Vivendo Com Jesus

CAPÍTULO 5

A Magna Carta Universal



Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; (...) Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos...

Mateus 43:45 A História antiga está repleta de filósofos, legisladores e missionários, que contribuíram eficazmente para o progresso da Cultura, da Ética, da Arte e da Ciência.

Escolas de pensamento multiplicaram-se através dos tempos, discutindo a melhor técnica para a aquisição da felicidade, a superação do sofrimento, a coragem para o inevitável enfrentamento com as urdiduras das ocorrências infaustas.

Teses audaciosas e complexas foram apresentadas em todos os tempos, homens e mulheres notáveis procuraram ampliar os horizontes do mundo mediante exemplos, no estoicismo e na beleza, sem conseguirem apresentar uma fórmula universal que pudesse atender a todas as criaturas nas mais diversas épocas e oportunidades...

O ódio, a vingança, a predominância da força, o revide e a rebeldia sempre foram os espólios das gerações transatas, que passavam às sucessivas, tentando demonstrar que somente por meio do poder e do desforço o indivíduo podia realizar-se, desse modo, encontrando a plenitude.

Nada obstante, os fatos sempre demonstraram o equívoco lamentável desse comportamento insano, e as consequências inditosas da sua aplicação e vivência.

Veio Jesus, o Peregrino cantor da Galileia, e apresentou a chave da harmonia, da autor realização, em um conceito simples, numa linguagem destituída de atavios, numa lógica incomum, apresentando o Amor, puro e simples, como a única e eficaz solução para todos os enigmas e conflitos.

Enquanto vicejarem a força e o poder desmedido, sempre se apresentarão a desdita e o desespero, como resposta da vida a esses vassalos da inferioridade humana.

O vencedor sempre era aquele indivíduo que esmagava que erguia estátuas à sua grandeza sobre o cadáver dos vencidos em armadilhas covardes, fazendo silêncio para que a estupidez fosse coroada de louros e assinalasse sua época.

A partir de Jesus, o vencedor é aquele que supera a sua inferioridade moral, que se apequena para que outros cresçam e se desenvolvam.

Para tanto, outro método não existe além e fora do amor.

O Amor procede do hausto Divino, sendo a força dinâmica encarregada de manter a harmonia em toda parte.

O Pai faz chover sobre terras produtivas e estéreis com o mesmo carinho que distende a luz solar sobre a corola da flor e o cadáver em decomposição, que ajuda o ser bom quanto o mau, jamais se cansando de amar.

Seu Amor é igual para aquele que O respeita, assim como em relação àquele que O destrata, sem privilégio para o primeiro ou ressentimento em relação ao outro.

O amor é equânime e justo, simples e nobre, jamais se ensoberbecendo ou magoando-se, seja como for que se expresse.

A antiga recomendação de amar apenas a quem ama, tinha um caráter doentio de retribuição, de pagamento, a que não se submete o sentimento afetuoso. Por que odiar o inimigo, se ele perdeu o endereço de si mesmo, sendo um necessitado, alguém que está enfermo da alma? Quando se odeia a quem odeia, ambos encontram-se no abismo do desequilíbrio emocional, nutrindo-se dos miasmas mentais que produzem, em tormentosas conjunturas internas.

Amar, em qualquer circunstância, é comportamento que enriquece e liberta.

Todo aquele que ama é livre e feliz, semeando luz e esperança onde se encontra, por onde passa, porque exterioriza ternura e emoção elevada que a todos contagia.

O ódio é veneno que entorpece os sentimentos e convulsiona aquele que o carrega, intoxicando-o, inexoravelmente.

A mitologia grega refere-se à Circe (feiticeira), que transformava os heróis em animais somente pelo prazer de os ver sofrer.

Trata-se de um comportamento alienado, de inveja dos triunfadores, da ausência do respeito que se deve ter para com os demais.

Da mesma forma, as parcas teciam as indumentárias do infortúnio, da doença e da morte para aqueles que lhes caíam em desgraça, infelizes e atormentadas nas furnas em que se refugiavam.

