38. Perguntou-lhe João, dizendo: "Mestre, vimos alguém expulsando espíritos atrasados em teu nome e lho proibimos, porque ele não nos acompanha".
39. Mas Jesus disse: "Não lho proibais. Pois ninguém há que faça trabalho em meu nome, e possa logo depois falar mal de mim.
40. Quem não é contra vós, é por vós.
41. E quem vós der de beber um copo de água em (meu) nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo, de modo algum perderá sua retribuição".
49. Tomando a palavra, João disse: "Mestre, vimos alguém expulsando espíritos atrasados em teu nome, e lho proibimos porque não nos acompanha.
50. E disse Jesus: "Não lho proibais, pois quem não é contra vós, é por vós".
As últimas palavras de Jesus, "receber em meu nome", fizeram que João se recordasse de um episódio que com ele se passou, embora não possamos saber a ocasião nem o local, que os narradores silenciaram.
Sabemos, realmente, que a tolerância não era a característica fundamental, naqueles primeiros anos ardorosos de juventude, de João e de seu irmão Tiago (cfr. LC
Foi-lhes chocante, pois, e aborreceu-os fortemente o fato de uma criatura, que não seguia o Mestre, expulsar um obsessor em nome de Jesus: Imediatamente eles se aproximaram e o proibiram de continuar com esse "abuso". Julgavam que, com isso, estavam defendendo a honra do Mestre querido, e, ao mesmo tempo, pretendiam garantir para si e para seus companheiros, o "privilégio" do uso exclusivo do nome de Jesus, como um monopólio religioso... Essa mentalidade teve (e tem!) numerosos seguidores, sobretudo na 1dade Média e nos tempos que se lhe seguiram, não se conseguindo, porém, até hoje extirpá-la totalmente, entre os cristãos de todos os matizes.
Pela frase de João temos a impressão de que esse exorcista operava com êxito, coisa que não ocorreu com os filhos do sacerdote Ceva (Cfr. AT
Com a ordem de Jesus, de que fossem recebidas as crianças em Seu nome, João sente que talvez tenha agido precipitadamente, e pede a opinião do Mestre, que a dá com franqueza, ensinando que se deve olhar a intenção, e que esta não deve ser prejulgada má à primeira vista.
A frase de João, que mantivemos na tradução: "e lho proibimos porque não nos acompanhava" (kai ekôlyomen autòn, hóti ouk êkoloúthei hêmin) baseia-se nos códices aleph, E, delta, theta, e é seguida por Vogels, Swete, Huby, Pirot e outros.
A regra de Jesus é clara; "quem não é contra vós, está do vosso lado: é a vosso favor"; e torna-se evidente que, se alguém trabalha em nome de Jesus, não pode, logo a seguir, falar mal dele. Realmente, só o fato de usar o nome de Jesus prova bem que é ou pelo menos pretende ser, seu discípulo.
E para salientar que não há necessidade de "seguir" a doutrina, mas basta um simples ato de humanidade para atrair bênçãos, acrescenta uma imagem corriqueira da vida diária: basta que vos dêem um copo d’água em meu nome, porque sois de Cristo.
Aparece o possessivo "meu" em aleph, C2, D, X, gama, delta, e pi2. Outra observação; aqui é o único passo dos sinópticos em que "Cristo" aparece sem artigo; só mais tarde, em Paulo, é que o encontramos assim (cfr. Rom. 8;9; l. ª Cor. 1; 12 e 3:23; 2. ª Cor. 10;7).
A preocupação máxima da personagem egoística, que vive e vibra no mundo divisionista da matéria, é manter ciosamente os "direitos" conquistados. Ignora que "onde começa o direito, termina o amor" (Pietro Ubaldi). A individualidade, que sabe e reconhece que é una com o Cristo Cósmico e portanto com todas as individualidades que existem, é que ama sem limitações de "direitos", conhecendo apenas humilde e desprendidamente seus deveres do serviço.
A lição, pois, procede plenamente. Vemos a personagem humana, exaltada pelo ciúme (que frequentemente se camufla com o eufemismo de "zêlu") a protestar e perseguir, sob a alegação de que não pode falar e agir em nome do Mestre quem não for seguidor da escola que os homens regulamentaram e impuseram como sendo a única que é "dona" de Jesus, muito embora na prática venham a contradizer os ensinos teóricos do Mestre. Tudo isso, porém é sobejamente conhecido, para que percamos tempo em comentários.
Quando a humanidade tiver evoluído suficientemente para superar a fase materialista e divisionista das personagens transitórias, ela compreenderá que "tudo está cheio de Deus" (pánta plêrê theôn, Aristóteles, Anima, 4. 5,411 a 7), e que o caminho que leva a religar-nos a Deus, é o CRISTO UNIVERSAL (Cósmico), sob qualquer das denominações por que Se tenha manifestado a nós, em qualquer época, em qualquer clima: "Eu sou o CAMINHO da Verdade (Pai) e da Vida (Espírito-Santo) (JO
Só através do Cristo Cósmico teremos a verdadeira união fraternal de todos ("todos vós sois irmãos", MT
A lição da tolerância é o passo inicial da lição da compreensão total, que a todos FUNDE no amor.
Passo inicial, porque "tolerar" supõe ainda pretensa superioridade em quem "generosamente" tolera, embora a contragosto. O passo final é a fusão, a unificação de todos - cada qual permanecendo em sua própria linha evolutiva - no grande rebanho, com o único Pastor, o CRISTO: "EU SOU O BOM PASTOR" (JO
Todos aqueles que não se opõem frontalmente ao trabalho crístico são a ele favoráveis, porque, se não ajudam, pelo menos não obstam à tarefa.
Quando o homem deixa de pertencer a si mesmo, no egoísmo separatista e passa a ser DE CRISTO (Cfr, 1. ª Cor. 6:19-20), começa aí, realmente, o caminho intérmino e maravilhoso, cheio de amor e inçado de espinhos e dores; começa aí sua crucificação consciente na carne, que lhe já não constitui o máximo de prazer, mas que se torna a "gaiola", embora dourada, que o impede de voar; começa aí a verdadeira porta da iniciação, e por isso o Cristo afirmou: "Eu sou a PORTA" (JO
Perspectiva de infinito, que principia quando "voltarmos a ser crianças", e tem seu ponto de fuga na eternidade da Vida.