15. Estando o povo na expectativa e discorrendo todos em seus corações a respeito de João, se porventura não seria ele o Cristo,
16. disse João a todos "eu na verdade vos mergulho em água, mas vem aquele que é mais poderoso que eu, e não sou digno de desatarlhe as correias das sandálias: ele vos mergulhará no Espirito santo e no fogo:
17. a sua pá ele a tem na sua mão para limpar sua eira e recolher o trigo no seu celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível".
18. Assim, pois, com muitas outras exortações, anunciava a Boa Nova ao povo. MT
11. "Eu na verdade vos mergulho em água para a reforma mental; mas aquele que há de vir depois de mim é mais poderoso do que eu, e não sou digno de levar-lhe as sandálias; ele vos mergulhará no Espírito santo e no fogo;
12. a sua pá ele a tem na sua mão e limpará bem a sua eira; e recolherá seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível".
7. E ele pregava: "Depois de mim vem aquele que é mais poderoso que eu, diante do qual não sou digno de abaixarme para desatar-lhe a correia das sandálias.
8. Eu vos mergulhei na água, mas ele vos mergulhará no espírito santo".
Lucas esclarece a razão das explicações dadas por João: o povo aguardava ansioso o Messias, para libertá-lo do jugo romano. E crescia a desconfiança a respeito de João: não seria ele o messias? O precursor explica singelamente que sua tarefa é apenas preceder o Messias, preparar-lhe o caminho, mergulhar na água simbolizando a purificação, para que depois venha a reforma mental. Nada mais. O que virá depois, o "outro", é mais forte, mais poderoso que ele, e os mergulhará num espírito santo e no fogo. Claramente elucida João que ele fala para a personalidade e que "outro", mais elevado, falará para a individualidade. E dá suas características: ele se satisfaz com a mudança do pensamento, com a "reforma mental" (setenta anos antes, exclamava Cícero para Catilina: "muta jam istam mentem", muda logo essa mentalidade"!). Na personalidade, isso constitui o essencial. Mais tarde, quando já no rumo certo, depois de "rejeitados os erros", então poderá chegar "outro" para ensinar o progresso "de dentro" . Só depois de arrasada a velha casa pelos demolidores, poderá vir o construtor para erguer o novo prédio.
O "outro" mergulhará a individualidade "num espírito santo", fazendo-a sintonizar com os bons espíritos, e a fará penetrar "no fogo" da purificação (cfr. IS
Com uma imagem, João prefigura Jesus: "tem a pá na sua mão": é o Senhor, o Dono da Terra, comparada a uma eira (área de terreno liso e duro, onde se põem a secar os cereais para debulhá-los e limpálos; realmente, este planeta é uma "eira" para provação e seleção de nossos espíritos) . Prosseguindo na imagem, João mostra que o trigo (as criaturas humanas) de boa qualidade serão recolhidas ao celeiro, os frutos serão aproveitados; mas a palha (as personalidades transitórias, os corpos físicos, que só passageiramente revestem o "trigo" para depois serem abandonados) essa será queimada num "fogo inextingu ível" . Com efeito, o fogo purificador do amor divino é eterno e inextinguível em todos os universos, destruindo tudo o que é inútil, transitório e portanto prejudicial: é a palha dos defeitos, dos vícios, dos maus hábitos, da vaidade e do orgulho, do personalismo enfatuado e separador. Enquanto os grãos de trigo, moídos pela dor, irão constituir uma só farinha, formando um todo coletivo maior.
E Lucas conclui dizendo que essas, que ele exemplificou, eram as pregações de João, ao anunciar à humanidade a Boa Notícia de que o Reino dos Céus (a era da individualidade) estava próxima, já ia começar com a chegada de Jesus à Terra na missão divina, com o advento do Senhor à Sua eira.
O esclarecimento de João é taxativo e indiscutível: ele se dirige à personalidade exterior, aos planos do quaternário transitório (corpo físico, etérico, astral e intelecto), pedindo nova direção para este último e mergulhando na água o corpo físico, para que dela renasça a nova criatura. Mas o "outro", o Messias real, agiria na individualidade eterna, no trio superior, que ele mergulharia no espírito santificado e no fogo do Eu Supremo, colocando-o em contato com o Cristo Interno, com o Deus residente em cada um.
Jesus viria com a pá em sua mão: ao celeiro divino do Cristo recolheria os "maduros", ao passo que os imaturos seriam lançados ao fogo inextinguível de novas encarnações expiatórias, até que atingissem pleno amadurecimento.
Vemos, pois, duas qualidades de fogo, embora sejam ambas o mesmo fogo". Se aquele que mergulha no fogo divino está preparado, ficara inflamado pelo fogo do amor; se não no está, é consumido de dores e purificado dos carmas, queimando as impurezas. O mesmo se passa com o trigo: enquanto a palha e devorada pelo fogo, transformando-se em cinza, o grão moído, preparado e temperado é cozinhado pelo mesmo fogo, produzindo o saboroso e nutritivo pão que doura nossas mesas. O fogo é o mesmo: o efeito diferente depende da diversidade dos materiais que nele são colocados. Num provoca a destruição, noutro a criação de novas virtudes; num consome ilusões inúteis e vãs, no outro salienta as qualidades; num aniquila o mal que prejudica e atrasa, no outro prepara o alimento que sustenta e que, bem aproveitado, será assimilado ao Cristo (como o pão o é ao corpo), passando a constituir UM com Cristo, assim como Cristo é UM com Deus; ou seja, é recolhido ao celeiro".
E João, como personalidade, SABE que por maior que seja, jamais poderá chegar aos pés da individualidade: e a expressão "desatar-lhe as correias de suas sandálias" exprime bem a ideia: por mais alto que esteja pela cultura e pelo conhecimento teórico nunca chegará ao limiar da individualidade, se não realizar o encontro íntimo, por meio do Cristo.