Sabedoria do Evangelho - Volume 1

CAPÍTULO 18

FUGA PARA O EGITO



MT 2:13-15

13. Depois de haverem partido, eis que um anjo do Senhor apareceu em sonhos a José, dizendo: "levanta-te, toma contigo o menino e sua mãe, e foge para o Egito, e fica ai até que eu te chame; pois Herodes há de procurar o menino para matá-lo".


14. José levantou-se, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito,


15. e ali ficou ate a morte de Herodes, para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta: "Do Egito chamei a meu filho".

Novamente José é advertido em sonhos por um espirito (anjo do Senhor), ordenando-lhe este a fuga para o Egito. Nesse país havia duas grandes e florescentes colônias israelitas, em Alexandria e em Heliópolis.

O Egito distava cerca de seis dias de viagem (perto de 250 milhas, a maioria das quais através de terras desertas). Era, porém, local seguro e lá também se refugiaram Jeroboatão (pretendente ao trono de Salom ão), o profeta Jeremias, Onias IV fundador do Templo Israelita de Leontópolis e outros.


Mateus não dá pormenores da viagem, que aparecem numerosos nos evangelhos apócrifos (Pseudo-

MT 18:24; Pseudo-Tomé, texto latino, cap. 1; evangelho árabe da infância, 10 a 25).

Não se sabe o local em que ficou a família de Jesus. Uma tradição antiga copta indica o Cairo. Nada de certo, porém.

Aí ficaram os três até a morte de Herodes. Sabemos que este faleceu sete dias antes da Páscoa, em março-abril do ano 4 A. C., ou seja, 750 de Roma.

Nascido em 747 (7 A. C.), Jesus teria então permanecido cerca de 3 anos no Egito, o que coincide com os dados de certos apócrifos (Pseudo-Mateus cap. 26; Pseudo-Tomé, texto latino, cap. 4; evangelho árabe da infância cap. 25 e 26).

A frase "Do Egito chamei meu filho" está no texto hebraico de Oséas (11:1).

Diversas anotações podem ser feitas em torno da viagem de Jesus ao Egito.

A "fuga" se dá à noite. O intelecto (José), iluminado pelo Alto (anjo) leva consigo a intuição (Maria) e o recém-nascido Homem-Novo (Jesus) e adentra-se pela noite do isolamento, a fim de favorecer o crescimento da "criança". Esta, enquanto nova e indefesa, não deve, não pode, permanecer no bulício das cidades: tal como a semente, que para germinar mergulha na noite do solo, assim o recémmanifestado Cristo necessita da solidão e do silêncio para desenvolver-se. Era mister fugir do "mundo" (Herodes) que desejava matá-lo, para que não fosse sufocada a plantinha ainda tenra e frágil.

Outra interpretação: todos os espíritos, na senda evolutiva, necessitam passar alguma (ou "algumas") fases na Terra, enclausurados, longe do bulício, treinando a meditação e o mergulho em si mesmos. Daí a existência de eremitérios e mosteiros, mantidos pelas religiões, para ajudar a esses que se encontram nessa fase. Sob esse aspecto, a viagem de Jesus pode ter significado a necessidade de isolamento entre irmãos que não fossem do próprio sangue (exatamente o que ocorre nos mosteiros e conventos). Essa reclusão temporária (relativamente à vida eterna do espírito) serve para educá-lo a sair do egoísmo familiar (consanguíneo) exercitando-se no amor aos não consanguíneos. (Não nos referimos, aqui, à pessoa de Jesus: estamos falando que o exemplo de Jesus ao fugir para o Egito, pode representar a fuga de nossos espíritos para longe da família carnal).

FIGURA "A FUGA PARA O EGITO" - Pintura de Bida, gravura de Braequemond Há outro ensinamento.

Após a permanência na escola de profetismo de Belém (mediunismo), o espírito precisa ir além, para sintonizar não mais com outros espíritos (sobretudo do plano astral), mas para vibrar em uníssono com as noúres divinas.

Então, depois da estada em Belém, e de ter passado pelo exame dos "magos", e de ter sofrido persegui ção da matéria e do mundanismo (Herodes), o espírito, vitorioso nessas provas, dá um passo além e segue, promovido, para outro santuário mais avançado.

Exatamente na cidade de Heliópolis havia outro templo iniciático, onde os candidatos de "envergadura" se exercitavam no espiritualismo mais profundo.

O novo ser, nascido do Encontro Deslumbrante, é ainda dirigido pelo intelecto (José) que recebe as ordens do Alto. A intuição (Maria), embora desenvolvida, ainda é fraca (mulher) e não chega ao ponto de poder agir sozinha. E o Homem-Novo, recém-nascido, é muito criança para poder andar por si. O intelecto (o órgão mais desenvolvido na anterior evolução, no estágio "homem") é que recebe o encargo de levá-los e dirigí-los até que, "morto Herodes" (isto é, liquidados os carmas materiais) possa ele caminhar pelos próprios pés e governar-se; e isso ele o fará já na qualidade de "Filho do Homem". Verificamos que é assim, porque o primeiro a desaparecer da cena do Evangelho é José o intelecto - e também a intuição é deixada de lado e admoestada quando quer intervir. Então, o Filho do Homem, agindo por si, manifesta o Cristo em toda a Sua plenitude e assombra o mundo.

Esse trajeto tem que ser seguido por todas as criaturas, através de suas vidas sucessivas. Jesus foi o EXEMPLO e o MODÊLO, e Sua vida na Palestina é um resumo vivo do que são, e do que serão, nos futuros milênios, as nossas vidas.

