(Ano 30 A. D. ou 783 A. U . C. - Janeiro - Fevereiro)
5. A estes doze (veja vol.
2) enviou Jesus, dando-lhes estas instruções: "Não ireis pelas estradas dos gentios, nem entrareis nas cidades dos samaritanos, 6. mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel.
7. Pondo-vos a caminho, pregai dizendo "está próximo o reino dos céus".
8. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os espíritos desencarnados; de graça recebestes, de graça dai.
9. Não vos provereis de ouro, nem de prata, nem de bronze em vossas cinturas;
10. nem de alforge para a jornada, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão, pois é digno o operário de seu sustento.
11. Em qualquer cidade ou aldeia em que entrardes, indagai quem nela é digno; e aí ficai até vos retirardes.
12. Ao entrardes na casa, saudai-a
13. e se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas se o não for, torne para vós vossa paz.
14. E se alguém vos não receber nem ouvir vossas palavras ao sairdes daquela casa ou daquela cidade, sacudi o pó de vossos pés.
15. Em verdade vos digo, que no dia do carma haverá menor rigor para a terra de Sodoma e de Gomorta, do que para aquela cidade".
7. E chamou a si os doze e começou a envió-los dois a dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos atrasados, 8. e ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, exceto um só bordão; nem alforge, nem pão, nem dinheiro na cintura;
9. mas que fossem calçados de sandálias e que não vestissem duas túnicas.
10. Disse mais a eles: "Em qualquer casa onde entrardes, permanecei ali até que vos retireis do lugar.
11. E se algum (lugar) não vos receber, nem vos ouvir saindo dali sacudi o pó da sola de vossos pés em testemunho contra eles".
1. Convocando a si os doze, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os espíritos desencarnados e para curarem doenças,
2. e enviou-os a pregar o reino de Deus e a curar.
3. E disse-lhes: "Nada leveis para o caminho, nem bordão, nem alforge, nem pão, nem prata, nem tenhais duas túnicas.
4. Em qualquer casa em que entrardes, nela ficai e dali partireis.
5. E qualquer (local) que vos não receber, ao sair da cidade, sacudi o pó de vossos pés, em testemunho contra eles.
Tal como faz no "Sermão do Monte", Mateus conservou-nos, de seguida, uma série de recomendações atinentes à pregação da Boa-Nova, por parte dos Emissários, enquanto nos outros evangelistas as encontramos esparsas.
Podemos dividir a alocução de Mateus em cinco partes principais. Em nosso texto apenas as enumeraremos.
São elas: A - Instruções (vers. 5 a 15);
B - Avisos (vers. 16 a 23);
C - Encorajamento (vers. 24 a 33);
D - Dificuldades (vers. 34 a
39) e E - Recompensas (vers. 40 a 42).
Muitas coisas foram ditas sob o império das circunstâncias da época, e necessitam ser atualizadas. À recomendação de "não seguir pela estrada dos gentios nem entrar nas cidades dos samaritanos, mas só falar às ovelhas perdidas da casa de Israel", pode bem substituir-se hoje: "não pretender fazer prosélitos de outras religiões, tirando-os de suas crenças, mas falar apenas àqueles que estiverem insatisfeitos e perturbados em sua própria religião". " Os doze" é fórmula frequente em Marcos (4:10; 9:34; 10:32; 11:11; 14:10,17,20,43) e em Lucas (8:1; 9:2; 18:31; 22:3,47; AT
A partir deste momento os doze se tornam efetivamente Emissários de Jesus, e Este os instrui sobre o comportamento durante a viagem. Essas recomendações voltarão, quando do envio dos 72 discípulos, mais adiante.
Marcos esclarece que eles foram mandados "dois a dois", tal como é dito a respeito dos setenta e dois.
O tema básico da pregação é ainda a fórmula do Batista (MT
Além disso recebem os doze a ordem taxativa de curar os enfermos ressuscitar os mortos, de limpar os corpos (da lepra) e os espíritos (dos obssesores). Tudo isso deve ser feito, sem que jamais se pense em retribuição de qualquer espécie, mormente financeira: de graça recebestes (este dom) de graça dai(-o a todos os que vo-lo pedirem).
Até aqui a concordância dos três sinópticos não oferece dúvida. Mas na enumeração do que devem levar ou não, no caminho, há certas discrepâncias. Concordam em proibir: a) dinheiro; b) alforge (com víveres) e c) d túnicas, Entretanto Mateus e Lucas proíbem o bordão, enquanto Marcos o recomenda;
Mateus proíbe as sandálias, Marcos as autoriza e Lucas silencia a respeito Analisemos o texto.
