Sabedoria do Evangelho - Volume 2

CAPÍTULO 27

CURA DA MÃO A TROFIADA



(CAFARNAUM, SÁBADO, 29 DE MAIO DE 29 A. D.)

MT 12:9-14


9. Tendo Jesus partido daquele lugar, entrou na sinagoga deles.


10. E achava-se ali um homem que tinha a mão atrofiada; e o para que o acusassem perguntaram-lhe: "é lícito curar aos sábados"?


11. Respondeu-lhes ele: "qual é o homem dentre vós que, tendo uma ovelha, se ela ao sábado cair numa cova, não a apanha e tira?


12. Ora, quanto é superior um homem a uma ovelha! Logo é lícito fazer o bem aos sábados".


13. Então disse ao homem: "Estende tua mão" Ele a estendeu, e a mão lhe foi reconstituída sã como a outra.


14. Mas, saindo dali, os fariseus reuniram-se em conselho, para resolver como o destruiriam.


MC 3:1-6


1. Entrou Jesus outra vez na sinagoga, e aí se achava um homem que tinha uma das mãos atrofiada.


2. E observavam-no para ver se o curaria no Sábado, a fim de o acusarem.


3. Disse Jesus ao homem que tinha a mão atrofiada: "Levanta-te e vem para o meio de nós".


4. Então lhes perguntou: "É lícito, aos sábados, fazer o bem ou o mal, salvar a vida ou tirá-la? Mas eles ficaram silenciosos.


5. E olhando em redor com desgosto, entristecido pela insensibilidade de seus corações, disse ao homem: "Estende tua mão". Ele a estendeu e a mão lhe foi reconstituída.


6. Saindo dali, os fariseus entraram logo em conselho com os herodianos contra ele, para ver como o destruiriam.

luc. 6:6-11

6. Aconteceu em outro sábado entrar na sinagoga e ensinar; ora, achava-se aí um homem que tinha a mão direita atrofiada,


7. e os escribas e fariseus observavam-no para ver se ele o curava no Sábado, a fim de acharem acusação contra ele.


8. Mas conhecendo-lhes ele os pensamentos, disse ao homem que tinha a mão atrofiada: "Levanta-te e fica em pé no meio de nós". E ele levantou-se e ficou de pé.


9. Disse-lhes Jesus: "Perguntovos: é lícito no Sábado fazer o bem ou o mal, salvar a vida ou tirá-la"?


10. E olhando para todos os que o rodeavam, disse ao homem: "Estende tua mão". Ele a estendeu, e a mão lhe foi reconstituída.


11. Mas eles encheram-se de raiva e discutiam uns com os outros, para ver o que fariam a Jesus.

Outra cena passa-se ainda na sinagoga "deles", também num sábado (provavelmente a 29 de maio).

Aqui, os fariseus não esperam o fato para depois criticá-lo: tomam a dianteira, como que para avisá-lo de que não transgrida a lei mosaica. A pergunta que lhe dirigem é capciosa. Tinham eles a certeza do comportamento de Jesus, pois já o haviam testemunhado com frequência: à vista da enfermidade, ficava condoído e curava, não resistindo à compaixão que Lhe causava o sofrimento alheio. Todavia, eles buscavam situações em que pudessem acusá-lo.

A "mão atrofiada" (em grego zêrê, "sêca" - só Marcos emprega o particípio eyêramménên, dando a ideia de que não era congênito o mal, mas fora paralisada e ficara descarnada por acidente), era, segundo Lucas, a "mão direita".

Jerônimo (Patr. Lat. vol. 26 col.
78) escreve: "No Evangelho usado pelos nazareus e pelos ebionitas (é apócrifo), e que geralmente é tido como o original de Mateus, está dito que esse homem, cuja mão se atrofiara, era pedreiro, e implorava o socorro com estas palavras: sou pedreiro e ganho a vida com o trabalho das mãos: peço-te, Jesus. dá-me saúde, para que não passe vergonha de ter que mendigar para viver".

A resposta de Jesus obedece ao tipo de casuística rabínica, argumentando, do menos ao mais. Se pode salvar-se uma ovelha de afogar-se, num Sábado, quanto mais um homem, de muito superior. A conclus ão é clara: "é lícito curar num Sábado". E imediatamente passa à ação.

Num comportamento que demostra uma ostentação deliberada, Jesus manda que o doente fique de pé, no meio da assembleia, para que todos o vejam e se condoam, verificando, ao mesmo tempo, a cura sensacional.

E então pergunta: "é lícito fazer o bem ou o mal"? Essa pergunta emudece os fariseus, atrapalhados em sua má-fé. Não poderiam dizer que não era lícito fazer o bem, pois seriam condenados por todos. E se dissessem que fazer o bem era lícito, apoiariam plenamente a ação de Jesus.

Diante do embaraço deles, Jesus olha em redor (periblepsámenos, expressão que volta em MC 3:34-5:32:9:8; 10:23 e 11:
11) com desgosto. Já vimos o sentido de orgê, na pág. 25 deste volume: insatisfação, desgosto, paixão, mas nem ira, nem raiva. E além disso, sentiu profunda tristeza e compaix ão (sullupoúmenos) que se revelaram em Sua expressão facial. Não podia compreender a insensibilidade (o "endurecimento": o termo grego pórôsis exprime o endurecimento de algo que normalmente é mole) de seus corações.

E então, sem um gesto sequer, mas com simples palavras, realiza a cura. Não violara o repouso do sábado, pois em lugar algum se dizia que era proibido falar. E eles ficaram com raiva deles mesmos, diante de sua impotência de opor-se a Jesus. Sem cogitar de "impurezas legais", vão unir-se aos herodianos: era indispensável levar a guerra àquele homem até o extermínio, pois ele os desprestigiava e humilhava seu orgulho.

E foi tomada a decisão (sumboúlion edídoun) de eliminá-lo.

Depois dos ensinamentos teóricos, um exemplo prático.

O homem atrofiara sua mão, e dela precisava para seu serviço. Jesus cura-o, arrostando com isso o ódio dos "donos da religião", aliados, como sempre, ao "poder temporal", que bajulam para não perder os favores transitórios da Terra.

Mas essa é a lição "externa".

Internamente, vemos que a individualidade deve despreocupar-se de tudo o que possam dizer ou fazer os outros, e agir sempre no interesse do aperfeiçoamento de sua personalidade.

Se nossa personalidade está atrofiada em sua mão direita, ou seja, se não agimos com devêramos, por qualquer motivo, a individualidade deve colocar-nos, como exemplo, no meio da multidão e modificar de público nossa atuação, sem temor dos julgamentos apressados que nos condenarão à morte.

O que desgosta e entristece Jesus (a individualidade) é verificar a má-fé, a incapacidade de compreender, daqueles que, estando revestidos de autoridade, têm os corações insensíveis, as mentes obturadas, e não vêem, porque não querem ver: endureceram a mente, cadaverizaram o pensamento, enrijeceram o raciocínio em moldes imutáveis e, sem piedade, colocam os preceitos (que eles mesmos ou seus antecessores estabeleceram) acima das criaturas.

Jesus ensina e exemplifica uma coisa, mas muitos pensam "provar" que são Seus discípulos, quando fazem exatamente o contrário do que Jesus disse e praticou! Realmente, corações incapazes de compreens ão, de maleabilidade, de misericórdia!

Mas Ele mesmo nos ensinará o que devemos fazer nesses casos.