Descerrei as portas dos meus ouvidos para reter o canto e todo eu enchi-me de tristeza.
Esperava que a emoção do teu sacrifício purificasse as vibrações do teu ser, no entanto o céu das tuas esperanças chorava pranto de dor.
A cítara parecia morta aos teus pés, envolta em rude abandono.
A casa imensa que antes enchias de luz tornou- -se pequena para agasalhar tuas imensas agonias...
Percebi que o rocio desse canto lúgubre me censurava o ardor dos meus encantamentos. Mas a fraqueza da recriminação não conseguiu deter a força do rio das minhas esperanças.
Cantei, então, como se a minha vida pudesse inundar a tua vida de sol...
E meu canto se transformou em prece poderosa que derramou cascatas de bênçãos no chão das tuas tristezas e as emoldurou com o ouro da ternura.
Agora que estás na luz das esperanças do amor, enseja-me afagar tuas etéreas mãos felicidade erradia para que habites por fim no solar dos deserdados da paz, caídos como estão na esteira dos sonhos desfeitos...
Rabindranath Tagore