Assim como o homem revive, em cada vida, todas as suas anteriores etapas evolutivas, para só então recomeçar um novo passo na jornada do aperfeiçoamento, assim a última vida de Jesus nos apresenta, em uma só encarnação, o modelo de todas as nossas presentes e futuras etapas evolutivas.


EVOLUÇÃO ANIMAL-HOMINAL

Com efeito, quando o homem desce ao plano da matéria para nova experiência reencarnatória, sua ligação primeira se faz no óvulo, ainda na trompa ou Canal de Falópio. Note-se, porém, que o espírito NÃO ENTRA no óvulo: apenas SE LIGA, permanecendo de fora, a ele preso apenas pelo "cordão de prata" (EC 12:16).

Do óvulo, ele irradia suas vibrações que vão atrair o espermatozoide: e exatamente AQUELE espermatoz óide que é portador dos genes que sintonizam vibratoriamente com o espírito, e que portanto lhe poderá fornecer um corpo especificamente apropriado a essa etapa evolutiva desse espírito: com as qualidades e deficiências requeridas pelo estado evolutivo do espírito. Dizemos ATRAI, no mesmo sentido em que poderíamos afirmar que um aparelho de rádio, sintonizado nos 800 kilociclos, atrai as ondas hertzianas da Rádio Ministério da Educação e Cultura. "Atrai", pois, tem o sentido preciso de" sintonizar e receber".

Mas o espermatozoide, "alimentado" por essas vibrações sintônicas, recebe as energias indispensáveis para progredir em sua viagem, até o óvulo, passando à frente de seus concorrentes.

Dizíamos que o espírito "se liga" ao óvulo e, desde esse momento, passa a relembrar, ou melhor, a" refazer" todas as fases evolutivas por que haja passado desde seu ingresso na fase animal.

Começa como célula simples (protozoário unicelular = óvulo) e se vai desenvolvendo na mesma ordem sucessiva que há seguido durante milhões e milhões de anos. Logicamente sua evolução foi aquática, e por isso ele a revive mergulhado no líquido amniótico.

Mas essa revivescência, embora nos pareça lenta, é relativamente relampejante: o espírito revive em cada segundo de vida intra-uterina, milênios de vidas remotas, enquanto atravessava as fases animais, sem fixar, no entanto, exatamente as diversas formas da espécie.

Na fase correspondente à sua entrada na família dos sáurios, surge no feto o "olho pineal", como fase inicial da futura glândula do mesmo nome, e que lhe assinala a caracterização como individualidade personificada.

Terminada a "revisão" de toda a sua evolução animal, a criança rompe as barreiras da animalidade pura e passa ao estado hominal: nesse ponto preciso ocorre o nascimento. Surge o novo Adão (ADAM = homem) que é "expulso do paraíso" da irresponsabilidade animal (veja pág. 19, último parágrafo) e começa a ter que "comer o pão com o suor de seu rosto": respiração e alimentação não são mais "aproveitadas" da mãe. A criança é que tem que "esforçar-se" por si mesma. Vimos que, quando no estágio animal, o espírito era ainda irresponsável, agindo em perfeita harmonia com a Mente Cósmica Universal, porque o intelecto não intervinha para atrapalhar. Na" revisão " dessa fase, o feto vive em perfeita simbiose com a mãe, da qual tira tudo. " Expulso desse paraíso" animal, o recém-nascido chega ao reino hominal. Mas ainda não ao estado atual de "homo sapiens": vai antes reviver todo o desenvolvimento, desde o plano de homoide, ao homúnculo, ao "pithecânthropus erectus" (quando passa do engatinhar ao caminhar erecto), até chegar ao "homo sapiens" e às últimas vivências na Terra.


Quando atinge os sete anos, mais ou menos - a idade da razão - é que, então, recordada toda a escala evolutiva, o espírito penetra integralmente o novo corpo e inicia a nova jornada que se lhe abre ante o horizonte. Até então, o espírito permanece fora do corpo, comandando através do "cordão de prata"

todo o desenvolvimento de seu veículo físico. Por esse motivo é que a criança manifesta as características de primitivismo: egoísmo, destrutibilidade, etc.

Uma comprovação de tudo isso é o que se passa com espíritos mais evoluídos.

Realmente, quanto mais adiantado o espírito na escala, mais rapidamente percorre as etapas anteriores.

E se, em suas recentes vivências na Terra esses espíritos revelaram desenvolvimento de genialidade em qualquer ramo, aparecem as "crianças-prodígio", revivescência clara da última ou das últimas encarnações. Daí verificarmos que esses "prodígios" se revelam sempre antes do uso da razão.

Ao atingirem essa idade, em que se inicia a fase "atual", pode o espírito fazer florescer e progredir suas qualidades, e até desenvolvê-las mais ainda. No entanto, pode dar-se que a atual existência não apresente possibilidades de evolução maior. E vemos que, com frequência, a criança prodígio não atinge, em sua vida posterior, o que dela se esperava: não conseguiu adiantar-se com o mesmo ritmo.

E na idade madura é pessoa "comum". Quebrou o ritmo ascensional, quer por cansaço, quer por falta de ambiente propício, quer por motivos cármicos. Não houve, porém, regresso, mas diminuição ou afrouxamento ("rallentissement") na caminhada.

Compreendendo assim as coisas, descobrimos que a vida de Jesus em Sua última romagem terrena, foi o modelo que teremos que seguir, no estado posterior de "Filhos do Homem", verdade que já foi revelada por Paulo ao Efésios (Efésios 4:13) "até que TODOS CHEGUEMOS à plenitude da estatura de Cristo".