Jesus é o "antissofrimento", é o caminho da felicidade e o Amor que recomenda; é a sustentação indispensável para o êxito em qualquer cometimento.

O ódio resulta dos sentimentos primários insatisfeitos, nos quais a criatura se debate, conspirando contra a paz que se anela, tornando-se remota a sua conquista.

O amor, no entanto, é o estímulo que nutre a vida e a favorece com energia e encantamento para prosseguir indefinidamente.

A sociedade daquele como destes difíceis tempos, parece satisfeita com a brutalidade, com o predomínio da fera em vez do cordeiro em sua natureza íntima, optando pela animosidade, na qual o instinto se realiza, em detrimento da fraternidade, em cuja satisfação o espírito se engrandece.

Do ponto de vista egoico, o amor aos inimigos parece loucura, enquanto que a loucura é o ódio em qualquer expressão em que se apresente.

O ser humano ainda não despertou realmente para a experiência fascinante do amor; especialmente aqueles que estorcegam nas paixões asselvajadas, à míngua de carinho que evitam receber e de compaixão que se escusam aceitar. Assina-lados por terrível egocentrismo e respirando a própria inferiori-dade, refugiam-se no ódio, porque deixam de pensar; perdem o contato com a realidade e centralizam-se unicamente no desvio de conduta que os leva a anelar pela infelicidade de outrem. Esse outrem é a projeção deles, que se detestam.

É inadiável a necessidade de amar-se o inimigo, não lhe devolvendo o Mal que faz, não sintonizando com a sua aberração temperamental, não descendo aos níveis inferiores do primitivismo de onde já se saiu.

Amar o inimigo e fazer-lhe todo o Bem que se pode, constitui a nova ordem emocional, o novo roteiro para o equilíbrio, o seguro meio para a aquisição da felicidade pessoal.

Quando se deseja conquistar alguém, investe-se tudo quanto está ao alcance. A vitória desse anseio torna-se meta inadiável, fixação, monoideia... Depois do êxito, de haver-se alcançado o desejo, descuida-se de preservar o sentimento, de sustentar a afetividade com a gentileza, acreditando-se erradamente que já se conseguiu o que se queria, sendo um grande e terrível engano, porque facilmente se perde o que não é mantido, deixando um imenso vazio no sentimento do outro e grave frustração no descuidado.

O amor-próprio, filho dileto da presunção e do egoísmo, cria barreiras impeditivas onde somente deveria haver pontes que facilitassem o trajeto; e a solidão, a amargura, tornam-se companheiras do aflito conflitado pela insensatez.

É normal viver-se armado contra todos e tudo, quando se deveria viver amando para também ser amado...

No que diz respeito ao inimigo, é justo ter-se em conta que ele odeia o outro, porque o não conhece; não se permite a consciência do quanto está perdendo em bem-estar e alegria.

Mais uma razão para que seja amado por quem detesta.

A sensibilidade do amor é tão grande e significativa que nem a si mesma, na maioria das vezes, a criatura ama, fugindo emocionalmente da auto análise, que a leva a encontrar-se carente, emulando-a ao esforço pela auto afeição.

Conseguida essa etapa, facilmente amará o seu próximo e, logo depois, àquele que a odeia...

Quando Jesus, no inesquecível Sermão da Montanha, propôs o poema de Amor aos inimigos, dilatou os horizontes da afetividade, dando-lhe um caráter universal.

Por que então se odiaria a outrem que enfermou, quando todos passam pelo mesmo fenômeno de distúrbio emocional, de transtorno de comportamento?

Jesus propôs o Amor aos inimigos, fazer-lhes todo o Bem que esteja ao alcance, e revolucionou o pensamento dos tempos futuros.

A semelhança, pois, do Pai, do Sol, da chuva, da seca, do calor e do frio que a todos atingem, o amor deve ser incondicional, generalizado e permanente.

Amai e orai pelos inimigos é a recomendação incontestável.

O recurso é esse, e o resultado é o Bem sem limite.