18. Ora, a. concepção de Jesus Cristo ocorreu desta maneira: sendo Maria, sua mãe, noiva de José, antes que se ajuntassem ela rol achada. grávida de um espírito santo.
19. E José, seu noivo, sendo reto e não querendo infamá-la. resolveu deixá-la secretamente.
20. Tendo, porém, meditado nessas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos dizendo: "José, filho de David, não temas receber em casa Maria como tua mulher, pois o que nela. foi gerado é de um espírito;
21. ela dará à luz um filho a. quem chamarás JESUS, porque ele salvará seu povo dos pecados deles".
22. Ora. tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que dissera o Senhor pelo profeta:
23. "eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho e ele será chamado Emanuel, que quer, dizer Deus conosco".
24. Tendo José despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara e recebeu sua mulher.
25. e não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de JESUS.
Encontramos duas narrativas a respeito do mesmo fato, em Mateus
Havendo diferença entre os dois textos, comentá-los-emos em separado.
Tanto que, mais tarde (2:
23) diz que, quando José regressava do Egito para sua casa (Belém), ao saber que Arquelau, filho de Herodes, é que lá reinava, resolveu ir morar na Galileia, a conselho do anjo, na cidade de Nazaré, "para que o menino pudesse realizar a profecia e ser chamado nazareno". Portanto, para Mateus, Nazaré era um lugar ainda desconhecido de José e de Maria, ao passo que, par Lucas, Nazaré era a residência normal dos dois.
Mateus não fala da viagem de Maria. Mas José só podia "descobrir" a gravidez quando desta aparecessem sinais externos, o que só ocorre no 4. . º ou 5. . º mês, isto é, exatamente quando do regresso de Maria da casa de Isabel.
Sendo bom, José não quis infamá-la. Os direitos dos noivos eram equiparados aos dos já casados, tanto que: a) a noiva infiel devia ser apedrejada, como se já fora esposa (DT
Diz Mateus que José, na dúvida entre acusá-la perante o Sinédrio, difamando-a, ou repudiá-la com uma "carta de divórcio", optou pela segunda hipótese, pois para isso bastava uma carta assinada por ele diante de duas testemunhas, o que não provocava escândalo.
Tendo meditado nessas coisas e tomado sua resolução, deitou-se para dormir. Foi quando, em sonhos, recebeu a visita de um "anjo do Senhor" ou, na linguagem moderna, um "espírito bom". Aparece aqui a mediunidade "onírica’ ou de sonhos, confirmada como existente em José, logo a seguir, em mais quatro passos (2:12, 13
Nossa tradução do versículo 20 difere das traduções correntes, porque seguimos o texto original grego.
ν;
3) "receber Maria como tua mulher", porque se trata da construção de "duplo acusativo" (por exemplo, receber alguém como hóspede);
4) "o que foi gerado nela é de um espírito", porque em grego não há artigo, (logo é indefinido) e nem sequer aparece o adjetivo "santo", que só foi introduzido no texto latino da Vulgata.
FIGURA "Revelação a José" Ao aceitar Maria sua noiva, embora já grávida de vários meses, como sua esposa, José assumia automaticamente a paternidade legal o nascituro.
O espírito que fala a José, no sonho, repete-lhe as palavras que Gabriel dissera a Maria, quanto ao menino, impondo-lhe o mesmo nome. E Mateus traz, em apoio, uma citação do profeta Isaías (Isaías
A profecia de Isaías afirma que "uma virgem conceberá e dará à luz um filho". O termo "virgem" merece estudado.
Em hebraico há duas palavras: betulân, que especificava a virgindade como certa; e almâh que exprimia uma oposição, sem garanti-la. Ora, Isaías escreve exatamente almáh. E verificamos que, em DT
A mesma designação é atribuída a Maria, demonstrando que, ao lhe ser dada como noiva, era virgem, o que é natural e normal. No entanto, em nenhum local dos Evangelhos se diz, nem se supõe, que Maria continuou Virgem depois. Ela era virgem quando concebeu, o que de modo geral ocorre com todas as moças.
Esses nossos esclarecimentos não visam a diminuir o respeito e a veneração que todos temos pela Mãe Santíssima de Jesus, pois o fato da virgindade nenhuma importância apresenta diante da espiritualidade.
