Sabedoria do Evangelho - Volume 2

CAPÍTULO 45

OS JULGAMENTOS



MT 7:1-5


1. Não julgueis para que não sejais julgados,


2. porque com o juízo com que julgais, sereis julgados, e com a medida que usais, com essa vos medirão.


3. Por que vês o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que tens no teu?


5. Hipócrita, tira primeiro a viga de teu olho e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho de teu irmão.


LC 5:37-38 e LC 5:41-42

37. Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados.


38. Dai e vos será dado; boa medida, recalcada, sacudida, transbordando vos porão no regaço; porque a medida com que medis, com essa medirão para vós.


41. Por que vês o cisco no olho de teu irmão, mas não percebes a viga que está no teu?


42. Como poderás dizer a teu irmão: "deixa-me tirar, irmão, o cisco de teu olho", se não vês a viga que está no teu? Hipócrita, tira primeiro a viga de teu olho e então enxergarás bem para tirar o cisco que está no olho de teu irmão.

É comum na humanidade o julgamento de nosso" companheiros de viagem. Habitual que tudo o que não está de perfeito acordo com nosso modo de entender as coisas seja, imediatamente, submetido a um tribunal sem apelação, passado em julgado e geralmente condenado. Embora aceitemos como natural o amor que sentimos por alguém, julgamos mal quando vemos qualquer companheiro amando outra criatura. Apesar de sentir-nos isentos da obrigação de ajudar alguém, logo julgamos e condenamos ao ver que outrem, nas mesmas circunstâncias, não dá ajuda. Achamos que é "abuso" quando alguém nos solicita certos favores, que pouco antes não hesitamos em fazer a outra pessoa. E assim por diante. São julgamentos precipitados, que olham apenas certas circunstâncias externas; são julgamentos maliciosos, por vezes temerários, emitidos sem conhecimento de causa; e são julgamentos inapeláveis, que não admitem contestação, e geralmente definitivos, dificilmente admitindo nós a possibilidade de voltar atrás.

Na frase de Jesus encontramos uma repetição das fórmulas talmúdicas, que diziam respeito à lei d "causa e efeito". Na Sota 1, 7 lemos: "a medida com que alguém mede, serve para que ele seja medido com ela". E são dados exemplos: Sansão pecara com os olhos, por isso os filisteus os furaram"; e ainda: " Absalão orgulhava-se de sua cabeleira, por isso ficou suspenso pelos cabelos" (Sota, 1, 8). Vários outros exemplos são dado: em Strack-Billerbeck, o. c., pág. 444 e 445.

Para esclarecer bem seu pensamento, Jesus traz o exemplo do cisco no olho, comparando-o com uma viga (hipérbole arrojada), que o julgador tenha no próprio olho. Como poderá alguém, que tenha um defeito maior, julgar e querer corrigir um defeito menor em seu irmão? Mas é o que frequentemente sucede. Não duvidamos em julgar, sem olhar para nós em primeiro lugar.

E o preceito vem a seguir: corrige-te antes, para depois julgares e corrigires os outros.

Lucas acrescenta mais um tópico; depois de assinalar que não devemos julgar, aduz: "não condeneis, para não serdes condenados". Com efeito, nestes casos o julgamento supõe a condenação, e é isso que deve ser evitado, pois se trata de um produto de nossa vaidade natural, que nos faz sempre julgar me lhores e superiores, mais virtuosos e menos defeituosos. Toda essa maneira de agir traz consequências desastrosas pelo carma que adquirimos.

O ensinamento visa muito à individualidade, que é avisada de não julgar as personalidade alheias.

Jamais podemos saber as causas longínquas e ocultas que levam certas personalidades a ter determinado comportamento. Há casos complicadíssimos, que não podem ser compreendidos por quem está fora do problema, não lhe conhecendo os antecedentes. Casos de amor que condenamos, e que, por vezes, são resgates cármicos. Casos de desvios "assustadores" na moralidade, que constituem experiências indispensáveis à evolução do "espírito". Caso, de homicídio que podem representar libertações definitivas à e mentalizações insistentes de vidas pretéritas. Tudo isso, ao lado de outros casos idênticos NA APARÊNCIA, e que realmente constituem quedas fragorosas e involuções morais e espirituais, a criar dolorosos resgates. Como podemos julgar, se não temos em mãos os dados para armar a equação desses caso que temos sob os olhos?

Qualquer julgamento é perigoso e temerário, arriscando-nos a ser injustos e a acarretar contra nós pesados débitos, não apenas pela divulgação do que imaginarmos, como sobretudo pela criação de formas mentais que coagirão aqueles sobre os quais lançamos nosso julgamento.

A obrigação, portanto; de nossa individualidade é primeiramente colocar a própria personalidade na linha certa, a fim de poder progredir em paz. Nada temos que ver com os outros, a não ser amá-los e a eles servir, sem levar em conta, jamais, qualquer ato ou palavra por eles realizado ou emitida.

Eduquemos de tal forma nosso pequeno eu, que o habituemos a desculpar sempre, embora as aparências estejam todas contra o infrator; acostumemo-nos a perguntar-nos: "neste caso, como teria agido eu"? E depois coloquemo-nos em nossa posição de observadores e tornemos a indagar: "e neste caso em que me acho, como agiria Jesus"?

Veremos que, com esse modo de agir, sustaremos qualquer veleidade de julgamento. Essa foi a ordem taxativa de Jesus, que continua sendo nosso Mestre Inefável e Sábio.