Sabedoria do Evangelho - Volume 5

CAPÍTULO 31

QUEIXA DE JERUSALÉM



MT 23:37-39


37. "Jerusalém, Jerusalém, a matadora dos profetas e apedrejadora dos que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos, como uma galinha aconchega seus pintinhos sob suas asas, e não quiseste! 38. Eis que vos é deixada deserta vossa casa.

39. Digo-vos, pois, que desde agora não me vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do senhor".

LC 13:34-35


34. "Jerusalém, Jerusalém, a matadora dos profetas e apedrejadora dos que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis ajuntar teus filhos como uma galinha aconchego seu ninho sob as asas, e não quiseste!

35. Eis que vos é deixada vossa casa. E digo-vos que não me vereis até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor.



O mesmo trecho foi colocado em dois contextos diferentes. Mateus o narra em sequência aos "ais" lançados contra os fariseus. portanto, como tendo sido pronunciado na própria Jerusalém, depois do "domingo de ramos". Lucas o liga ao aviso a respeito das intenções assassinas de Herodes, por conseguinte, como proferido na Peréia. Esta segunda colocação responde muito melhor à crítica interna, além do que, Lucas é mais cuidadoso que Mateus na sequência cronológica.

Outra observação é a forma hebraica, reproduzida nos códices gregos: Ierousalém (ao invés de Ierosólyma, como era dito em grego). Em Mateus esta é a única vez que aparece a forma hebraica, pois nos outros lugares (11 vezes) está a forma grega. Já em Lucas, é mais frequente a forma hebraica que a grega, o que não deixa de ser estranho, sendo Mateus israelita e Lucas grego.

Traduzimos como adjetivos ativos "matadora" e "apedrejadora", os particípios presentes ativos femininos hê apokteínousa e lithobólousa, por falta de correspondência em português dessas formas verbais.

Chamamos a atenção, ainda, para o "lhe" (prós autên) na terceira pessoa, no meio de uma apóstrofe vocativa. Conservamo-lo em português, preferindo pequeno solecismo, a quebrar a beleza do original em sua singela simplicidade, pois a frase nada perde em clareza.


Os hermeneutas vêem no texto uma alusão à perspectiva da morte próxima, mas não aceitam que o final "não me vereis até que digais bendito o que vem em nome do Senhor" (cfr. Salmo 118:26) possa referir-se à "entrada triunfal" em Jerusalém, no domingo antes da paixão. A alegação é que Mateus coloca o episódio depois desse dia (o que não convence, pois sabemos que foi proferida a invectiva antes). Mas há outra razão: o período entre a apóstrofe e a entrada seguinte em Jerusalém (dizem eles)

é muito curto (três meses, no máximo) para justificar uma profecia em forma de ameaça tão solene. A opinião mais generalizada é que o dito se refere a uma vinda triunfal "no final dos tempos". Mas aí teríamos um erro na predição, já que a ida a Jerusalém daí a três meses - e com essa mesma frase cantada pele povo - desmentiria a profecia. Pensamos se refira exatamente a essa "entrada" que estudaremos mais adiante (MT 21:1-11; MC 11:10; LC 19:38).

A imagem da "galinha que aconchega seus pintinhos" (tá nossiá, Mat) ou "seu ninho" (tén nossián, Luc), é bela, delicada, original.

A "casa deserta" parece referir-se às palavras de YHWH a Salomão (1RS 9:7-9), "exterminarei Israel da Terra que lhe dei e expulsarei de minha visão o templo que consagrei a meu nome, e Israel será motejo e riso de todos os povos. E por mais alto que seja este templo, quem quer que passe diante dele assobiará de pasmo e dirá: Por que YHWH fez isto a este templo e a este país? E responderão: Porque abandonaram YHWH, seu elohim, que tirou seus pais do Egito, e ligaram-se a outros elohim, diante deles se prostraram e os adoraram; eis porque YHWH fez vir sobre eles todos esses males". Sabendo, como sabemos, que Jesus é a encarnação de YHWH, compreendemos plenamente tudo o que ocorreu. E a previsão feita refere-se, evidentemente. à destruição de Jerusalém em 70 A. D. e à consequente dispersão dos israelitas por outros países perdendo o domínio da Palestina, só reconquistado recentemente, no final do ciclo, "pois YHWH se compadecerá de Jacob, ainda recolherá Israel e os porá na própria terra deles" (IS 14:1).


A triste frustração dos grandes instrutores e Manifestantes divinos, ao verificar a rebeldia dos homens, é aqui expressa com todo o sentimento de dor. Quantos grandes Iniciados e Adeptos da Fraternidade Branca desçam entre os homens, tantos são sacrificados, perseguidos, assassinados. E isso, não apenas na antiguidade, classificada pelos historiadores atuais como "bárbara", mas, ainda hoje, em plena segunda metade do século XX, por homens e em países que se dizem civilizados no mais alto grau. Por mais que esses Emissários, com delicadeza e amor, tentem "ajuntar os homens", como a galinha faz com seus pintinhos, aconchegando-os sob suas asas, eles se rebelam, não aceitam, vão para uma oposição injusta e incompreensível, e voltam contra Eles sua inferioridade negativa típica do Antissistema. Como evitar que a Lei os venha defender, e sua casa se torne vazia?" Eis que YHWH devasta a Terra e a torna deserta, sua superfície revolta e seu, habitantes dispersos

... A terra será totalmente devastada, inteiramente pilhada... A terra está em desolação, quebrada, o mundo enfraquece e murcha: os chefes transgrediram as leis, violaram as regras, romperam a aliança eterna. Por isso a maldição devora a terra e seus habitantes recebem seu carma; os habitantes da terra são queimados e só pequeno número de homens sobrevive... O pavor, a cova e a rede vão apanhar-te, habitante da terra. Quem correr para escapar ao pavor, cairá na cova; quem sair da cova será pegado na rede, porque as represas do Alto se abrirão e os fundamentos da terra tremerão. A terra é feita em pedaços, a terra estala e se fende, a terra é sacudida, a terra cambaleia como um bêbedo e balança como uma rede de dormir" (IS 24:1, IS 24:3, IS 24:4, IS 24:6-17,-20).

Nada disso, porém, pode classificar-se como vingança nem "retribuição do mal" por parte desses seres superiores. Trata-se de simples efeito da Lei. Aquele que atira pedras para o Alto, em vertical, as recebe sobre sua cabeça, em virtude da própria lei da gravidade. Assim os povos que sacrificam os avatares, ou mesmo Adeptos e Iniciados, não demoram em receber o choque de retorno, pelo efeito da própria Lei, sem nenhuma interferência dos atingidos que, em muitos casos, pedem ao "Pai que os perdoe, porque não sabem o que fazem" (LC 23. 34). De qualquer forma, porém, isso não evita o resultado da Lei, que é inflexível e age automaticamente como a gravidade, que atrai príncipes e mendigos, santos e criminosos, sem distinção. Assim a LEI que destrói homens, nações e planetas, quando estes jogam suas pedras para o Alto, derrubando, por qualquer meio, os Enviados que vêm salvar o planeta: "A Lei trata igualmente, seja uma nação, seja um homem" (34:29).