11. Os judeus, então, procuravam-no na festa e perguntavam: "onde está ele"?
12. E grande murmuração havia a respeito dele entre as multidões. Uns diziam: "Ele é bom". Diziam outros; "Não, antes engana o povo".
13. Entretanto, ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.
Texto privativo de João.
Quando este emprega o epíteto "os judeus", refere-se exclusivamente às autoridades constituídas da religião israelita, que então dominavam; jamais às massas, ao povo. Aqui é dito que estas "o procuravam" nas comitivas dos galileus. E mostraram-se decepcionados ao não encontrar o operário carpinteiro que tanta celeuma levantava.
As opiniões divergiam profundamente, uns julgando-o bom, outros um impostor. Ninguém ousava, contudo, manifestar de público sua opinião (cfr. 7:26; 16:29; 18:
20) porque era grande o medo do "principais sacerdotes" (cfr. 9:22; 12:
42) que tinham sentenciado a morte de Jesus, sob pretexto de blasfêmia (5:18).
O sacerdócio que então dominava e o Sinédrio, em sua maioria, estavam comprometidos com Roma, por cujo intermédio haviam conseguido suas posições políticas de mando. Desde o domínio romano (63 A. C.) . as "raposas" herodianas (cfr. Lc. 13:
22) tinham comprado aos dominadores os cargos, e estes haviam afastado as autoridades legítimas, substituindo-as por elementos "de sua confiança", dispostos a qualquer transação, mesmo de consciência, contanto que não perdessem suas posições de destaque. Contra esses levantava Jesus sua voz (cfr. MT
No entanto, o povo judaico aceitava o Mestre, tanto que as autoridades vendidas aos romanos tinham muito cuidado em não por suas mãos sobre Jesus "diante do povo", pois sabiam que este defenderia com ardor o seu taumaturgo: prisão, pseudo-julgamento castigo e morte foram realizados quase às ocultas, durante a noite e a madrugada, para que o povo ficasse diante do fato consumado, sem poder reagir.
Estabeleçamos, pois, claramente: "OS JUDEUS", em João (e Pedro), são as autoridades que, àquela época, usurpavam as principais posições politico-religiosas de mando, NÃO O POVO.
Neste episódio também descobrimos o lado oposto: o povo que não se manifestava abertamente, com medo dos sacerdotes mais influentes, que já haviam excomungado Jesus e podiam tomar atitudes drásticas sobre aqueles que exteriorizassem sua simpatia pelo galileu. Nas brigas de gigantes, os pequeninos recebem a pior, pois a corda arrebenta sempre do lado mais fraco.
Mostra-nos aqui João o que acontece a todos os "espirituais", quando entram em contato com os "terrenos".
Nesses encontros, aparece a grande diferença entre "psíquicos" e "pneumáticos". Qualquer criatura que passe a viver na individualidade, demonstrando por seus atos - mesmo sem qualquer intenção ostensiva - que compreende o mundo de modo diverso da maioria, ocasiona de imediato discussões e cria pelo menos dois partidos opostos: os "a favor" e os "contra"; os que o adoram, por vezes, até a fanatismo, e os que não acreditam e o combatem até com a calúnia.
Aliás, nem sequer é preciso SER "espiritual" para provocar esses choques: quantos se limitam a falar de espiritualidade, a emitir opiniões até calcadas sobre outros, a imitar vestes, barbas, gestos, cita ções, atitudes (cfr. MT
Esse é o quadro descrito em rápidas e vivas pinceladas por João, quadro que se vem reproduzindo, em clichê, por todos os séculos, até nossos dias.
Não devem assustar, portanto, - se somos sinceros - a assuada do combate nem a conjuração do silêncio, os ataques soezes e as calúnias: são normais. Até pelo contrário: se combatidos e caluniados pelo maior número, teremos a certeza de estar com o Mestre (cfr. MT