Sabedoria do Evangelho - Volume 3

CAPÍTULO 22

INSTRUÇÕES AOS EMISSÁRIOS - PARTE V



MT 10:40-42


40. Quem vos recebe, a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou.


41. Quem recebe um profeta por ser profeta, receberá o recompensa do profeta; e quem recebe um justo por ser justo, receberá a recompensa do justo.


42. Quem der de beber, ainda que seja um copo de água fria a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que de nenhum modo perderá sua recompensa.

O trecho final das instruções a Seus emissários revela as recompensas daqueles que os receberem.

Conforme disse Jesus em outro passo: "Como me enviaste, Pai, assim eu os envio" (JO 17:18), aqui é dito: "quem vos recebe a mim recebe; e quem me recebe, recebe aquele que me enviou". É uma sequência em que vemos:
1) o Pai;
2) o Cristo;
3) os emissários;
4) os que os recebem, todos reunidos num interesse comum, facilitando assim a entrada em contato dos homens com o Pai.

A expressão "receber um profeta por ser profeta" está, no original, literalmente: "recebe um profeta em nome (na qualidade) de profeta", expressão que corresponde ao hebraico leschêm. Para bem fixar o ensino, Jesus o repete três vezes: um profeta, um justo, um discípulo.


No último exemplo, já não se requer nem mesmo a hospitalidade, mas até um simples favor de quase nenhuma importância: dar um copo d"água fresca, afirma o Mestre, se for dado por ser seu discípulo, terá sua recompensa.

Manifesta-se com essas frases o lado positivo da Lei de Causa e Efeito (Carma), garantindo-se que todas as causas colocadas produzirão infalivelmente seu efeito correspondente e equivalente.

Ainda aqui a individualidade declara que a personalidade que a recebe (hospeda), automaticamente receberá o Cristo Interno; e quando esse contato for estabelecido, imediatamente se realizará a unifica ção com o Pai ("se alguém me amar... meu Pai o amará, e nós viremos a ele e habitaremos nele", JO 14:25). Vamos procurar esclarecer melhor. Quando a personalidade resolver receber em si mesma o Espírito (emissário do Cristo), ipso facto ela receberá o próprio Cristo Interno (entrando em contato com ele), e por esse passo, automaticamente receberá o Pai que em nós habita, dando-se a unificação. Isso não se dará se a personalidade se recusar a receber o Espírito (individualidade), por estar demais envolvida e preocupada com a própria personalidade, com seu eu pequeno e transitório.

Quem se volta para o lado de fora, não pode receber (entrar em contato) com o lado de dentro. Quem caminha para a periferia, não pode chegar ao centro. Quem se dirige para o que morre (ocidente) não pode encontrar o que nasce (oriente). Isto não quer dizer que quem recusa receber o seu próprio Espírito não no tenha: tem-no sim. Mas nada quer com ele, que se vê rejeitado (cfr. o que dissemos à página 85).

A seguir fala-se das recompensas do Espírito, na personalidade dessa existência terrena ou de outras existências sucessivas; pois terminando a personalidade com a desencarnação, ela só poderá ser recompensada na mesma encarnação ou no prolongamento de sua existência como personalidade desencarnada no plano astral; não se dando tal caso, a recompensa - ou privação - só pode verificar-se na nova personalidade que se constituirá com o novo nascimento na matéria. No entanto, O Espírito (a individualidade) que receberá as consequências de seus atas, é a mesma, seja qual for a personalidade através da qual se manifeste (seja qual for a "máscara" atrás da qual se esconda). A identidade do EU é real apenas quanto ao Espírito: o eu pequeno personalístico muda a cada nova encarnação.

Ensina-nos, então, o Mestre que, quando uma personalidade (guiada pela individualidade) recebe ou hospeda um profeta (médium), considerando o fato de ser ele um profeta (médium) e não simplesmente na qualidade de homem, faz jus à recompensa do próprio profeta. O mesmo se diga quanta ao justo e quanto ao discípulo.

Importantes os três graus apresentados: a) o profeta (médium) é um simples intermediário de outros espíritos, um medianeiro, embora seu trabalho constitua obra meritória de grande alcance no setor humano, pois pode com isso elucidar questões e dar orientações importantes para a evolução pessoal e coletiva; b) o justo é aquele que sabe discernir o bem do mal e tem capacidade e força suficientes para só fazer o bem, evitando qualquer mal. Seu comportamento é irrepreensível certo, correto, nobre e elevado; c) o discípulo do Cristo é a criatura que já conseguiu a união com o Eu Profundo e que, portanto, já se encontra "realizado". A este, então, bastará o mínimo de ajuda no plano material (dar um simples copo d’água fresca), para merecer uma recompensa. E isso porque, quem recebe um "discípulo do Cristo", recebe ao próprio Cristo que é Quem nele age e, ipso facto, recebe o próprio Pai Amoroso e Bom.

Compreendamos então: o "espírito" encarnado que sentir em si a ação do Espírito e se dispuser a recebé-lo (aceitá-lo), vivendo de acordo com as intuições recebidas dele e correspondendo a seus apelos - quer como médium, quer como justo, quer como "discípulo do Cristo" - esse "espírito" receber á as recompensas a que fazem jus esses graus e evoluirá de conformidade com a aceitação que der ao hóspede divino em si. A Centelha Divina (ou Cristo Interno), nosso verdadeiro Eu Profundo, já é evoluído por si mesmo, pela sua condição de Centelha Divina; mas o Espírito (individualidade) está fazendo sua evolução, servindo-se do "espírito" encarnado como de um veículo, por meio do qual dever á atingir a meta. O Espírito é o Emissário do Cristo Interno junto ao "espírito" encarnado. E esse receberá a recompensa pelo que fizer de positivo em favor da evolução do Espírito (individualidade) eterno. Ora, acontece que o "espírito" encarnado é, porém, uma simples projeção, em vibração mais baixa, do Espírito Externo, e por isso, mesmo perdendo sua personalidade com a nova encarnação, não perde sua existência REAL e portanto não perderá sua recompensa. O Espírito se projeta em diversas personalidades, através do tempo e do espaço, mas cada projeção é, na realidade, o próprio Espirito Eterno sob diversas formas e modalidades, até que aprenda a renunciar às formas e modalidades externas no tempo e no espaço, para fixar-se no seu próprio íntimo, onde não existem formas, nem modalidades, nem tempo, nem espaço, mas apenas o Eterno, o Infinito e o Imutável: o Cristo Interno, seu verdadeiro EU, partícula do Todo, Centelha Divina.