Dois versículos apenas. Duas frases. Duas revelações.
Ao ouvir encantada os ensinos proferidos por Jesus, "certa mulher do povo" eleva a voz, louvando a Deus pela felicidade que a mãe daquele homem deve ter sentido, ao ver seu filho um sábio genial nos caminhos do mundo. Em suas palavras encontramos a primeira realização histórica da profecia de Isabel (LC
A resposta é imediata. Nela o filho confirma o louvor feito à sua mãe, salientando, apenas, que "mais felizes" são os que ouvem o ensino de Deus, pondo-o em prática. Isso fez Agostinho escrever (Patrol. Lat., v. 40, c. 398): beatior Maria perficiendo lidem Christi, quam concipiendo carnem Christì, ou seja: "Maria foi mais feliz realizando a fidelidade a Cristo, do que concebendo a carne de Cristo" (isto é, de Jesus).
196d), "a palavra" (Plat., Leis, 892 d), a lei (Sófocles, Traquinianas, 616 e Plat., Política) 292 a).
Essas frases, que se prestam a duas interpretações são, quase sempre, portadoras mesmo de dois sentidos, que serão percebidos pelos que o conseguirem: "quem tem ouvidos, ouça".
O que observamos, com absoluta clareza, no trecho, é a lição dada pelo Mestre àqueles que só percebem a personagem encarnada.
Ao elogio da mulher "do povo" (evolução normal das massas, que vê apenas o físico, a parte material), que salienta a maternidade física, de sangue (o ventre que o carregou e plasmou o corpo físico, e os seios que o amamentaram), o Cristo expõe seu ponto de vista espiritual.
Não há dúvida de que a maternidade que plasma corpos constitui algo de essencial para a evolução do Espírito, e portanto recebe felicidade se seu rebento é um dos Espíritos Santificados. No entanto, muito mais ditoso é aquele que cultiva a individualidade e a faz seguir o caminho iniciático que Ele traçou, aquele que "ouve o ensino" (é a expressão estudada no vol. 4), e aquele que desperta para a vida superior, ingressando conscientemente no quinto plano, o do "super-homem".
Não pode haver, quase, termo de comparação entre os dois planos. Enquanto a personagem, transitória por seu fatal destino de "morrer", desaparecerá, dela restando apenas uma lembrança e um exemplo, a individualidade subirá sem limitações, muito acima do espaço e do tempo.
Feliz, sim, a mãe que vê o filho ascender espiritualmente em sabedoria e amor. Mas muito mais feliz aquela que o vê superar essa personagem que ela forjou e alimentou, por haver conquistado o grau supremo de Filho do Homem, de ser desperto na vida Espiritual, consciente de si e do universo, do micro e do macrocosmo. E feliz sobretudo aquele que não apenas vê os outros atingirem esse grau, mas ele mesmo o conquista para nunca mais perdê-lo, porque "ouviu o ensino de Deus", proveniente do Cristo Interno de seu coração e, tendo-o ouvido, despertou do estado de adormecimento na matéria para o de vigilante (samaritano) no Espírito: que sabe o que sabe e faz o que sabe, porque sabe o que faz.