Deslumbrados, ainda, após a transfiguração do Mestre, no ímpar diálogo com Moisés e Elias, em recolhimento todos desceram o Tabor.
"silêncio e o êxtase.
Era necessário, porém, por enquanto, retornarem ao torvelinho, ao cotidiano, às mesquinharias do imediatismo, às criaturas humanas apaixonadas, sem rumo...
O planalto, onde haviam comungado com o Pensamento Divino, cedia lugar à planície das lutas e disputas pessoais.
Eles, os discípulos, eram criaturas frágeis, que se iam fortalecendo nos sucessivos embates com os olhos postos no futuro.
Criam no Mestre e temiam, não sabiam o quê.
Amavam-nO, e cada vez mais O conheciam, identificando-o como o Enviado.
— A ninguém conteis esta visão, até que o Filho do Homem ressuscite dentre os mortos. (*)
O exuberante fenômeno mediúnico, que trouxera de além da morte os ilustres líderes da raça, Moisés e Elias, deveria ficar ignorado pelas massas, que não o podiam compreender. Somente as pessoas preparadas emocional e psiquicamente dispunham da percepção necessária para entender que, ali, Moisés revogava a proibição de se falar com os mortos, vindo, ele próprio, demonstrar a possibilidade, ora tornada real. A sua proibição, quanto à evocação dos mortos, justificava-se, para evitar o abuso em voga; porque nem todos os mortos podem retornar, atendendo aos reclamos dos vivos, e sendo, não raro, substituídos pelos frívolos e mentirosos, que lhes usam os nomes; para impor ao homem a liberdade de ação com responsabilidade e o uso do livre-arbítrio; pelo respeito que devem merecer aqueles que aos outros precedem na viagem de volta...
Agora estava derrogada a interdição; porém, o povo não deveria sabê-lo, senão, quando Ele próprio, ressurrecto e vivo, retornasse após a tragédia que todos conheceríam.
Aqueles eram momentos de extraordinárias revelações.
As mentes se dilatariam ao infinito, a fim de absorverem os conteúdos imortalistas ali testemunhados.
A morte sempre se apresentou como a grande destruidora da vida, a amarga separadora daqueles que se amam, a indesejada...
Para fugir-lhe à sanha, adornaram o culto à memória dos mortos com exéquias e homenagens, flores e incensos, leituras e lágrimas, de alguma forma tentando dissimular-lhe a face trágica. Apesar disso, ela permanecia enigmática.
No passado, essas exéquias e o culto aos mortos revestiam-se de processos ritualísticos e complexos cerimoniais, em prova de amor para com alguns, assim como para aplacarem os gênios maus, que velavam junto ao cadáver.
Entre os gregos era hábito colocar-se uma moeda entre os dentes do defunto, que variava de valor conforme as posses do extinto, a fim de pagar Caronte, o barqueiro que o fazia atravessar as águas do Estige, conduzindo-o à outra margem.
Jesus veio demonstrar que a consciência é a portadora do tesouro dos atos de cada um, e que dela ninguém se exime, a partir do momento do grande transe.
Jamais fez apologia da morte, em razão de ela não existir conforme era descrita.
Toda a Sua mensagem é de ação e, por isso mesmo, Ele declarou ser a ressurreição e a vida, em incessante convite ao crescimento espiritual.
O reino dos Céus, que está no íntimo de cada criatura, ali esplendeu, grandioso, e Jesus, superando os visitantes do Além, em beleza, poder e glória, transfigurou-se diante dos amigos deslumbrados.
Nunca mais as criaturas perderíam o contato com o mundo transcendente onde se originam a vida, os seres, a realidade, e se reencontram os que mergulham na carne, para o processo de evolução, quando cessa o fenômeno biológico.
O Tabor e a imortalidade permaneceram como símbolos da Nova Era.
* Mateus