Falando no dinheiro, Marcos diz "bronze", Lucas escreve "prata" e Mateus especifica "nem ouro (krysón) nem prata (argyrón) nem bronze (kalkón). Nesses materiais eram cunhadas as moedas, segundo seus valores, sendo que de bronze eram confeccionadas as moedinhas de pequeno valor.
Traduzimos "na cintura" (e não no "bolso", nem na "bolsa"), pois era a cintura (ou às vezes o turbante) o local utilizado para carregar as moedas, quer colocadas em pequenos sacos, quer numa cava costurada para isso na cintura da túnica. Já expressamos (vol.
2) nosso pensamento, quanto à tradução dos Evangelhos, como deve ser feita: com toda a clareza e fidelidade em termos da língua atual, mas que dêem com a máxima exatidão o sentido da época. Falar em bolsas ou bolsos seria anacronismo, pois o que na época se utilizava não era o que hoje entendemos com essas palavras. E não só entre israelitas se carregava o dinheiro na cintura, pois Horácio (Epíst. II. 2,
40) escreve: ibit eo quo vis, qui zonam pérdidit, isto é, "irá aonde quiseres, quem perdeu a cintura", ou seja, o dinheiro.
As sandálias ou alpercatas também são proibidas em Mateus, que as chama hypodêmata (sola de couro ou de madeira, amarrada aos pés), mas são autorizadas em Marcos, com a expressão: hypodedeménois sandália, "amarrando sandálias sob os pés". " Vestir duas túnicas " era costume de viagem, para proteger-se do frio à noite, servindo a segunda de" muda", enquanto se lavava a de baixo, que estava suada.
Ao chegar à localidade, mister informar-se de alguém que fosse "digno" (áxios), e nessa casa se permaneceria todo o tempo, pois ausentar-se dela constituiria, segundo o hábito israelita, ofensa ao hospedeiro.
Ao entrar na casa, a primeira coisa a fazer é "saudar" seus moradores (Mateus: aspásasthe), fórmula simples que Lucas (Lucas
Se o emissário cristão não fosse recebido, devia fazer o que era hábito de todo o israelita, quando regressava à Palestina proveniente de terras pagãs: sacudia o pó da roupa e dos pés, para não conspurcar a Terra Santa. Paulo e Barnabé (AT
A memória do cataclismo de Sodoma e Gomorra permanecia viva, e era julgado como o mais terrível castigo da impiedade. Pois menos rigor haveria para essas cidades, que para aquela que não recebesse os enviados do Mestre.
No entanto, a permanência em cada localidade devia ser curta. A tradição da época, registrada da Didach é (11:
1) prescreve um dia ou, no máximo, dois, acrescentando que "aquele que permanecer três dias é falso profeta".
O "dia do carma" (krisis) não se refere ao "juízo final", mas à colheita do resultado das ações feita por meio da frequência vibratória de cada um: de acordo com as ondas básicas (tônica) de cada ser, será ele atraído para este ou para aquele local, tal como as ondas hertzianas que penetram no aparelho de rádio-receptor de acordo com a sintonia em que este se encontra.
Se as ações forem na linha do bem (na direção do Espírito) a colheita será alegria e paz; se forem no sentido do mal (matéria ou satanás) o resultado colhido (carma) será dores e sofrimentos. Essa triagem, essa "separação" (Krísis) é exatamente o carma automático, pois a Lei já estabeleceu tudo de antemão, e não é necessário que ninguém faça julgamentos. A humanidade de hoje não precisa mais dessas figurações infantis: já está madura para receber a verdade sem distorções. Então, de acordo com o carma será o estado de espírito dos seres, vibratoriamente separados segundo suas tônicas.
Há um verbo grego (krínó) que é sistematicamente traduzido nas edições correntes por JULGAR; e seu substantivo (krísis) é sempre transladado por JULGAMENTO ou JUÍZO.
Estudemos esses termos, que são de capital importância na compreensão do ensino de Jesus.
O verbo KRÍNÔ apresenta os sentidos básicos de: separar, fazer triagem, escolher, decidir, resolver e, por analogia e extensão, julgar.
O substantivo KRÍSIS exprime fundamentalmente: ação, separação, triagero, escolha, o resultado da ação de escolher, decisão, donde, por analogia e extensão, julgamento, ou juízo.
& Scott, Greek-English Dictionary", Oxford, 1897"; e "Sir Monier Monier-Williams, A Sanskrit-English Dictiona, y, Oxford, 1960", pág. 258 e pág. 300.
KRÍNÔ e KRÍSIS (assim como o latim CERNO) vêm da raiz sânscrita KRI, que significa: agir, fazer, causar, elaborar, construir, escolher, etc.
