Sabedoria do Evangelho - Volume 1

CAPÍTULO 7

NASCIMENTO DE JOÃO



LUC. 1:57-80

57. Chegado o tempo de dar à luz, Isabel teve um filho.


58. Seus vizinhos e parentes, sabendo da grande misericórdia que o Senhor manifestava para com ela, participavam de seu regozijo.


59. No oitavo dia vieram circuncidar o menino, e iam dar-lhe o nome de seu pai: Zacarias.


60. Sua. mãe, porém. disse: "Não, mas será chamado João".


61. Disseram-lhe: "Ninguém há entre teus parentes que tenha esse nome".


62. E perguntavam por acenos ao pai que nome queria que lhe pusessem.


63. Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu: "João é seu nome". E todos se maravilharam.


64. Imediatamente lhe foi aberta a boca e solta a língua, e começou a falar, bendizendo a Deus.


65. O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos e divulgou-se a notícia de todas essas coisas por toda a região montanhosa da Judeia;


66. e todos os que delas souberam, as guardavam no coração dizendo: "Que virá a ser então, esse menino"? Pois na verdade a mão do Senhor estava com ele.

A expressão "chegado o tempo de dar à luz" é repetição de GN 25:24, e a atribuição do fato à miseric órdia divina reproduz GN 19:19. O acontecimento causou grande alegria e alvoroço entre a parentela e a vizinhança.

O evangelista passa então a narrar a cena da circuncisão, de acordo com a lei (GN 17:12; GN 21:4 e LV 12:3) . O rito da circuncisão não era atribuição sacerdotal: qualquer israelita podia desempenhá-lo, mesmo na residência dos pais; em todas as localidades havia (e ainda hoje existe) o MOHEL, pessoa habilitada para essa delicada operação no recém-nascido.

O fato de Lucas citar a presença de Isabel demonstra que a operação se realizou em sua residência, pois a mulher que dava à luz só podia sair de casa quarenta dias depois do parto.

No ato da circuncisão, rito pelo qual o menino era oficialmente incluído no povo israelita, era-lhe imposto o nome. Causa estranheza o fato de quererem colocar no filho, o nome do pai, o que contrariava o costume israelita. Mas, em vista da idade provecta do pai, não haveria futuramente possibilidade de confusão entre os dois.

Nesse ponto intervém Isabel, que quer dar ao menino o nome de João. Os parentes não aceitam a sugest ão porque fugia aos hábitos judeus não só ser o nome escolhido pela mãe, como ainda que se impuser se um nome que já não houvesse na família. Por isso interrogam Zacarias "por acenos" (demonstrando sua surdez temporária). Este pede uma tabuinha recoberta de cera e com um estilete escreve o nome de João, confirmando o que dissera Isabel. O evangelista anota a admiração de todos e a divulgação que teve a notícia nas redondezas.

A expressão "guardar no coração" é típica do hebraico (Cfr. 1RS 21:12 e Iso 57:
1) e exprime refletir, tomar em grande consideração. Outra expressão idiomática aparece em "a mão do Senhor", significando a proteção divina (Cfr. AT 11:21 e AT 13:11).

Logo que o Sublime Encontro se verifica, nascendo o Homem-Novo temos a passagem direta da Luz do mental, que não necessita mais da mediania da intuição, chegando em cheio ao intelecto e tornandoo iluminado (Buddha). A intuição (Isabel), ponte entre os dois, uma vez que apresentou ao intelecto (Zacarias) o resultado da busca (o filho), se retraio O intelecto, ao verificar a Verdade e a Realidade, digamos (’palpável", explodirá em palavras de alegria incontida e de elevação espiritual (cujo exemplo o evangelista nos dará no "Cântico de Zacarias", logo a seguir).

Temos, pois, que o intelecto saiu da contemplação, da meditação silenciosa (da surdez e mudez de vários meses) e quase não acha palavras para agradecer o prodígio. Descendo dessas alturas, voltará a "sentir" os veículos físicos, que estavam esquecidos durante a meditação.

Não admite (como a intuição já sugerira) que produto tão divino seja chamado simplesmente "lembran ça de YHWH"; não: o nome só pode corresponder à realidade do ocorrido: "YHWH foi favorável".

Ao retomar contato com seus veículos de manifestação, trazendo consigo o "filho", há uma alegria indescritível entre todos os "parentes e vizinhos", ou seja, em todas as células e órgãos, tanto os do corpo perispiritual ou astral, como de suas correlatas no físico denso: todas vibram de intenso regozijo, eliminando males e mazelas e participando plenamente da Vida.

A circuncisão simboliza o corte de todos as prazeres emocionais, que daí por diante não terão mais expressão nem atrativo para ele. E o "temor que se apodera de todos os vizinhos" exprime o choque traumático, produzido em todos os órgãos e células, que se sentem aniquiladas, quando o espírito imerge no infinito. Esse choque e o respectivo temor se estendem por "toda a região montanhosa da Judeia", isto é, por toda a personalidade. A anotação "região montanhosa" refere-se à personalidade em sua parte mais elevada, em sua manifestação mais alta, que é o intelecto, o qual se sente minúsculo, pequeno, insignificante, perante a grandeza e infinitude do fenômeno experimentado.

Todas essas sensações, entretanto, são "guardadas no coração", isto é, são mantidas secretas, e não contadas a todos indiscretamente. Apenas a criatura se pergunta a si mesma: "que me ocorrerá agora" ? Porque, realmente, ela sabe e sente que "o Senhor, o Cristo Cósmico, Está com ela".