22. Em seguida obrigou os discípulos a embarcar e passar primeiro do que ele para o outro lado, enquanto ele despedia o povo.
23. Tendo despedido o povo, subiu sozinho ao monte para orar. E à noitinha achava-se ali só.
45. imediatamente obrigou seus discípulos a embarcar e passar adiante, para o outro lado, para Betsaida, enquanto ele despedia a multidão.
46. E tendo-se separado dela, foi ao monte para orar.
14. E vendo os homens a demonstração que Jesus fizera, disseram: "Este é verdadeiramente o profeta que vem ao mundo".
15. Percebendo Jesus que eles estavam para vir apanhálo, a fim de fazê-lo rei, retirouse novamente para o monte, ele só.
Aqui encontramos uma expressão estranha, repetida nos dois sinópticos: Jesus obrigou (énágkase) os discípulos" ... Por que haveria necessidade de obrigá-los, a eles que parecem ter sido sempre dóceis e obedíentes? Parece que a causa é revelada por João. Vejamos: Com a maravilhosa demonstração de poder (tò sémeion) que foi a multipilcação dos pães e peixes, a massa popular composta exatamente de agricultores e pescadores entreviu um paraíso na Terra: não haveria mais necessidade do duro labor nos campos na plantação e na colheita sempre duvidosa! Não mais as noites frias e chuvosas no lago à procura de peixe! Ali estava quem poderia fornecer para sempre ao povo pão e peixe sem trabalho! era só fazê-Lo "rei"! Moisés não alimentara os israelitas no deserto, anos a fio, com pão caído do céu todas as manhãs (cfr. EX
Ora, isso constituiria uma subversão total da missão puramente espiritual de Jesus ("o meu reino não é deste mundo", JO
3) e que foram massacrados por ordem de Pilatos (cfr. LC
Era indispensável obviar a essa dificuldade com rapidez e energia. Talvez os próprios discípulos, atônitos com a multiplicação de pães e peixes (tanto que mais tarde não na haviam ainda compreendido (cfr. MC
Dai Jesus dizer-lhes que "fossem para a outra margem", a cuja sugestão quiçá tivessem reagido, já influenciados pelo desejo de colocá-Lo no "lugar merecido"; e isso forçou Jesus a constrangê-los com uma ordem taxativa e firme, que os evangelistas traduziram pelo verbo "obrigar": eles foram contra a vontade.
1) os que negam a existência, interpretam prós Bethsaidan como "na região fronteiriça a Betsaida", sentido possível da preposição grega prós (cfr Tucídides, História, 2,55: hê prós Pelopponéson, "a qual é fronteira ao Peloponeso). Assim traduzem Lagrange João Marta, Abel, Pirot, etc. E perguntam eles: se os discípulos iam para Betsaida, por que diz João "que se dirigiam para Cafarnaum (JO
2) os que afirmam a existência de outra Betsaida (van Kasteren, Patrizzi, Knabenbauer, Fillion.
Meistermann. Rose, Buzy e outros), trazem os seguintes argumentos: a) a existência de Bethsaida-Júlias (hoje el-Tell) a dois km ao norte de el-Aradj, é coisa certa: a cidade foi reconstruída pelo tetrarca Filipe, que lhe acrescentou o cognome Júlias em homenagem à filha de Augusto; b) João, no início de seu Evangelho (1:
44) diz que o discípulo Filipe "era de Betsaida"; mais tarde (12:
21) especifica melhor, que "era de Bétsaida da Galileia". Ora. Betsaida-Julias ficava na província de Gaulanítida, e não na Galileia. E João devia conhecer bem a região... não iria confundir duas províncias.
c) Neubauer ("La Géographie du Talmud", pág.
225) e Strack-Biller-beck, o. c. pág.
605) citam a existência de uma localidade, não longe de Cafarnaum, em Ain-Tabgha ou Khan Minyeh (ao norte do Tell Oreimeh) denominada Saydethah, que eles supõem ser a Beth-Saida do Evangelho, e que ficava exatamente na Galileia.
Depois que os discípulos partiram, Jesus convenceu o povo a ir para casa, e Ele mesmo subiu ao monte para orar sozinho, segundo seu hábito.
Acontece com frequência que o público que cerca os "pregadores" se entusiasma e quer "homenageálos" com posições destacadas, com títulos honrosos, ou convencê-los a arriscar-se em cargos eletivos na política. Jesus exemplificou que se deve fugir dessas situações com energia e rapidez, "obrigandoos" a retirar-se "para a outra margem".
No outro sentido mais profundo, verificamos algo mais sério. Quando a individualidade consegue manifestar-se por intermédio de nossa personalidade, realizando algo mais fora do comum, a personalidade quase sempre se envaidece e começa a acreditar-se "missionário", um "enviado divino", certo de que é superior às demais criaturas "vulgares", que é um "privilegiado" com direitos adquiridos e merecimento garantido. Os veículos físicos se exaltam: o intelecto raciocina sobre tudo isso para cada vez mais convencer-se de sua superioridade, e complacentemente ouve e acredita nas mais mirabolantes histórias de encarnações passadas grandiosas; as emoções e sensações se comovem e incham, e para combater isso, só há um remédio: mandá-los "afastar-se para a outra margem", e retirar-se para uma região mais elevada (monte) a fim de entrar em contato com a Divindade, por meio da oração e da meditação.
É mister separar-se de tudo o que é material, para compreender as proporções reais da perspectiva; entrar no plano das realidades espirituais, para perceber as ilusões terrenas.
Assim em cada fato, em cada episódio do Evangelho, há uma lição preciosa, oportuna e profunda, exemplifícada pelo Mestre Inolvidável, o Cristo Divino que vive em nossos corações e que se manifestou plenamente em Jesus, que soube aniquilar sua personalidade para deixar o Cristo Divino exteriorizarse.