Sabedoria do Evangelho - Volume 5

CAPÍTULO 22

"METANOIA"



LC 13:1-5


1. Vieram alguns, nessa mesma ocasião, anunciando-lhe a respeito dos galileus, cujo sangue Pilatos misturou com o dos holocaustos deles.

2. E respondendo, disse-lhes Jesus: "Imaginais que esses galileus se tornaram mais culpados, em comparação com todos os galileus, porque sofreram essas coisas?

3. Não, digo-vos; mas se não mudardes vossa mente, perecereis todos de igual modo.

4. Ou esses dezoito, sobre os quais caiu a torre em Siloé, pensais que eles se tornaram mais devedores, em comparação com todos os homens habitantes em Jerusalém?

5. Não, digo-vos; mas se não mudardes vossa mente, perecereis todos do mesmo modo".



Neste trecho, a lição é dada aproveitando-se o Mestre de dois episódios recentes, ocorridos em Jerusalém, embora nenhum dos dois tenha sido registrado na história. Realmente constituem fatos que, apesar de causa, em impacto nos circunstantes, não possuem em si mesmos amplitude capaz de repercutir no âmbito de uma nação.

A morte dos galileus (quantos? talvez dois...) provocada pela pregação da rebelião contra o domínio romano, era coisa quase comum. Também a crucificação de Jesus (mais um galileu!) não foi registrada pelos historiadores (um fato banal na vida cotidiana), sendo-o a de João Batista (Flávio Josefo, Ant. JD 18:5-2) por motivos políticos. Segundo esse autor, os galileus eram agitados (Ant. JD 17:9-3) e o então governador da Galileia, Pôncio Pilatos, tinha a mão pesada (Ant. JD 18:3-2).

Também a torre, isto é, algum torreão da muralha de Jerusalém. na região que ficava perto da piscina de Siloé, e que - talvez enfraquecida e carcomida em seus alicerces pelas águas do rio Gihon, subterrâneo, que lhe passava por baixo e não podia deixar de ter ação erosiva - ruíra, soterrando dezoito moradores sob seus escombros. Fato sem gravidade suficiente para ser catalogado na história de um povo.


Tal como no capítulo anterior, também aqui os fatos são citados apenas como justificativa dos ensinos, julgados dignos de registro; e o fundamento do ensino é duplo:


1) as catástrofes e calamidades não atingem somente os culpados, nem mesmo os mais culpados;


2) todos os culpados sofrerão as consequências de seus erros.


Há, pois, duas conclusões a tirar desses ensinos:

1. ª - Sendo as catástrofes e cataclismos da natureza efeitos de causas físicas, nem sempre é possível evitar que atinjam, juntamente com os culpados, outros que o não sejam, ou que o sejam menos. Mesmo porque o sofrimento e a dor não são apenas resgate: são também estímulos evolutivos. Aliás, já vimos que "resgate", propriamente, não existe, mas apenas aprendizado e experiência (cfr. 4:7).

2. ª - Como consequência dessa primeira conclusão, verificamos que, obviamente, todos os errados receberão oportunidades de correção e aprendizado, como condição de progresso. A alternativa é dada com clareza e reforçada repetição das mesmas palavras, após dois exemplos distintos: a) ou o errado "muda sua mente" (eàn mê metanoête), isto é, opera a metánoia, passando a vibrar em tônica mais elevada e portanto corrigindo-se a si mesmo e aprendendo espontaneamente; ou b) será constrangido pela Lei a fazê-lo, embora contra sua vontade: "se não modificardes vossa mente, perecereis todos de igual modo", isto é, violentamente.

O aviso realizou-se realmente no ano 70, com a destruição de Jerusalém por Tito, que assassinou com violência praticamente todos os habitantes de Jerusalém.

Para um Mestre verdadeiro, qualquer episódio torna-se fundamento para uma lição.

No campo iniciático, vemos a necessidade absoluta de dar o terceiro passo (metánoia) para que possa iniciar-se a libertação progressiva dos carmas negativos.

Interessante anotar o número dezoito. Voltaremos a ele em breve.

A lição expõe, portanto, a inevitabilidade da lei de causa e efeito, em seus fundamentos e particularidades.