18. Perguntaram-lhe pois os judeus: "que sinal nos mostras, pois que fazes essas coisas"?
19. Respondeu Jesus e lhes disse: "derrubai este Templo e em três dias o reerguerei".
20. Replicaram-lhe, então, os judeus: "há quarenta e seis anos é construído este Templo, e em três dias o levantas"?
21. Mas ele se referia. ao Templo de seu corpo.
22. Quando pois ressuscitou dentre os mortos, lembraram-se seus discípulos de que ele dissera isso, e creram na Escritura e na palavra que Jesus dissera.
Ao passar o primeiro impacto da confusão, os sacerdotes e policiais do Templo vão tomar satisfações.
Não Lhe pedem documentos, mas "um sinal".
"quando tiverdes destruído este Templo, em três dias o reerguerei".
O sentido literal parecia referir-se ao templo de pedra, e nesse sentido foram citadas essas palavras pela testemunha de acusação (MT
Referia-se Jesus ao seu corpo, o "Templo de Deus" ("’Não sabeis que sois o Templo de Deus e o Espírito Santo habita em vós"?, 1CO
Realmente o enigma é obscuro.
Os judeus retrucam : "este templo há 46 anos é reconstruído". De fato, o templo estava sendo reconstru ído, com grande resplendor, pela generosidade de Herodes, que iniciou a obra no 18. º ano de seu governo, em19A. C. (735 de Roma, cfr. Josefo, Ant. Jud. 15:11:1). Na época da narrativa, estávamos no ano 29 (782 de Roma) e se tinham passado exatamente 46 anos do início da reconstrução. (Os trabalhos prolongaram-se até o tempo do procônsul Albino, em 62-64, cfr. Josefo, Ant. Jud. 20. 9. 7). E esta é mais uma indicação precisa da cronologia da vida terrena, concordando com LC
A frase de Jesus causa ainda maior estupefação porque trabalhavam na reconstrução do templo dezoito mil operários, que ficaram ao desemprego ao terminarem as obras (cfr. Josefo, Ant. Jud. 20. 9. 7). Como um homem sozinho podia fazer esse trabalho, e em três dias? E que sinal seria esse que teria necessitado, primeiro, que se demolisse o templo, coisa absurda só de pensar? A inverossimilhança sustou qualquer julgamento precipitado. É um desses enigmas que só será compreendido depois de realizado, como anota João: só depois da ressurreição compreenderam-no os discípulos, de que estava Jesus falando.
não é do templo de pedra, mas é do Templo de Deus, o templo construído para ser chamado "do Senhor", ou seja, o corpo humano, a personalidade. A isso se referia Jesus, disso falaram os quatro evangelistas alegoricamente, como João explica quando fala da "destruição do templo". Mas nem todos conseguem penetrar o sentido profundo, só sabem ler literalmente, embora o próprio evangelista o explique logo a seguir.
Quando os judeus pedem um sinal de que tem autoridade, Jesus não lhos dá. Apenas faz uma afirmativa que os confunde, fazendo-se passar por inconsequente ou quase louco. Em linguagem vulgar diríamos "não deu confiança" a quem não tinha autoridade para pedir-lhe satisfações.
Assim também deve ocorrer com os discípulos. Quando o Espírito, nosso Eu Profundo, exigir de nós sacrifícios e restrições aos veículos inferiores, quase sempre estes se rebelam, sobretudo o intelecto, que pede "razões" e não quer entender. O Espírito, consciente de si, pode responder-lhe: ’"se esse templo (esse corpo) for destruído, eu o reerguerei em novo nascimento; em três dias", no sentido de rapidamente (como dizemos hoje: "em três tempos").
Isso sucede quando, para obras mais altas, exigimos de nós mesmos sacrifícios maiores, arriscamos nossas vidas para beneficiar o próximo; quando sentimos o impulso de atender doentes contagiosos e de pôr em risco nossos bens materiais, ou nosso ganha-pão, para resistir a uma falha de caráter, num abastardamento de nossa integridade moral; quando o Espírito nos impele a tudo sacrificar, quase sempre o intelecto procura obstar a esses atos de heroísmo e "loucura" e, infelizmente, quase sempre o intelecto vence o coração... arrasta-nos ao erro, quando deveríamos arrostar a morte (como o fizeram os mártires dos primeiros séculos do cristianismo), contanto que não traíssemos nossa fé.
A lição permanece: se o templo for destruído, o Espírito o refará logo. Mas se o "espírito" for sacrificado, teremos a desgraça: "não temais os que matam o corpo, mas não podem matar o "espírito"; temei antes os que podem matar o corpo e o espírito na geena" (MT