-á na escalada vigorosa para cima.

Esquece as sombras que tingem de escuridade as tuas esperanças, e a luz que acendas no caminho dos que te buscam será a lâmpada clarificadora para iluminar a rota dos teus pés.

Ama, esforçando-te a princípio, mesmo que se demorem no teu paladar afetivo os ressaibos de muitos desamores que te lancearam, e constatarás, sorrindo, que a maior felicidade no amor pertence a quem ama.

Como é verdade que há muita incompreensão na Terra, não menos seguro é que há muita aspiração de entendimento entre os espíritos que avançam no trâmite para os rumos infinitos.

Deixa-te, portanto, transformar em harpa de amor tangida por mãos espirituais, e as vibrações dos acordes espalhados, na comunidade sofrida em que te situas, formarão a bela sinfonia do bem, tradutora do Bem Infinito em toda a Terra.

Jesus, incompreendido no reduto das mais carinhosas afeições, dilatou as expressões do próprio sacrifício, sorvendo sem reclamos nem queixumes o conteúdo abundante do fel e do vinagre da má-vontade, encorajando, amando os companheiros tíbios e cantando com eles a música da esperança, para a fixação da Boa Nova no país dos corações, fazendo-se, Ele mesmo, a mais augusta oferenda de amor a Humanidade.

NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 4a — Cap. II — Expiação e arrependimento.

Leitura complementar: E. — Cap. XXIV — Não são os que gozam saúde que precisam de médico. — Itens 11/12.






FIM