A IMPOSIÇÃO DIVINA do uso do sexo para manutenção e multiplicação de Sua criação, nos diversos estágios evolutivos (plantas, animais e homens) vem provar que o sexo é SANTO. Não podemos admitir que Deus, Sábio e Bom, tivesse imposto obrigatoriamente as Suas criaturas uma condição que, ao cumpri-la, as tornasse imperfeitas. Se no ato sexual houvesse uma leve imperfeição sequer, ou um sina1 de atraso espiritual, esse Deus seria monstruosamente mau, pois teria obrigado Sua criação a ser imperfeita e atrasada, afim de manter e multiplicar Suas obras. Portanto, compreendendo o ato sexual em si e a maternidade como perfeições altamente espiritualizantes (porque são o cumprimento de uma Lei Divina), achamos que Maria se engrandece perante Deus com a maternidade normal, porque assim dá demonstração de ser fiel e obediente cumpridora da Vontade Divina. Compreendendo bem esse problema, o jesuíta padre Teilhard de Chardin atribui à sexualidade um sentido cósmico e afirma qu "o mundo não se diviniza por supressões, mas por sublimação", e ainda: "que o homem e a mulher tanto mais se unirão a Deus, quanto mais se amarem", não vendo apenas "o objetivo admirável mas transitório da reprodução", mas "o de dar plena expansão à quantidade do amor, liberado do dever da reprodução". E diz claramente, sem subterfúgios: "a mulher é, para o homem, o termo susceptível de impulsionar esse progresso para a frente. Pela mulher, e só pela mulher, pode o homem escapar ao isolamento, no qual sua própria perfeição se arriscaria prendê-lo" (L’énergie humaine", édition Seujl, pág. 93 a 96). Realmente a união sexual dentro do amor é a imagem mais fiel da união do homem com a Divindade, e por isso os místicos denominam essa unificação do homem com Deus de "Esponsalício".
Sob a figura dos fatos que narra, revela-nos Mateus o que normalmente ocorre com o intelecto (José) quando recebe o impacto da revelação por parte da intuição (Maria;): assusta-se, raciocina, pequire, medita, e não consegue ter outra saída senão a de recusar o que lhe traz a intuição.
Muito bem apresentado o fato, para descrever a luta intelectual das criaturas e sua resolução final: repudiar as "loucuras" da intuição. Na realidade, vemos, pela narrativa dos "fatos", que a intuição recebeu a revelação do espírito (Eu interno), ANTES de unir-se ao intelecto: foi ela a primeira a" conceber" a ideia. E a "concebeu" virginalmente, por obra do Espírito (Eu interno) e não por interm édio de outro qualquer homem.
No entanto, quando há real sinceridade intelectual (sendo "justo"), aparece um auxílio, e por vezes de modo imprevisto. Com José deu-se o fato fora do corpo denso. Quando à noite se achava o intelecto desprendido do cárcere da caixa craniana no cérebro, e portanto estando ampliada sua visão compreensiva, ele intelecto vê, e aceita, porque compreende que a intuição foi iluminada e concebeu "pelo espírito", e não por divagações traiçoeiras. Ao verificar esse fato de suma importância, o intelecto aceita unir-se à intuição, aceitá-la "como esposa" isto é, na maior intimidade e fusão de dois em um, até que possa nascer o fruto anunciado.
Todavia a união não é ainda total e perfeita. Só o será quando aparecer a realidade do filho; por isso diz o evangelista: "não a conheceu enquanto não lhe nasceu o filho". Só aí é que o intelecto se unifica à intuição, para que ambos usufruam da felicidade incomensurável da presença de "DEUS CONOSCO", do Cristo interno manifestado às criaturas.
Não há negar que os segredos revelados pelos Evangelhos, como por todos os livros sagrados da Humanidade, são feitos através de fatos reais e de narrativas maravilhosas. As palavras são escritas de tal forma, os pormenores descritos com tal cuidado, que o leitor desprevenido apenas lê e compreende o que está realmente escrito, e não avança para o sentido profundo e místico que essas palavras querem ensinar. Por isso Jesus ensinava "em parábolas", e seus discípulos lhe seguiram fielmente os ensinamentos, para que a profundidade dos conhecimentos não atordoasse nem atordoasse aqueles que "não podiam suportar" (JO