Depois da chegada à casa do fariseu, e do parênteses da cura do hidrópico, dirigem-se todos para os triclínios, a fim de se reclinarem, para participar do ágape. Vimos que os convivas eram pessoas selecionadas: fariseus e doutores da lei. Jesus também os observa. E vê que à porfia, buscam os "primeiros lugares", isto é, os mais próximos do anfitrião. E aproveita para, delicadamente, dar um ensinamento de humildade. Da mesma forma que curou o hidrópico do corpo, quer agora curar-lhes a hidropisia do espírito.
A lição foi dada com tato, tomando como exemplo um convite para "casamento", onde o rigor da escolha dos lugares é maior que numa refeição informal como aquela. Aconselha, pois, que procurem ocupar os últimos lugares, de modo que (hína tem aqui mais sentido consecutivo que final: se alguém vai para o último lugar a fim de que seja chamado para o primeiro, isso seria uma falsa humildade, e não podemos admitir que Jesus haja ensinado a ser hipócrita) de modo que o dono da casa, se o achar digno, o convide a ocupar lugar mais honroso.
Aqui, sim, dóxa tem exatamente o sentido de "glória", isto é, boa reputação, boa opinião (cfr. vol. 1, vol. 3 e vol. 4).
A razão é dada pela frase que Jesus gostava de repetir: "o que se exalta será humilhado, o que se humilha será exaltado", que já vinha do Antigo Testamento (p. ex., IS
O ensino primordial é que devemos ser humildes. Mas humildade nada tem que ver com humilhação.
Podemos e devemos evitar que nos humilhem, em público ou em particular, pois isso nenhuma vantagem nos trará ao progresso espiritual. Mas sim, SER humildes. Se, fora de nosso controle, nos vier a humilhação, o humilde não sofrerá com isso, nem a julgará humilhação, mas justiça: aceitará calado, considerando que realmente nada vale e, portanto, qualquer que seja o modo com que for tratado, isso lhe parecerá justo. Mas não se procure ser humilhado, pois isso talvez revele o cúmulo do orgulho disfarçado.
O fato, também, de buscar com toda a naturalidade os últimos lugares, deve ser sincero e real, respondendo a uma convicção e necessidade e não com o intuito de ser engrandecido pelo dono da casa.
Essa lição serve, às maravilhas, para os aprendizes da iniciação e para "iniciados" que, pelo fato de estarem entre profanos, julgam merecer acatamento e distorções especiais, em virtude de seus conhecimentos e do caminho que já percorreram na senda.
Aviso oportuno, que deve permanecer sempre presente: na personagem transitória nada somos e nada valemos. Qualquer honraria que nos chegue, seja recebida como um acréscimo de bondade da pessoa que a presta a nós, e não atribuída a merecimento pessoal.
Difícil, mas necessário ser assim. Não nos julguemos merecedores de graças especiais, de favores da espiritualidade e dos encarnados: por mais que tenhamos feito ou realizado, "somos sempre servos inúteis, que fizemos apenas o que devíamos fazer" (LC