Dessa mesma raiz KRI deriva o substantivo sânscrito KARMA, que exprime: ação, realização, efeito, resultado da ação escolhida, escolha, e cujo sentido é perfeitamente compreendido pelos estudiosos do espiritualismo, ou seja: CARMA é a consequência (boa ou má) de uma ação (boa ou má) que a criatura tenha realizado por sua livre escolha.
Verificamos, pois, que traduzir sistematicamente KRÍNÔ e KRÍSIS por "julgar" e "julgamento" (sentidos analógicos e extensivos) é, em muitos casos, forçar o sentido e até desvirtuá-lo totalmente.
EXEMPLOS - "O Pai a ninguém julga, mas deu todo julgamento ao Filho" (JO
Apliquemos a tradução lógica (não a "analógica") e vejamos: "O Pai a ninguém escolhe, mas deixa toda escolha ao filho". Aí o sentido procede: justamente por ser imanente em todos, o Pai Impessoal a ninguém escolhe, porque a todos, "bons e maus, justos e injustos" (cfr. MT
Se nesse trecho traduzíramos KRÍNÔ por "julgar", haveria frontal contradição com os seguintes textos: a) JO
Substitua-se, porém, nesse passo, a tradução analógica pela lógica, e o sentido se torna claro, óbvio, compreensível: "vós escolheis segundo a carne (as aparências); eu não escolho ninguém; mas, se escolho alguém, é verdadeira minha escolha, porque não estou só, mas eu, e o Pai que me enviou".
b) JO
No trecho que aqui comentamos, compreendemos perfeitamente que não pode haver um "dia do juízo", interpretação que deu margem à invenção de um "juízo particular" e de um "juízo universal", quando "o mundo terminaria". Esses absurdos anticientíficos e antilógicos não mais podem ser aceitos hoje. Não haverá "fim do mundo", pois no máximo poderá ocorrer um "fim de ciclo", que coincide com o movimento pendular do eixo do planeta, cada 26. 000 ou 28. 000 anos. No entanto, há comprovadamente a época da "colheita de resultado de nossas ações" a cada término de existência terrena, ou seja, "o dia do carma", assim como, a cada fim de ciclo, haverá uma triagem (separação) de acordo com as vibrações de cada um. Portanto, a melhor tradução do trecho, em termos atuais, para compreendermos o que Jesus ensinou, é exatamente "o dia do carma", isto é, "o dia da colheita (krísis) dos resultados de nossas ações, boas ou más".
Isto porque, a cada pessoa ou coletividade, "será dado segundo suas obras" (cfr. MT
Ao ler este primeiro trecho, temos a impressão de estar recordando as recomendações que são feitas àqueles que, emissários do Alto para a Terra, reencarnam com tarefas específicas de evangelização.
Os que costumamos chamar de "espíritos missionários aí encontram as diretrizes básicas de seu comportamento: desprendimento total e absoluto de tudo o que pertence ao plano material, inclusive às pessoas físicas e às organizações religiosas. A tarefa é específica: ensinar a proximidade do reino dos céus, que se encontra dentro de cada um. Se não for aceito num local, numa família, saia para os outros, para todos os que estão "perdidos", isto é, desorientados. Nessa passagem rápida, distribuir PAZ, saúde, luz e amor, sem nada esperar de volta.
Ensina-nos o trecho que nenhuma preocupação devemos ter com a personalidade transitória, que fenece como a erva do campo. O aceno ao "dia do carma" esclarece que na colheita do resultado das ações é muito mais levada em conta a atitude espiritual (recusa de espiritualizar-se) do que os atos físicos do corpo, os erros do sexo (Sodoma e Gomorra) e as imperfeições sempre naturais a quem é imperfeito. O ato de recusar o convite para espiritualizar-se ("pecado contra a Espírito") é que constitui a condenação, não como castigo, mas porque isso vem assinalar externamente a direção interna de seu caminhar. Se a criatura está caminhando para o sul e, embora convidada, recusa ir para o norte, está condenada a jamais chegar ao norte; assim, se caminhar para a matéria ("antissistema") e recusa voltar-se para dirigir-se ao Espírito ("Sistema"), fica ipso facto "condenada", porque "peca contra o Espírito" (LC
Resumindo: todo aquele que pretende dedicar-se à vida real do Espirito, tem que desprender-se (desapegarse) de tudo quanto é material: dinheiro, roupa, calçado, comidas, etc., vivendo apenas para fazer o bem: curando, ressuscitando, limpando, distribuindo PAZ, tudo "de graça", sem esperar retribui ção. Só o Espírito vale: a personalidade é precária e transitória.