Sabedoria do Evangelho - Volume 2

CAPÍTULO 28

JESUS RETIRA-SE



MT 12:15-21


15. Sabendo disso, Jesus retirouse daquele lugar. E muitos o acompanharam, e ele curou todos,


16. advertindo-os de que não o dessem a conhecer,


17. para cumprir-se o que foi dito através do profeta Isaías:


18. "Eis meu servo que escolhi, meu amado, em quem minha alma se deleita; sobre ele porei meu espírito, e ele anunciará o certo às nações;


19. não discutirá nem gritará, e ninguém ouvirá sua voz nas praças.


20. Não esmagara a cana rachada, nem apagará o pavio que fumega, até que faça triunfar o certo.


21. E em seu nome esperarão as nações".


MT 4:24-25


24. Sua fama correu por toda a Síria; trouxeram-lhe todos os enfermos, acometidos de várias doenças e sofrimentos, obsedados, epilépticos e paralíticos, e ele os curou.


25. Muita gente o seguiu da Galileia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e d"além Jordão.


MC 3:7-12


7. Jesus retirou-se com seus discípulos para o lado do mar: e da Galileia o seguiu grande multidão.


8. Também da Judeia, de Jerusalém, da Iduméia, d"além Jordão e das circunvizinhanças de Tiro e de Sidon, sabendo o povo quantas coisas fazia Jesus, foi ter com ele em grande número.


9. E ele recomendou a seus discípulos que tivessem um barquinho sempre à sua disposição, por causa da multidão, a fim de que não o apertasse,


10. porque curou muitos, de modo que todos os que padeciam qualquer doença, se arrojavam a ele, para que os tocasse,


11. e os espíritos atrasados, quando o viam, prostravamse diante dele e clamavam: "Tu és o Filho de Deus".


12. E muitas vezes os advertiu que não o dessem a conhecer.

Sabendo o que se passava, Jesus resolve retirar-se, afastando-se daquele lugar. E Mateus, segundo seu hábito, aproveita o fato para citar Isaías, (42. 1-4), embora algo modificado. Eis o texto do profeta na íntegra: Eis meu servo, que eu sustento, meu escolhido, em quem minha alma se alegra. Nele coloquei meu espírito. Ele exporá o certo às nações. Não o ouvirão gritar nem falar alto, nem elevar a voz nas praças; não quebrará a cana rachada nem apagará o pavio que fumega. Exporá fielmente o certo, não se cansar á, nem fatigará, até que tenha estabelecido o certo na Terra, e as ilhas esperarão sua doutrina".

O termo grego krísis, geralmente traduzido como "juízo" ou "julgamento", tem precisamente o sentido de triagem, isto é, separação do certo e do errado do bem e do mal, e, por extensão, "escolha" daquilo que é direito ou certo. Realmente a escolha, numa triagem, supõe um julgamento. Mas muito melhor se compreenderá o sentido traduzindo, aqui, como "o certo" do que se o fizéssemos com a palavra "julgamento" : o Emissário Divino ensinará "O CERTO", e não ensinará o julgamento, coisa que não faria sentido. Não se cansará até que O CERTO chegue à vitória, e não até que o julgamento chegue à vitória.

Sua fama se espalha com rapidez pela Síria (de fácil comunicação com a Palestina) e de lá também chegam doentes físicos e espirituais, e a todos Jesus cura. Com a má-vontade dos fariseus, contrasta o entusiasmo do povo que o procura e acompanha de diversas partes. A Decápole era uma confederação de dez cidades (segundo Plínio, Hist. Nat. 5,18,74, eram: Damasco, Filadélfia (Aman), Rafana, Citópolis (Beisan), Gadara, Hipos, Dion, Pela, Gelasa (Gerasa) e Canata). Todas, exceto Citópolis, ficavam além Jordão. Segundo Marcos, vinha gente de Jerusalém e da Judeia, da Iduméia (território que ia de Jerusalém até Betsur, chegando além do Hebron, e que era a terra dos Herodes). O além Jordão, segundo Josefo (Bel. Jud. 3. 2.
3) era a Peréia, território entre o Jabok e o Arnon, indo de Maquérus, a este do Mar Morto, até Pela. Mas também chegava gente do nordeste, da região de Tiro e de Sidon.

Realmente, as ruas estreitas de Cafarnaum não ofereciam segurança: muito melhor era pregar nos campos abertos, nas praias do lago, onde poderia falar abertamente, sem ser obrigado a discutir seus atos com os fariseus. De agora em diante, vemos que Jesus se afasta cada vez mais das sinagogas. E quanto mais o clero oficial o persegue, mais o povo o procura, e a maior satisfação de Jesus é, sem dúvida, descer aos pequeninos, abandonando os grandes e sábios que Lhe recusam ouvir os ensinamentos, cheios que estão de sua própria vaidade de "sabedores" de suas Escrituras e de "seguros" em suas tradições seculares e milenares. "Quem provou o vinho velho, não quer saber do novo". Todos os reformadores sempre tiveram que apoiar-se no povo menor, e sempre sofreram a perseguição das "autoridades" que jamais desejam perder seu prestígio de mando e sua "cotação" de senhores da situação e de "donos de Deus". Ainda hoje é assim.

Ao ver a impossibilidade de conseguir compreensão daqueles a quem falava e ensinava, ilustrando seu ensino com exemplos, a individualidade retira-se. É a aplicação da parábola "da vinha" (cfr. MT 21:33-46). Se aquelas personalidades se recusam a ouvi-Lo, Ele irá a outros mais acessíveis.

O texto de Isaias, aplicado por Mateus, diz claro que a misericórdia da Individualidade sabe aproveitar todos os menores indícios de possibilidade de aperfeiçoamento. Que, embora a cana já esteja rachada, a Individualidade não a acabará de partir. Que embora o pavio já esteja apenas fumegando, ela não o apagará de todo. Não. A individualidade, em união com o Cristo Interno, aproveita as mínimas possibilidades para "salvar", para levar ao bom caminho.

E só estará satisfeita e feliz, quando a personalidade tiver feito sua escolha definitiva. ainda que, para isso, tenha que esperar múltiplas encarnações, durante muitos séculos.

Claro que, com esse modo de agir, a individualidade atrairá a si multidões de sofredores, de todas as partes. Mas, para não deixar-se envolver pela multidão, terá sempre à mão, à sua disposição, u "barquinho", um meio de fuga, onde possa refugiar-se em prece, todas as vezes que se sentir "apertado", acossado pelas arremetidas das personalidades insatisfeitas.

E, não obstante desconhecido pelos encarnados, os desencarnados, que vêem sua aura, dirão sem pejo que ali está um Filho de Deus. Mas a individualidade, pela humildade e modéstia inerentes a seu próprio adiantamento, sempre há de pedir silêncio em torno de si.

Essa a razão pela qual, os que tiveram o Encontro Real, jamais o dizem; pois os que o dizem, pensam que encontraram o Cristo Interno, mas apenas realizaram o encontro com seu próprio eu ilusório e pequenino. E os primeiros, nem mesmo permitem que o digam aqueles que o sabem. A lição também é aproveitável para as sessões mediúnicas: cuidado com os espíritos que elogiam: não são elevados, são bajuladores: façamo-los calar-se!